Arrogância cultural, ou ignorância arrogante?
Há alguns dias que anda por aí alguma controvérsia porque Mário Soares disse que um Presidente da República deveria conhecer os Lusíadas. Os apoiantes de Cavaco Silva sentiram-se e classificaram a tirada de arrogância cultural, contra-atacando: que, ao contrário de Mário Soares que nasceu num berço de oiro, o professor de Boliqueime era pobre, o que presumivelmente desculparia as suas lacunas culturais.
Por essa lógica, Saramago, que não tinha dinheiro para livros, nunca teria chegado ao Nobel da Literatura.
Mas nem o professor de Boliqueime era assim tão pobre, atendendo à época, nem a afirmação de Mário Soares pode ser apelidada de arrogância cultural. Tratou-se de um mero simbolismo sobre as competências generalistas da função presidencial, embora não passe pela cabeça de ninguém que tivesse havido algum presidente que não tenha lido os Lusíadas.
O que não pode passar sem reparo são as tentativas de fazer da ignorância arrogante uma mais-valia eleitoral.
Por essa lógica, Saramago, que não tinha dinheiro para livros, nunca teria chegado ao Nobel da Literatura.
Mas nem o professor de Boliqueime era assim tão pobre, atendendo à época, nem a afirmação de Mário Soares pode ser apelidada de arrogância cultural. Tratou-se de um mero simbolismo sobre as competências generalistas da função presidencial, embora não passe pela cabeça de ninguém que tivesse havido algum presidente que não tenha lido os Lusíadas.
O que não pode passar sem reparo são as tentativas de fazer da ignorância arrogante uma mais-valia eleitoral.
1 Comentários:
Terão todos os presidentes lido os Lusíadas ? Não estou assim tão certo?!
Quando era moço lia uma revista do contra que se chamava «Seara Nova».
Como a censura impedia que ali se comentasse os discursos do presidente da República de então, a revista, habilmente, optava por publicar, sem qualquer comentário, os passos «mais relevantes» dos ditos discursos e… ficava tudo dito.
Quem teve o “privilégio” de ler aquelas maravilhas duvidará, certamente, como eu duvido, que o autor tenha alguma vez lido os Lusíadas.
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