Um comboio para Barca d’Alva (II)
“Acordei envolto num largo e doce silêncio. Era uma estação muito sossegada, muito varrida com rosinhas brancas trepando pelas paredes – e outras rosas em moitas, num jardim, onde um tanquezinho abafado de limos dormia sob duas mimosas em flor que recendiam. Um moço pálido, de paletó cor de mel, vergando a bengalinha contra o chão, contemplava pensativamente o comboio. Agachada rente à grade da horta, uma velha, diante da sua cesta de ovos, contava moedas de cobre no regaço. Sobre o telhado secavam abóboras. Por cima rebrilhava o profundo, rico e macio azul de que os meus olhos andavam aguados.
Sacudi violentamente Jacinto:
- Acorda, homem que estás na tua terra!
Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.
- Então é Portugal, hem?... Cheira bem.”
(A Cidade e as Serras – Eça de Queirós)
A “estação muito sossegada, muito varrida, com rosinhas brancas” de que nos fala Eça é a estação de Barca d’Alva, onde o comboio chegou há 120 anos e por onde o nosso maior romancista faz passar Jacinto e Zé Fernandes, na viagem que os trouxe de Paris até Tormes.
Tal viagem hoje não seria possível, pois há anos que a linha do Douro se interrompe no Pocinho e, desde então, a estação de Barca d’Alva deixou de ser varrida.
No entanto, depois de muitos anos de degradação, parece que finalmente “existem verbas no próximo Quadro de Referência Estratégica Regional (QREN) para a requalificação do troço de 28 quilómetros” que separam o Pocinho de Barca d'Alva, e, como há 120 anos, pode ser que o comboio do Douro se enamore outra vez do rio e não o perca de vista "até se ficar nos laranjais de Barca d’Alva, cansado e tonto de serpentear nas margens". (Bichos do Mato).
Reservem já o bilhete e, a quem se surpreender com o cheiro dos laranjais, respondam como Zé Fernandes:
“- Está claro que cheira bem, animal!”
Sacudi violentamente Jacinto:
- Acorda, homem que estás na tua terra!
Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.
- Então é Portugal, hem?... Cheira bem.”
(A Cidade e as Serras – Eça de Queirós)
A “estação muito sossegada, muito varrida, com rosinhas brancas” de que nos fala Eça é a estação de Barca d’Alva, onde o comboio chegou há 120 anos e por onde o nosso maior romancista faz passar Jacinto e Zé Fernandes, na viagem que os trouxe de Paris até Tormes.
Tal viagem hoje não seria possível, pois há anos que a linha do Douro se interrompe no Pocinho e, desde então, a estação de Barca d’Alva deixou de ser varrida.
No entanto, depois de muitos anos de degradação, parece que finalmente “existem verbas no próximo Quadro de Referência Estratégica Regional (QREN) para a requalificação do troço de 28 quilómetros” que separam o Pocinho de Barca d'Alva, e, como há 120 anos, pode ser que o comboio do Douro se enamore outra vez do rio e não o perca de vista "até se ficar nos laranjais de Barca d’Alva, cansado e tonto de serpentear nas margens". (Bichos do Mato).
Reservem já o bilhete e, a quem se surpreender com o cheiro dos laranjais, respondam como Zé Fernandes:
“- Está claro que cheira bem, animal!”
1 Comentários:
Cheira sempre bem, com comboio ou sem ele.
Mas lá que o comboiozinho faz muita falta a uma excepcional região turística, tão abandonada e tão vilmente desaproveitada pelos poderes públicos, ah! isso faz...
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