sábado, maio 26, 2007

Mais Ota

Indo ao encontro de quem não se perdia em conversas, chamando “força de bloqueio” a quem o contestava (“deixem-nos trabalhar”), mas, por milagrosa da influência Ota, descobriu as virtudes de aprofundar as discussões (vale mais tarde que nunca), faço minhas as palavras deste orador:

A questão do novo aeroporto de Lisboa tem mais de 40 anos. Precisamente: começou no tempo da outra senhora. Mas foi nos últimos dez anos que o tema acelerou. Depois de avanços e recuos que envolveram os governos de Guterres, Barroso e Santana, todos comprometidos com a localização na Ota, o actual governo estabeleceu, em 2005, que era mesmo lá e que era para avançar sem demora. Numa primeira fase, questionou-se a necessidade de um segundo aeroporto para servir a área metropolitana de Lisboa, que tem cerca de 3 milhões de habitantes. Essa querela está ultrapassada. Hoje ninguém põe em causa a necessidade de um segundo aeroporto. Toda a gente sabe que a Portela não é um aeroporto, é um interface. Serve para a ponte aérea do Porto, de Bruxelas e do Brasil, e para nos ligar aos aeroportos que realmente contam (os de Londres, Frankfurt e Amesterdão). A mim não me incomoda que o aeroporto seja na Ota, desde que façam uma via rápida que evite a utilização da A1 ou da A8. A minha dúvida é de outra natureza: na Ota ou noutro sítio qualquer, que capacidade tem Portugal de atrair operadores de longo curso? Vamos passar a ter voos regulares para a Índia, a China, o Japão, a Tailândia, a Nova Zelândia, a Austrália, o Quénia, a Argentina, o Chile, o México, o Havaí, o Canadá? Isso é que interessa saber. Tenho muitas dúvidas a esse respeito. O resto da discussão é do domínio da fé. O actual governo, como os que o precederam, apostou na Ota. Sustenta a decisão em 15 estudos. Não conheço nenhum, mas também não fiz nenhum esforço para os encontrar. Conheço muita gente que trabalha na aviação comercial, e todos são unânimes: (a) é preciso outro aeroporto para servir Lisboa; (b) esse novo aeroporto deve ser na margem Norte. O grande busílis é que os detractores não querem a Ota mas ainda não conseguiram fundamentar porquê. Não estou a falar de comentadores. Se o maior partido da oposição, o PSD, e com ele alguns grupos económicos relevantes (com ligações a associações empresariais e outros lobbies influentes) descobriram, há três meses, as vantagens do Poceirão, têm a obrigação, repito, a obrigação, de divulgar os estudos que apoiam essa preferência. Ou tudo não passa daquele estudo pro bono feito em 15 dias por um professor do IST? E o outro, da Confederação da Indústria Portuguesa, patrocinado por Ferraz da Costa, tão propalado, mas inacessível à opinião pública? Em que ficamos? A oposição tem de provar por A+B que o governo fez uma má escolha, porque o facto de terem descoberto o Poceirão há tão pouco tempo dá azo a todo o tipo de desconfiança. Se o conseguirem fazer, se provarem, do ponto de vista técnico, a vantagem da margem Sul, ficam com um trunfo na mão. Esse trunfo não resolve tudo, porque a decisão é política, e porque há factores ambientais que não podem ser ignorados, mas colocaria a discussão noutro patamar. Sucede que isso só se prova com a ampla divulgação de dados que obriguem o governo a contrapor os seus. O PSD não tem dinheiro para o pagar? Ou simplesmente não está interessado? É que enquanto for só conversa, a Ota sim vs a Ota não, anda o pagode entretido mas a discussão não é séria.”
(
Eduardo Pitta - Da Literatura)

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