segunda-feira, abril 23, 2012

Separar as águas

Os militares de Abril, através da associação que os representa, decidiram não participar nas celebrações oficiais do 25 de Abril.  
Se eu fosse militar de Abril, também não gostaria de participar em cerimónias para celebrar a revolução  conhecida mundialmente como “A Revolução dos Cravos”, ao lado de quem faz questão  de recusar o símbolo da própria revolução: o cravo vermelho.
Esta razão seria suficiente, mas os militares, que descerão a Avenida da Liberdade integrando as comemorações populares, invocam ainda as seguintes,  para não darem o seu aval às comemorações  oficiais:
There will be a day…

1 Comentários:

Às 24/04/12, 11:23 , Blogger j disse...

No tempo em que Portugal tinha orgulho em chamar-se uma democracia criada pelo 25 de abril, eu costumava comemorar a data, cheio de entusiasmo, numa pequena oficina metalúrgica, conjuntamente com os 20 ou 30 operários que ali tinham o seu posto de trabalho, o patrão e uma enorme e acarinhada figura que aquele dia deu a conhecer ao mundo.
Já nesse tempo, as autodenominadas comemorações oficiais não me diziam rigorosamente nada.
Mas um ano houve, um longínquo ano, que me afastou definitivamente dessa reles fantochada a que chamam “as comemorações”…
Tinham terminado as discursatas em S. Bento e eu, com o meu filho mais velho, ainda pequeno, pela mão, subia calmamente a rua, quando me apercebi de um Homem cansado e curvado, de cravo vermelho ao peito, caminhando a custo no sentido do Rato.
“É ele, sem dúvida…”, pensei para comigo.
Dirigi-me a ele e indaguei: “Sr. General! Então o governo não lhe arranjou um 2 CV velhinho e um motorista desempregado para o levar a casa?! O sr. General está cansado!”
Senti-me na obrigação de pegar na carripana e levá-lo a casa, que até nem era muito longe.
Foi a última vez que o vi com vida. Morreu no verão seguinte.
Desde esse dia, jurei a mim mesmo que NUNCA mais perdoaria aos bandalhos que “governaram”
O país desde então.
Podem alguns vir agora carpir mágoas, associar-se à revolta dos “militares de abril”, fazer discursos em que manifestam “muita pena pelos sacrifícios infligidos ao pobre povo”… Podem até ser, agora, sinceros, nessa afirmação. Podem. Mas NUNCA mais esquecerei as graves responsabilidades que tiveram na situação atual.
Amanhã, não estarei cá para descer à rua onde o povo comemora o dia da Liberdade. Mas não esquecerei o meu cravo vermelho, agora já não oferecido carinhosamente pela sra. Zefa da praça da Ribeira (já morreu) mas sempre viçoso pela força do coração que teima em bater mais forte neste dia. Nem olharei para as tvs, nem me encherei de cólera e raiva ao ver o triste de Belém que há muito meteu o cravo na retrete do palácio. Mas não esquecerei NUNCA os companheiros que me ensinaram a ver claro, mesmo quando o dia é negro de breu.
Para esses, o cravo vermelho que orgulhosamente levarei no peito amanhã.

 

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