A crise dos economistas
Em Portugal é quase tudo importado. Antigamente (lembram-se?) até a inflação era importada. Com a entrada no Euro já não é assim, e esta é uma das razões porque sou europeu federalista.
Além do petróleo, outro produto que nunca deixámos de importar são ideias. Se virem dois académicos em desacordo hão-de reparar que discutem ideias que não são deles. Não seria grave senão se vangloriassem disso.
A propósito de ideias, o que se ouve ultimamente é que Keynes está desactualizado. O mais intrigante é que os que o combatem são seguidores de Adam Smith, cujas ideias, além de serem mais antigas, deram força às ideologias que surgiram contra o liberalismo selvagem do século XIX (marxismo, comunismo, anarquismo, etc.).
Mas o grande chavão de agora é “a globalização e a competitividade” e o modelo a seguir – vejam só! – é a China. Esse país é o almejado paraíso dos economistas modernos, nomeadamente dos portugueses. A razão é que bate os outros todos em concorrência.
Para eles não interessa que, juntamente com os têxteis, exporte a gripe das aves e a dos porcos, ambas causadas por deficiências sanitárias em larga escala, e muito menos que condene à pena de morte – e execute – 10.000 pessoas por ano. O que importa é sucesso do modelo económico, independentemente dos mortos que ficarem pelo caminho.
Vem isto a propósito de 13 economistas que vêm para a praça pública discordar de “uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise em Portugal pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes”.
E dizem porquê: «Porque a situação é séria e o país não pode, sem pesados custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer, de forma clara, que essa ideia é errada e a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o país».
Propondo em alternativa «uma urgente e dedicada concentração de esforços visando medidas apropriadas de contenção orçamental, de incentivo económico a favor dos sectores de produtores de bens transaccionáveis, de promoção de eficiência económica e de uma moderação da despesa colectiva».
Perceberam? Eu também não, mas ajudaram-me a compreender que há dois tipos de economistas:
Os que usam o dinheiro para desenvolver o país e os que se entretêm a contar o mealheiro. Salazar gostava mais dos segundos.
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