"Este é mais um daqueles temas que se presta a todas as demagogias. Quais os limites da liberdade de imprensa em economia de mercado? Como se exerce hoje o direito fundamental de liberdade de imprensa?
Se eu tiver dinheiro para fundar um jornal…Se eu conseguir uma coluna de opinião num jornal…Se eu pertencer ao corpo redactorial de um jornal e puder tratar dos assuntos a meu cargo como eu muito bem entendo…
Sim, nestes casos eu serei relativamente livre no exercício daquele direito.
A verdade, porém, é que eu não tenho dinheiro para fundar um jornal; a verdade é que eu não tenho acesso a nenhum órgão de informação, salvo, esporadicamente, de acordo com o critério do director; a verdade é que se eu pertencesse ao corpo redactorial de um jornal teria de me submeter às regras que nele vigoram.
Anormal, quase impossível de acontecer nesta economia de mercado em que vivemos, é que a empresa funcione contra a vontade dos patrões que a detêm. Isso é que certamente não acontece em lado nenhum. Por isso é que os jornais e as televisões são o que são. Relatam os mesmos fenómenos de modo radicalmente diferente consoante apoiam ou contestam o respectivo protagonista.Toda a gente faz isto. Só que os meios de comunicação de maior audiência e “mais responsáveis” procuram fazê-lo de modo a que se note pouco.
Não era isso o que se passava na TVI. Por força da posição que nela tinha J.E. Moniz, homem a quem o cavaquismo muito deve, aconteceu que uma senhora que, por acaso é sua esposa, criou um jornal para fazer uma campanha. Nada contra, se o patrão estivesse a favor. Como o patrão não estava e, pelos vistos, nunca esteve, o desfecho normal do caso foi pôr termo ao referido jornal.
Imaginemos que JM Fernandes, por razões que a nossa mente não desvenda, tinha regressado aos seus tempos de maoísta e transformava o Público, ou a parte noticiosa dele, numa espécie de órgão polpotiano de informação. Dois ou três dias depois, o patrão despedia-o certamente."