sábado, agosto 13, 2005

Um vidro salva-vidas

Quando em 1989 fui pela primeira vez a Nova Iorque, à saída do aeroporto Kennedy apanhei um daqueles táxis amarelos que se vêem nos filmes.

O condutor era um negro – african-american é o eufemismo presunçoso – que falava para ele mesmo num inglês inacessível, mas que acabou por me deixar no saudoso World Trade Center, junto do hotel que também se desmoronou na derrocada do 11 de Setembro de 2001.

Durante o trajecto até à baixa de Manhattan – o JFK fica a 24 quilómetros – tive tempo para observar o carro que me transportava. O banco ao lado do condutor estava vedado aos passageiros. Naquele caso servia de despensa. Era lá que o motorista tinha as sandes e um bidão com um líquido que sorvia por um tubo comprido enquanto conduzia. Dizia que era leite.

Mas o que mais estranhei foi a barreira de vidro sobre os bancos da frente que vedava o contacto físico com o condutor. O recibo e o dinheiro foram trocados por um minúsculo guichet onde nem uma mão cabia.

Em Portugal, sempre que um taxista é assaltado, ou morto, como aconteceu agora aqui bem perto, a questão do vidro separador salta para as primeiras páginas, com as pessoas do sector a reclamar do Estado a sua colocação.

Ainda estou por saber se a lei o proíbe, o que me custa a crer, ou se pretendem apoio para custear a alteração dos carros.

Entretanto, os homicídios continuam.

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