quarta-feira, novembro 09, 2005

Angola, 30 anos depois

Sendo a sua primeira visita a Angola, quando hoje à noite o avião aterrar no aeroporto 4 de Fevereiro, Jorge Sampaio não vai reparar que está no meio de um formigueiro.
Dantes, quando ainda se chamava Craveiro Lopes, o aeroporto era o limite da cidade que ficava a poente. A nascente era uma terra de ninguém, salpicada de acácias e embondeiros até às margens do Cuanza. Só a surpresa de algum poço de petróleo quebrava a monotonia do viajante que se aventurasse naquele enclave desértico.

Quando a guerra civil eclodiu, Luanda foi invadida por milhões de deslocados que a transformaram num monstro inabitável. Foi ali, a nascente do aeroporto, que as cubatas se multiplicaram como cogumelos, cercando a pista e asfixiando a cidade concebida para algumas centenas de milhares de habitantes.
Para um país catorze vezes maior que Portugal, a concentração de quase metade da sua população numa área equivalente à do concelho de Sintra é um dos seus maiores problemas. Para se fazer uma ideia do gigantismo da capital basta comparar os seus 4 milhões de habitantes com os 170 mil da segunda cidade, Huambo.

Muitos esperavam que o fim da guerra civil fizesse o povo regressar. Porém ninguém quer voltar. Se a guerra durou quase trinta anos, onde estão agora os camponeses que abandonaram os campos? Habituaram-se ao “sistema” e aqui estão mais perto dos contentores que a ajuda internacional descarrega no Porto de Luanda
Mas num ponto os adivinhos acertaram: A paz faria disparar o desenvolvimento económico e todos admitem que nos próximos anos Angola vai ter das maiores taxas de crescimento do mundo.

Infelizmente isso não garante que o seu povo saia da miséria ou dispense a ajuda internacional. Tal como noutros países de África, a riqueza produzida é filtrada pelos circuitos da corrupção e o seu impacto no desenvolvimento social do povo é quase nulo.

A corrupção é já uma fonte de inspiração para escritores como Pepetela, mas a diplomacia portuguesa não a enxerga, desconhecendo-se se a cedência de alguns poços de petróleo à Petrogal e outros negócios menos visíveis recompensem o tabu.

De qualquer modo, as boas graças do Futungo de Belas não têm diminuído a dívida e, trinta anos depois do fim do colonialismo, Jorge Sampaio ainda se arrisca ouvir essa desculpa para justificar a miséria do povo angolano.

2 Comentários:

Às 10/11/05, 23:24 , Anonymous Anónimo disse...

Olá, José Marques.
Para quem conheceu Angola, como nós a conhecemos, saber desta miséria, dói, mesmo se a não vemos. Mas aquela que acabei de ver “no outro lado do Mundo”, na imensa, fabulosa, colorida e promíscua Índia… chaga-nos a alma!
E assim te digo que, chegado a casa, após um mês de “vadiagem”, vim dar uma olhadela ao teu blog para reentrar na realidade próxima. Vou retemperar-me e já volto.
Um abraço.

VHC

 
Às 11/11/05, 11:17 , Blogger José Ferreira Marques disse...

Este mundo não tem emenda.
Bem vindo a casa.
um abraço

 

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