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segunda-feira, junho 20, 2005

A razão das greves

O sindicalismo nasceu do confronto dos operários com o liberalismo do século XIX. Apesar de apadrinhadas por partidos e organizações sindicais que se reclamam de génese proletária, não é preciso ser especialista para concluir que as greves recentes do nosso funcionalismo nada têm a ver com a luta contra o capitalismo. São chantagens corporativas de raiz pequeno-burguesa.

Salvo raras excepções, em Portugal só há greves no sector público e as suas consequências vão direitas ao bolso de cada cidadão e não dos capitalistas.

Em média, os funcionários públicos ganham mais e têm melhores reformas do que a generalidade dos trabalhadores por conta de outrem.
Então por que fazem greve?

Protegidos pelo estatuto do funcionalismo, os sindicatos da função pública aproveitam qualquer pretexto para marcar o seu terreno e demonstrar a sua força. No mês passado, os guardas florestais entraram em greve no dia em que começou a época de incêndios por considerarem “pouco digno” prestarem serviço nas torres de vigia. Agora os professores marimbam-se para os alunos e marcam a greve para os dias dos exames.

As greves (ou ameaças) de juízes, magistrados do Ministério Público, professores, forças de segurança e outros profissionais não se motivam apenas por reivindicações tradicionais. A sua luta é também pelo controlo dos diferentes sectores da Administração Pública pelas respectivas corporações.

Desta forma, o voto dos cidadãos é ludibriado…

1 comentário:

  1. O estatuto de funcionário público oferece, mais nuns casos do que noutros, regalias que não estão ao alcance do trabalhador comum. Em tempo de crise, como o actual, algumas daquelas regalias tomam mesmo ares de exorbitância. Que o Governo, face às dificuldades em que o País se encontra – défice de um lado, desemprego do outro – queira tomar medidas para suspender/diminuir as regalias em questão, não me parece condenável. Que os trabalhadores da função pública recorram à greve para defender os direitos/regalias de que têm beneficiado, poderia ser condenável, moralmente, mas, em puro direito, não o é.
    Resta que, o direito de greve deve ser utilizado com discernimento e civismo, o que não me parece estar a ser o caso. Que me perdoem os sindicatos implicados se estou enganado, mas o argumento avançado de que o Governo não lhes deixou alternativa para convocar a greve para outra data, não me convence. Pelo contrário, isto cheira a «política de terra queimada», cheira ao «estou-me nas tintas», ao «doa a quem doer». E se assim for, tal atitude não merece mais respeito do que as veleidades de greve dos jogadores da selecção portuguesa, no México, em pleno campeonato do mundo.

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