"Por essa hora, Luís chegava a Sintra. Há muito que andava para conhecer os meandros da serra, mas foram as últimas leituras que o decidiram. Aquele gigante de cabelos verdes, nascido do mar, tinha inspirado muita gente. Subiu primeiro à Pena, não resistindo à atracção das alturas. Numa viagem de cortar a respiração, os olhos levaram-no da Arrábida a Montejunto, à velocidade de um relâmpago. Para Poente, o brilho do mar cegou-o e o azul não tinha fim. Sobrevoou Lisboa, saltou o Tejo e deixou-se embalar na espuma da Caparica até esbarrar no paredão do Cabo Espichel. Lá do alto, nada lhe prendia a ambição. Regressou contra a nortada pela borda do mar e perdeu-se nas brumas do Oeste, onde o sol recupera a força das manhãs. A Norte, dominavam os torreões de Mafra, como nos tempos em que o rei por ali andava à caça... "
"...Já os tufos de nevoeiro nasciam nos vales quando correu à vila pelas queijadas. O oceano, que morava perto, subia a serra vestido de nuvem, aconchegando-a no seu manto húmido. Ali passava as noites, na concupiscência do luar. Ao nascer do sol, a serra chorava, resplandecendo em cada gota de orvalho a denúncia do seu amor nocturno... "
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