Cada poeta tem o seu Adamastor
Exceptuando uma passagem pelo primeiro governo constitucional, depois do 25 de Abril Manuel Alegre instalou-se na sua cadeira de deputado pelo círculo de Coimbra, não exercendo outras funções para além das parlamentares.
O próprio não esconde o seu desinteresse por cargos executivos, como bem demonstrou ao não assumir que se candidatava a primeiro-ministro, na disputa pela liderança do partido .
Aliás, quando concorreu ao lugar de Secretário Geral do PS e quando se “disponibilizou” para concorrer à Presidência da Republica, fê-lo por reacção e não por pura iniciativa, denunciando em ambos os casos uma iniludível falta de convicção nas candidaturas e, naturalmente, na vitória.
Os portugueses reconhecem nele o homem de cultura e o político respeitado e respeitável que Manuel Alegre corporiza, mas não o vêem como o homem de estado que se exige na Presidência da Republica.
A sua candidatura à liderança do partido serviu apenas para agregar os românticos do velho PS a quem o estilo e a determinação de Sócrates causava engulhos.
Na ausência de Mário Soares, a sua candidatura à Presidência de Republica, limitar-se-ia a legitimar a vitória de Cavaco Silva, não tapando qualquer buraco à esquerda, que o abandonou na primeira curva, como se viu.
2 Comentários:
"...não tapando qualquer buraco à esquerda, que o abandonou na primeira curva, como se viu."
O que, diga-se de passagem, não deixa de ser um muito grave indício do que poderá vir a ser a dita esquerda nos tempos mais próximos...
A seu tempo, veremos que papel virá a ter a dita esquerda nos combates que necessariamente ser virão a travar no futuro.
Ou será que alguem acredita que é este o caminho para o futuro da Humandidade?!
Ainda que hoje, homens como Manuel Alegre não tenham votos, eles representam, para o bem e para o mal, a parte mais pura da esquerda de que muitos de nós se consideram herdeiros.
Essas tretas do fim das ideologias constituem o núcleo central da novíssima ideologia que uns tantos nos pretendem impingir.
Oxalá o próximo presidente da república (em letra minúscula...) não venha a tornar-se no coveiro dos grandes ideais da nossa juventude!
PS. Claro que votarei sempre contra a direita.
(jcm)
Numa entrevista ao “Nouvel Observateur” (N. 2128 de 18 de Agosto passado), Michel Rocard dizia que preferia a secessão à confusão. Isto porque o PS francês está a um passo da ruptura entre os “herdeiros de Jaurès” … “que sabem que não se pode avançar senão no compromisso concreto” e os “continuadores de Guesde” … “que acreditam nas mudanças decretadas e nos protestos sem efeito”.
De facto, estas duas correntes coabitam no seio do partido há muito tempo e, na minha opinião, ainda bem. Só que, a ambição pelo poder fez com que o debate se transformasse em luta aberta e fosse transportado para a praça pública. Claro que a direita (que levou uma sova monumental nas últimas eleições) esfrega as mãos de contente e que esta luta fratricida não augura nada de bom, nem para o PS nem para os milhões de franceses que nele depositam as suas esperanças de tempos melhores.
Em Portugal, (e não só!) a questão sobre a forma de avançar põe-se da mesma maneira mas, felizmente, não houve ambições pessoais que se sobrepusessem ao interesse geral. Honra seja feita a Manuel Alegre que, mais uma vez, saiu pela porta de cima, como grande senhor e grande português que é.
Quanto à escolha de Mário Soares, ela é, para mim, o menor dos males: a idade e o facto de já ter executado dois mandatos deixa um “arrière goût” de incapacidade de renovação que não é bom, nem para a democracia nem para o PS. O problema é que não vejo, em Manuel Alegre, a figura capaz de fazer frente a Cavaco com boas perspectivas de vitória. Falta-lhe o perfil para cair no goto, como diz o Vitorino no “Caçador da Adiça”. Espero que ele continue a «puxar» no seio do PS pois, também para mim, é ele que melhor encarna os ideais da esquerda em que acredito.
VHC
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