Epitáfios de um país queimado
“A indústria dos fogos é um dos poucos sectores da economia portuguesa que não está em crise.”
“A sistema que temos, e que torna a situação portuguesa a pior da União Europeia a grande distância dos outros países, existe porque há um sector dos sistema político – o poder autárquico – que quer manter tudo como está.”
“Nero tocava a sua lira quando Roma ardia. Os autarcas dos concelhos em chamas prosseguem as suas campanhas enquanto a floresta arde. O governo que trate disso.”
“A comunidade dos cidadãos não reage perante os incêndios nem individual nem comunitariamente pela mesma razão que não reage perante a corrupção ostensiva dos autarcas e está mesmo disposta a reeleger alguns.”
Expresso 27.08.2005 - A cremação do Poder Local – J.L. Saldanha Sanches
2 Comentários:
«Anda muita gente doida à solta, em Portugal» – dizia-me um amigo ao telefone, há alguns dias atrás.
«Era matá-los a todos, matá-los! No tempo do Salazar isto não acontecia!…» – dizia um octogenário aos repórteres da RTP, extenuado, no seu vai-e-vem de baldes de água.
«A última vez que, em Portugal, houve um condenado a prisão por fogo posto, foi há oito anos» – disse um jornalista na RTPI.
«Os incêndios por fogo posto representam uma pequena percentagem do total» – disseram os jornais.
«Eu só planto pinheiros porque não posso fazer de outro modo: as outras arvores levam muito tempo a crescer e o rendimento que dão não chega para as despesas» – disse um silvicultor.
Mas não se ouviram apenas os desabafos, os gritos de revolta, as manifestações de desespero.
Logo que as florestas se tornaram pasto das chamas, as chamas, que todo o País via, tornaram-se pasto dos politicóides. Choveram chorrilhos de insinuações e de acusações carregadas de veneno e de oportunismo. É desesperante. O fenómeno começa a ganhar foros de folclore nacional.
Entretanto, muito pouca gente falou do problema de fundo: é que, em matéria de política florestal, tudo está por fazer. Falou o Presidente da República, em boa hora e em termos que não podiam ter sido mais claros. Resta esperar que as suas achegas não tenham caído em saco roto.
Apesar das incompetências, do caciquismo e da falta de escrúpulos de muitos, gostava de saber o que seria deste pobre povo se não existisse um poder autárquico que ainda se vai interessando por ele!!! Gostava mesmo de saber isto. Não há por aí alguem que me ajude a entender?
Quando eu era miúdo, as matas eram limpas pelos "pobrezinhos" que, desse modo, angariavam alguns tostões a troco de molhos de lenha, caruma ou fetos que iam vendendo. Como já não há "pobrezinhos", ninguem se lembrou, nestes 31 anos de democracia, de pensar em soluções.
Valha-nos Sta. Bárbara!!!
(jcm)
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