Ilusões e realidades

O "fenômeno" Espírito Santo pôs a nu algumas maleitas de que padece a nossa democracia. De uma sociedade controlada de antes do 25 de Abril, em que o vizinho desconfiava do vizinho, evoluímos para uma sociedade acrítica, permanentemente manipulada pelos poderes que controlam a comunicação social.

À sociedade alienada pelo obscurantismo da ditadura, sucedeu uma sociedade alienada pela mediatizacao do populismo, elevado a categoria cultural por uma conjuntura de não exigência, que a incultura herdada do fascismo abraçou, transformando a tradicional timidez rural na boçalidade arrogante que faz do tuga do século XXI o exemplo acabado da alienação mediática.

A surpresa com que a sociedade reagiu ao colapso do Grupo Espírito Santo é a surpresa de uma sociedade manipulada pelos média, que ao longo dos anos incensaram os que agora exibem como criminosos.

As férias na neve ou no mar, disfarçadas de actualizações à gestão empresarial, que o BES oferecia aos jornalistas, tinham de ter retorno, e tiveram, manipulando os leitores para os interesses de quem pagava...

Uma comunicação social que se limita a veicular as opiniões dos poderosos, é venal e prejudica a democracia.