Espero, sinceramente, que isto não seja o prenúncio da maior vitória de Bush e da sua camarilha neo-con. Dos franceses, julgo que é de esperar tudo (como sempre...). O problema é que aquilo que nos tem sido "vendido" como os fundamentos da Europa está a ser altamente contestado por quase todos os povos europeus. À excepção dos novos povos, que ainda esperam que a salvação venha da Europa, todos os outros contestam vivamente esses fundamentos. Provavelmente, pelo facto de todos os assuntos referentes à Europa terem vindo a ser, sistematicamente, escamoteados à discussão pública, como se todos fôssemos mentecaptos, inacapazes de entender o que os "sábios" andaram a cozinhar nos corredores de Bruxelas e de Estrasburgo. Acontece, porém, que devido a essa mesma Europa hoje contestada, os povos europeus mais atrasados deixaram de o ser e hoje exigem ser tratados como cidadãos de corpo inteiro... Oxalá não fiquemos prisioneiros de políticos inaptos e incapazes de ver a dimensão total do projecto em que nos envolveram. Porque, se isso for verdade, o "grande projecto europeu" pode ter-se transformado num "buraco" de proporções ainda não imagináveis. De outro modo não se pode explicar o que acontece hoje em países tradicionalmente solidários, como a Holanda, os quais se estão a revelar cada vez mais próximos da barbárie de há tão poucos anos... Tudo teria sido muito mais simples se o mais elementar princípio da democracia tivesse sido posto em prática: o de informar os povos, com rigor. Como isso não foi feito, hoje os povos são facilmente manipulados pelos mais miseráveis xenófobos, cuja razão de ser assenta, como sempre, no obscurantismo e na ignorância, cujo mais evidente sintoma é o medo. Oxalá esteja engando. (jcm)
Meu caro José Marques, não concordo com a tua primeira frase. Penso que a União Europeia vai permanecer tal como a conhecemos, com as mesmas instituições e regras que a sustentaram até agora. Mas que ninguém sabe o que se segue, designadamente no que se refere à formação da Europa como força política, parece-me ser um facto incontestável. Pela parte que me toca, lamento profundamente que a França tenha entravado o passo, a meu ver enorme, que ia ser dado nesse sentido, com o tratado constitucional. E isto sem ignorar as mazelas das quais o referido tratado enferma e que deram pano para mangas a todos os «contras». É ainda muito cedo para tirar ilações concisas deste acontecimento. Mas no que se refere às razões do «não», essas, já são por demais conhecidas: - desconhecimento do real conteúdo do tratado constitucional, por parte dos eleitores - política desastrosa, para o mundo do trabalho, do actual governo. A esmagadora maioria dos franceses não conhece, do tratado constitucional, senão um ou outro artigo repescado, para fins de debate ou de «esclarecimento» público, pelos iluminados defensores do «sim» e do «não». Ora, de entre os iluminados havia de tudo: - os tradicionais opositores (PC e os que se situam à sua esquerda, que no fim de contas foram os únicos coerentes com eles próprios); os que têm vindo a perder terreno no interior das respectivas famílias políticas (tanto de esquerda como de direita) e que tentaram vir ao decima esperneando contra a corrente e ainda os racistas, xenófobos, adoradores do «Mein Kampf» e quejandos candidatos ao caixote do lixo da história. Mas se os eleitores desconheciam, ou conheciam muito mal, o conteúdo do tratado constitucional, já o mesmo não poderá ser dito quanto aos efeitos da política de Monsieur Raffarin, actual primeiro ministro (que, a esta hora, já deve estar de mala aviada!). Daí que, assimilar o voto contra a constituição a um voto contra o Governo tenha sido um passo facílimo a dar. Uma sondagem, efectuada após a votação, revela que 46% dos eleitores que votaram «não», fizeram-no por temerem agravamento do desemprego e 40% para exprimirem o seu descontentamento quanto à situação actual. Não é por acaso que as grandes empresas francesas registaram, em 2004, lucros astronómicos enquanto que o desemprego progrediu de forma assustadora. Mas não desesperemos. Não é a primeira vez que o «não» emperra o avanço da Europa (La France, le Danemark et l’Irlande ont déjà dit non par le passé - Le Monde de 31 de Maio). O que me incomoda mais, no fim de contas, é que, entretanto, Bushes, Rumsfelds e outros rancheiros do estilo possam continuar a cowboiar por esse mundo fora como se fosse tudo deles.
Caro V. Castro, A tua não concordância com o primeiro parágrafo do meu comentário está em contradição com o último período do teu. Porque é disso que se trata efectivamente: de uma vitória daqueles que lutam sub-repticiamente para que a Europa não tenha uma plítica comum clara e inequívoca... (jcm)
Caro José Marques (jcm), Não tenho nada a opor ao primeiro parágrafo do teu comentário. Pelo contrário, as tuas apreensões são as minhas. A «frase da discórdia» é do José Ferreira Marques e reza assim: “Tal como a conhecemos, a União Europeia acabou.”
Caro V. Castro, Peço desculpa pela interpretação errada... Eu também não concordo inteiramente com o Zé Ferreira Marques. Mas esta discussão levar-nos-ia longe demais. (jcm)
5 Comentários:
Espero, sinceramente, que isto não seja o prenúncio da maior vitória de Bush e da sua camarilha neo-con.
Dos franceses, julgo que é de esperar tudo (como sempre...). O problema é que aquilo que nos tem sido "vendido" como os fundamentos da Europa está a ser altamente contestado por quase todos os povos europeus. À excepção dos novos povos, que ainda esperam que a salvação venha da Europa, todos os outros contestam vivamente esses fundamentos. Provavelmente, pelo facto de todos os assuntos referentes à Europa terem vindo a ser, sistematicamente, escamoteados à discussão pública, como se todos fôssemos mentecaptos, inacapazes de entender o que os "sábios" andaram a cozinhar nos corredores de Bruxelas e de Estrasburgo. Acontece, porém, que devido a essa mesma Europa hoje contestada, os povos europeus mais atrasados deixaram de o ser e hoje exigem ser tratados como cidadãos de corpo inteiro...
Oxalá não fiquemos prisioneiros de políticos inaptos e incapazes de ver a dimensão total do projecto em que nos envolveram. Porque, se isso for verdade, o "grande projecto europeu" pode ter-se transformado num "buraco" de proporções ainda não imagináveis.
De outro modo não se pode explicar o que acontece hoje em países tradicionalmente solidários, como a Holanda, os quais se estão a revelar cada vez mais próximos da barbárie de há tão poucos anos...
Tudo teria sido muito mais simples se o mais elementar princípio da democracia tivesse sido posto em prática: o de informar os povos, com rigor.
Como isso não foi feito, hoje os povos são facilmente manipulados pelos mais miseráveis xenófobos, cuja razão de ser assenta, como sempre, no obscurantismo e na ignorância, cujo mais evidente sintoma é o medo.
Oxalá esteja engando.
(jcm)
Meu caro José Marques, não concordo com a tua primeira frase. Penso que a União Europeia vai permanecer tal como a conhecemos, com as mesmas instituições e regras que a sustentaram até agora. Mas que ninguém sabe o que se segue, designadamente no que se refere à formação da Europa como força política, parece-me ser um facto incontestável.
Pela parte que me toca, lamento profundamente que a França tenha entravado o passo, a meu ver enorme, que ia ser dado nesse sentido, com o tratado constitucional. E isto sem ignorar as mazelas das quais o referido tratado enferma e que deram pano para mangas a todos os «contras».
É ainda muito cedo para tirar ilações concisas deste acontecimento. Mas no que se refere às razões do «não», essas, já são por demais conhecidas:
- desconhecimento do real conteúdo do tratado constitucional, por parte dos eleitores
- política desastrosa, para o mundo do trabalho, do actual governo.
A esmagadora maioria dos franceses não conhece, do tratado constitucional, senão um ou outro artigo repescado, para fins de debate ou de «esclarecimento» público, pelos iluminados defensores do «sim» e do «não». Ora, de entre os iluminados havia de tudo: - os tradicionais opositores (PC e os que se situam à sua esquerda, que no fim de contas foram os únicos coerentes com eles próprios); os que têm vindo a perder terreno no interior das respectivas famílias políticas (tanto de esquerda como de direita) e que tentaram vir ao decima esperneando contra a corrente e ainda os racistas, xenófobos, adoradores do «Mein Kampf» e quejandos candidatos ao caixote do lixo da história.
Mas se os eleitores desconheciam, ou conheciam muito mal, o conteúdo do tratado constitucional, já o mesmo não poderá ser dito quanto aos efeitos da política de Monsieur Raffarin, actual primeiro ministro (que, a esta hora, já deve estar de mala aviada!). Daí que, assimilar o voto contra a constituição a um voto contra o Governo tenha sido um passo facílimo a dar.
Uma sondagem, efectuada após a votação, revela que 46% dos eleitores que votaram «não», fizeram-no por temerem agravamento do desemprego e 40% para exprimirem o seu descontentamento quanto à situação actual.
Não é por acaso que as grandes empresas francesas registaram, em 2004, lucros astronómicos enquanto que o desemprego progrediu de forma assustadora.
Mas não desesperemos. Não é a primeira vez que o «não» emperra o avanço da Europa (La France, le Danemark et l’Irlande ont déjà dit non par le passé - Le Monde de 31 de Maio).
O que me incomoda mais, no fim de contas, é que, entretanto, Bushes, Rumsfelds e outros rancheiros do estilo possam continuar a cowboiar por esse mundo fora como se fosse tudo deles.
Caro V. Castro,
A tua não concordância com o primeiro parágrafo do meu comentário está em contradição com o último período do teu.
Porque é disso que se trata efectivamente: de uma vitória daqueles que lutam sub-repticiamente para que a Europa não tenha uma plítica comum clara e inequívoca...
(jcm)
Caro José Marques (jcm),
Não tenho nada a opor ao primeiro parágrafo do teu comentário. Pelo contrário, as tuas apreensões são as minhas.
A «frase da discórdia» é do José Ferreira Marques e reza assim: “Tal como a conhecemos, a União Europeia acabou.”
Caro V. Castro,
Peço desculpa pela interpretação errada...
Eu também não concordo inteiramente com o Zé Ferreira Marques. Mas esta discussão levar-nos-ia longe demais.
(jcm)
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