sexta-feira, fevereiro 19, 2021

O "trauma" da guerra colonial

 A propósito do falecimento de Marcelino da Mata, galardoado em tenente-coronel do exército português, ressucitaram os fantasmas da guerra colonial.

Talvez se tenham cometido excessos, mas um teatro de guerra não é um picnic e não se passe do 8 para o 80.

Estive 27 meses em Angola, 6 meses no Uige e Dembos, 7 meses no saliente de Cazombo e os restantes no distrito de Malange, com passagens por Luanda-Grafanil entre as transferências. 

Não me acusa a consciência de ter cometido crimes, porque não os cometi, nem os permiti enquanto oficial do exército. 

Respeitei sempre os civis, brancos ou negros.  Mais tarde voltei a Luanda, onde trabalhei entre 1971 e 1975, e tenho gratas recordações dessa terra imensa onde me nasceu uma filha e me fiz homem. 

Embora não perfilhe os ideais de um "Portugal do Minho a Timor", como alardeava Salazar, não tenho arrependimentos por ter pertencido ao exército português e integrar esse enorme contingente de heróis anónimos que fizeram a guerra colonial. 

A história não se nega nem se branqueia, assume-se.

1 Comentários:

Às 19/02/21, 09:59 , Anonymous Anónimo disse...

Comigo acontece o mesmo. Não me envergonho dos 23 e meses que passei nos Dembos ( Balacende ). Granjeei amizades que noutras circunstâncias não as conseguia. Balacende era isolada de tudo. Tínhamos que nos socorrer uns dos outros. Não podíamos ultrapassar o arame farpado se não só em coluna militar. Não fiz mal a ninguém. Aliás. A minha Companhia tinha soldados angolanos e deixei lá muitos amigos. Em Quicabo, sede do Batalhão, construiu-se uma aldeia e quando saímos de lá deixamos mais de duas mil criaturas umas apanhadas por nós em operações outras que vinham entregar. Por isso não digo que sinto orgulho mas vergonha também não por ter estado em Angola ao serviço da Pátria. Cumprimentos.

 

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