O "abandono do ultramar"
Não são de agora, mas nas redes sociais continuam a pulular alguns saudosistas, acusando os supostos responsáveis por aquilo a chamam o "abandono do ultramar ".
Sei do que falo: 27 meses na guerra em Angola, envolvido em mais de duas dezenas de ações de fogo, são prova cabal e suficiente para suportar o que escrevo.
Falar de abandono, é de quem nunca sentiu na pele o horror da guerra colonial, quando, para os que lá andaram, o dia de amanhã era sempre um futuro incerto...
Angola, tal como a Guiné e Moçambique, lutaram para ser independentes, um direito que ninguém lhes devia negar, a não ser um governo retrógrado e fora de época como era o de Salazar.
De lembrar, que já antes este ditador castigara o governador da "Índia portuguesa" por não ter lutado até à morte contra um exército de milhões de indianos, tal como castigou Aristides de Sousa Mendes, por conceder vistos a judeus perseguidos pelo nazismo de Hitler.
Os saudosistas que ainda por aí vegetam a suspirar por Salazar, têm a sorte de viver em democracia e poder dizer todas as palermices que lhes assolam a cabeça. Ninguém os prende, ao contrário do que aconteceria se Salazar ainda por aí andasse...
No entanto, tal não significa que tenham razão.
1 Comentários:
Ora bem!
Também passei por lá - Guiné, 1971-72, e faço minhas as suas palavras, felicitando-o por ter tido a coragem de as escrever. Foi na Guiné que um dos meus amigos de infância perdeu a vida.
Sou de uma família que forneceu mais carne para canhão (éramos muitos primos). E um dos primos mais velhos contou-me esta coisa extraordinária, de que deve ter conhecimento: quando marchavam pela avenida de Luanda, após o desembarque, foram apupados por muitos residentes brancos, aos gritos de «Vão para casa, que a gente sabe defender-se!». Era a mesma gente que, quando a guerra já estava perdida e os movimentos de independência se metralhavam e bombardeavam uns aos outros por todo o lado, pediam a ajuda dos militares para lhes salvar o coiro. É essa gente salazarenga que morre de saudades pelo colonialismo. Se não queriam «o abandono do ultramar», tinham um bom remédio: ter ficado lá a arriscar a pele, sem as costas quentes da presença dos soldados que a princípio desprezaram, a lutar pelos privilégios e sinecuras que perderam.
Um abraço, caro José Ferreira Marques.
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