quinta-feira, julho 07, 2011

O Dedo na Ferida

 Talvez não devesse meter no mesmo saco o PS, o CDS e o PSD, mas não é por isso que esta análise de JM Correia Pinto deixa de ser uma boa ajuda para compreender a tragédia que se abateu sobre nós nos últimos meses, e de como alguns se aproveitaram dela para chegar ao poder..  

COITADOS, JULGAVAM-SE DIFERENTES 
Desde que o PSD com a prestimosa colaboração de Cavaco Silva resolveu derrubar o anterior Governo a situação de Portugal não tem cessado de piorar, interna e internacionalmente.
Internamente, o novo Governo, nos poucos dias de vigência que tem, agravou todas as medidas que ao longo dos dois últimos anos o Governo socialista havia adoptado na mesma vã esperança de por via da austeridade acalmar os mercados e relançar a economia nacional, baseada na irracional suposição de que era o "acerto" das contas públicas que iria permitir o crescimento económico, por mais que se explique que é a partir do crescimento económico que as contas públicas podem ser equilibradas.

Internacionalmente, a situação portuguesa vai de mal a pior. À atitude subserviente, ideologicamente convergente com os grandes interesses estrangeiros, do Governo PSD/CDS, respondem os “bem-amados” mercados com desgraduações sucessivas da dívida portuguesa e uma subida record (e insustentável) da taxa de juro numa clara e inequívoca demonstração do desprezo que nutrem pelos actuais governantes por mais veementes que tenham sido as suas juras de fidelidade à ortodoxia neoliberal.

E é interessante, muito interessante, ouvir agora alguns dos gurus do actual Governo apodar de “terrorista” e outros adjectivos semelhantes a notação das agências de rating quando ainda ontem tudo não passava de uma situação normal condizente com o estado da economia portuguesa e com a situação política do país.

Enquanto se espera com natural ansiedade a posição do Governador do Banco de Portugal, não pode deixar de sublinhar-se as novas posições do imparcialíssimo Cavaco Silva que, depois de ter considerado explosiva e insustentável a situação portuguesa e de repetidas vezes ter enaltecido e encarecido o papel dos mercados, em sua opinião decorrente da tal situação por ele caracterizada como catastrófica, vem agora afirmar que a notação da Moody’s não tem a mínima justificação, fazendo-o, naturalmente, com o mesmo à vontade com que ainda ontem declarava que os portugueses tinham de estar preparados para sacrifícios prolongados – ele que ainda há dois meses era de opinião que os portugueses não podiam suportar mais sacrifícios.

Por tudo isto, não pode deixar de considerar-se vexatoriamente irónico vê-los desfilar nos telejornais, um por um, do CDS ao PSD e também ao PS, dos banqueiros aos demais patrões até aos lacaios de uns e de outros, a vociferar contra as agências de rating, exactamente aquelas em nome de cujos interesses por elas representados se tem governado neste país.

É em homenagem a esses mesmos interesses que ainda ontem num gesto irresponsável e gravemente lesivo dos interesses nacionais o Governo extinguiu as “golden shares” de três empresas vitais para a economia portuguesa que aliás nunca deveriam ter sido privatizadas.



No fundo, o comportamento das agências de rating está em linha com o PEC que o Governo anunciou no Parlamento e com as justificações apresentadas pelo Ministro das Finanças para a extinção das “golden shares”, ao afirmar que ela representa um ganho para o Estado português.

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