Ligações perigosas
Com a devida vénia...
12 de Abril
de 2017, 6:29
Há um negócio
que se especializa em subverter actos eleitorais em escolas cheias de menores
através de ofertas em dinheiro e em géneros. Esse negócio concretiza-se em
viagens mais ou menos selvagens onde o álcool corre à farta e o descontrolo é
assegurado pelas mesmas empresas que promoveram o evento. Há dinheiro a passar
de mão em mão, mas facturas nem vê-las. Há “famosos” de terceira e quarta
categorias a animar festas de listas a associações de estudantes, que já
negoceiam a vitória nas eleições em troca de pacotes de viagens de finalistas.
Há estudantes angariados para angariar negócio junto dos colegas, num esquema
em pirâmide que funciona enquanto todos ganham. E há ameaças sérias de
violência num negócio em
que os territórios são disputados palmo a palmo.
O melhor é que
ninguém sabe de nada: não sabe o Ministério da Educação, que supostamente
tutela as escolas e o que nelas se passa; não sabem os pais, que nem se
informam sobre como é gerido o esquema que enfia os filhos em camionetas que os
deixam à porta de um qualquer destino soalheiro; não sabe o Ministério das
Finanças, que nem se interessa pelas muitas centenas de milhares de euros que
são trocados de mão em mão sem quaisquer documentos; e não sabem as juventudes
partidárias, que têm a sua acção de base nestas associações de estudantes que
são tudo menos sérias.
O que menos
interessa desta história toda é o que se passa durante a viagem: sim, há mais
dinheiro a circular, muito álcool nas mãos de menores e rédea solta para os
exageros. Hotéis, agências, pais e filhos contam com isso.
É o que menos interessa na história e só serve para títulos mais
ou menos indignados.
O que conta aqui é a forma como tudo isto acontece e os
resultados que tem: se a primeira experiência democrática que estas gerações
vivem está corrompida por famosos e viagens a destinos mais ou menos
paradisíacos, é difícil associar a política a algo nobre ou o exercício de
cargos públicos a uma expressão de cidadania.
Talvez nada disto seja, em si mesmo, ilegal. Mas é certamente
amoral — e tem consequências. Da próxima vez que lerem uma notícia sobre as
pequenas e grandes negociatas, a violência no desporto, a prepotência de quem
tem poder ou a candidatura a uma câmara de um ex-autarca condenado por
corrupção poderão encontrar uma linha recta que conduz a esta notícia."
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