sábado, janeiro 14, 2006

Negar as evidências

Em rigor, a notícia do 24 Horas sobre escutas telefónicas não diz nada de substancialmente novo. Desde a prisão de Paulo Pedroso que se sabia que Jorge Sampaio também tinha sido escutado. Aliás, ainda recentemente aqui reportámos esse facto no comentário sobre a mensagem de Ano Novo do Presidente da República (“Lavar as mãos”).

Por isso, o atabalhoado comunicado da Procuradoria Geral da Republica garantindo que "não foi em momento algum pedida a facturação detalhada dos telefones instaladas nas residências citadas das pessoas em casa(?), não existindo – nem podendo existir – no processo qualquer despacho a solicitar à operadora PT o envio desses documentos", é poeira para os olhos de todos nós.

É uma tentativa frouxa de passar para a PT a responsabilidade pela inclusão nos autos dos telefones de diversos titulares de cargos públicos. Ora, nem a PT é parte nos autos para poder incluir seja o que for, nem terá sido a PT que pôs à vista a informação que pretendeu esconder, quiçá ingenuamente (Hide/Unhide?).

Para além de tentar negar as evidências, o que já de si é revelador do carácter dos indivíduos - a quem o Estado confiou a defesa das vítimas, dos fracos, dos incapazes, e dos seus próprios interesses -, o comunicado da PGR denuncia uma crispação imobilista que não vai facilitar as transformações que se impõem no sector da justiça, cuja degradação é já consensualmente considerada como principal obstáculo ao desenvolvimento do país.

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