O Abraço do Polvo
As suspeitas de que a Presidência da República estava a ser escutada pelo governo apareceu no jornal Público em meados de Agosto. Desde então, de cada vez que lhe perguntavam pelas escutas, Cavaco Silva esticava o pescoço, fazia o ar empertigado que é a sua imagem de marca, e assobiava para o ar, dizendo umas larachas para fugir à questão.
Se não fosse a publicação do e-mail entre os jornalistas do Público, feita pelo Diário de Notícias, continuaria empertigado e assobiar. Mas aquele e-mail, ou antes, a sua publicação, descobriu a careca dos conspiradores e acabou com o empertiganço do PR. Estava lá tudo explicado e não havia por onde fugir, como esta noite se confirmou.
A patética declaração do Presidente da República, além de ser "a peça mais demagógica de um político de alto nível em Portugal», é a mais iniludível prova de que o episódio das escutas foi uma conspiração urdida com o propósito de prejudicar o Governo da República e o Partido Socialista.
Ao justificar o injustificável com eventuais vulnerabilidades do seu sistema informático, Cavaco Silva apenas confirma que a sua conduta no processo das escutas está longe de ser irrepreensível.
Esta noite, o povo sentiu o abraço do polvo.
1 Comentários:
Repito o comentário que deixei no Abrupto: "O único presidente que me ocorre digno desta declaração aos jornalistas é o Dr. Vale e Azevedo. Evitou responder às perguntas que todos faziam, tentou levantar suspeitas sobre coisas há muito esclarecidas e aproveitou o peso institucional da Presidência para evitar ser escrutinado. É um discurso desonesto, irresponsável e indigno do cargo que representa. Provavelmente, este é o ponto mais baixo da história da democracia portuguesa dos últimos 30 anos." Mas houve um momento que passou despercebido e que RAP apanhou no seu sketch: se a colaboração dos acessores era mentira, como é que a acusação de dirigentes socialistas a respeito desse assunto pode servir como motivo para eventuais desconfianças? Enfim, esperemos que o problema se resolva definitivamente em 2011 com a eleição de um português decente para a Presidência da República.
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