No tom cauteloso de quem está sempre a medir as palavras, Cavaco Silva entrou-nos pela casa dentro conversando com o jornalista da SIC, como já outros candidatos tinham feito. Mostrou-nos o seu gabinete na “Católica” – onde foi levar as notas dos MBAs – e levou-nos até à casa de férias no Algarve. Às perguntas pouco mais que triviais, responde como se as palavras lhe fossem arrancadas a ferros, parecendo esforçar-se para não denunciar sabe-se lá o quê.
Noutras circunstâncias, estava-me nas tintas e mudava de canal. Se o homem não se queria confessar, era lá com ele. Mas as sondagens fazem deste homem o próximo Presidente da República e mesmo que eu não tencione votar nele, não posso ficar indiferente.
Ao longo da entrevista, Aníbal Cavaco Silva referiu várias vezes que “mudou muito”, procurando esbater memórias que o incomodam, provavelmente do período em que foi Primeiro-Ministro.
Na verdade, nomeadamente quanto ao segundo governo que chefiou, não há muita coisa boa a recordar. Foi a época do tabu, ou da resignação do homem do leme perante o naufrágio cavaquismo. Com o governo à deriva, cada ministro tratou das suas clientelas e assim começou o calvário em que nos encontramos. Mas se o homem não concorre a Primeiro-Ministro, qual é a preocupação?
Desta vez, as nuvens que ensombram metade do país – e Cavaco Silva não ajuda a desanuviar – têm mais a ver com a possibilidade de subversão do regime. Muitos dos seus apoiantes preparam-se para lhe exigir a instauração de um cavaquismo à de Gaule, de que o episódio da Secretaria de Estado para as empresas estrangeiras parece um acto falhado. Ao refugiar-se na lenda do seu comportamento reservado – não separando as águas da onda revanchista que o empurra –, uma vez eleito, Cavaco Silva arrisca-se a ser submerso por ela e ainda não deu provas de que deseja coisa diferente.
Então se verá se têm razão os adversários que apontam falhas à sua consistência democrática.
Noutras circunstâncias, estava-me nas tintas e mudava de canal. Se o homem não se queria confessar, era lá com ele. Mas as sondagens fazem deste homem o próximo Presidente da República e mesmo que eu não tencione votar nele, não posso ficar indiferente.
Ao longo da entrevista, Aníbal Cavaco Silva referiu várias vezes que “mudou muito”, procurando esbater memórias que o incomodam, provavelmente do período em que foi Primeiro-Ministro.
Na verdade, nomeadamente quanto ao segundo governo que chefiou, não há muita coisa boa a recordar. Foi a época do tabu, ou da resignação do homem do leme perante o naufrágio cavaquismo. Com o governo à deriva, cada ministro tratou das suas clientelas e assim começou o calvário em que nos encontramos. Mas se o homem não concorre a Primeiro-Ministro, qual é a preocupação?
Desta vez, as nuvens que ensombram metade do país – e Cavaco Silva não ajuda a desanuviar – têm mais a ver com a possibilidade de subversão do regime. Muitos dos seus apoiantes preparam-se para lhe exigir a instauração de um cavaquismo à de Gaule, de que o episódio da Secretaria de Estado para as empresas estrangeiras parece um acto falhado. Ao refugiar-se na lenda do seu comportamento reservado – não separando as águas da onda revanchista que o empurra –, uma vez eleito, Cavaco Silva arrisca-se a ser submerso por ela e ainda não deu provas de que deseja coisa diferente.
Então se verá se têm razão os adversários que apontam falhas à sua consistência democrática.
Bem pode o homem vir com falinhas mansas tentar acalmar os mais "nervosos", afirmando-se mudado. Bem pode apregoar democracias e solidariedades institucionais. Bem pode tentar mostrar a sua faceta mais humana.
ResponderEliminarNo entanto, basta ouvir atentamente o que diz o seu mandatário nacional e outros que, como abutres, aguardam o poder, para ficarmos com muitas reservas. Para não dizer que temos de nos preparar para duras lutas.
Todos falam muito, de cátedra, acerca dos grandes males que virão se o homem não for eleito e, sobretudo, se não forem tomadas medidas muito drásticas que permitam ganhar de novo a confiança dos agentes económicos. Mas, no fundo, o que todos têm conseguido com essas conversas pouco consistentes é que a desconfiança se está a transformar em medo. Medo do futuro cada vez mais incerto que aí vem.
Ora, é no clima de medo que os grandes ditadores nasceram e cresceram.
Não venham com paninhos quentes dizer que estamos longe disso. Até já falam que Portugal poderá vir a ser a Argentina da Europa! Como se não fizéssemos parte da União Europeia!
Veremos. Mas será bom que não nos deixemos distrair, mais uma vez.
Não inspira nada de bom.
ResponderEliminarO seu discurso tresanda a naftalina.
O seu passado de governante foi o que se sabe.
O «big money» que o apoia já esfrega as mãos. – Até daqui se vê!
Haverá, realmente, 60 por cento de eleitores com a intenção de lhe dar o voto?!
Se calhar, é o facto de eu andar por fora que não me deixa ver o que se está a passar aí dentro?
Fico por aqui. Estava a hesitar se iria ou não ver o filme «Good Night and Good Luck». Vou mesmo!