quarta-feira, novembro 30, 2005

A carta aberta

O meu querido amigo Patrick, dos Anjos e Demónios, dirigiu-me uma carta aberta, reagindo com um extenso texto à simplicidade do meu post intitulado “Liberalismo e Civilização”. Naturalmente não discordo de tudo o que escreveu, mas toda a carta tem resposta e não posso deixar de ressalvar alguns aspectos:

- O Modelo Social Europeu tem boas provas dadas e é um conceito bem diferente do usado pelo fundamentalismo liberal (“Estado Providência”) para o combater. Tal como o descrevem os liberais, o “Estado Providência” só se encontra nos regimes comunistas.

- Quanto à conclusão final do seu texto de que “O Estado deverá garantir as questões relacionadas com a segurança e a justiça, passando áreas como a Saúde, Água, Transportes, Comunicações, Energia e Educação a estar entregues aos privados”, convém esclarecer:

Os sectores da “Saúde, Água, Transportes, Comunicações, Energia e Educação” ou já estão abertos à iniciativa privada (Saúde, Transportes, Comunicações, Educação, Energia) ou em vias disso (Água).
Constata-se porém que quando a iniciativa privada intervém nestes sectores (Saúde, Educação, Transportes e mesmo Comunicações) não tem respondido capazmente, quer em quantidade – veja-se a irrelevância nacional dos hospitais privados – quer em qualidade (v.g. ensino superior privado).

Aliás não se conhece um único país no mundo onde a “Saúde, Água, Transportes, Comunicações, Energia e Educação”, estejam totalmente dependentes da iniciativa privada. A regra é o contrário.

Por isso, se, como afirma, for verdade “que as teorias liberais têm sofrido evolução”, não há dúvida de que terão de continuar a evoluir para serem socialmente aceitáveis.

6 Comentários:

Às 30/11/05, 14:24 , Blogger j disse...

Não estou com disposição para discutir o "sexo dos anjos". Nem com disposição, nem com paciência. Aliás, até acho que não vale a pena gastar tempo a tentar esgrimir ideias com quem começa por não ver a realidade.
No entanto, ainda assim gostaria de perguntar como é que os ultra-liberais que por aí pululam (devem gostar muito dos actuais "patrões" americanos!) me explicam as razões para o aprofundamento, cada vez maior, das diferenças sociais. Isto é, entre ricos e pobres. Cá para mim, no meu pobre entendimento, acho que isso se deve à "evolução das ideias liberais"!!!

 
Às 30/11/05, 15:18 , Anonymous Anónimo disse...

Mesmo sem disposição e sem paciência o J conseguiu produzir aqui um excelente comentário.
A realidade, que é objectiva, clara e unica, é aquela que J consegue vislumbrar mas que alguns ceguetas, eu por exemplo, teimam em não querer ver, presumo que se refere ao retumbante sucesso do Estado Social Europeu, que como se sabe, a realidae mostra que, não está falido.
O tom catedrático e "categórico" do comentário também é do meu agrado.
Aprecio sempre comentários vindos de grandes democratas: abertos ao diálogo, com vontade de saber mais e testar novas soluções; com vontade de esgrimir ideias.
Volto a repetir: o comentário, pela sua excelência, diz muito sobre uma certa casta de portugueses que já se habituaram a não aceitar tudo e que não vivem agarrados ao passado com medo do futuro.

 
Às 30/11/05, 19:37 , Blogger j disse...

Nem mais...
Sem mais... Fico-me com a sua lição de democracia, caro Patrick.
Por vários motivos, sobretudo pela enorme amizade que me liga ao democrata "dono" do blog.

 
Às 30/11/05, 23:15 , Anonymous Anónimo disse...

O democrata dono deste blog abomina o obscurantismo.
Eu, na mesma escala, não suporto a prepotência, nem de comportamentos nem das ideias, aliás orgulho-me de desde muito jovem sempre me ter bati contra todos os tipos de prepotência.
Sem ironias, e dentro de um espírito de franca camaradagem, sempre lhe digo que não há necessidade de nos escondermos atrás de amizades para nos furtarmos ao combate das ideias.
Eu da minha parte nunca arranjei uma única inimizade por discutir aberta e francamente sobre todos os temas.
O mais importante, no entanto, é que do meu ponto de vista o actual modelo de sociedade, em Portugal, está esgotado.
E, para o alterar, tendo sempre como limite as barreiras da democracia, todos somos poucos.
Da minha parte, tenho muito gosto, em partilhar pontos de vista com todos, desde que haja margem para o confronto de ideias.
Para outro tipo de peditórios não contribuo.

 
Às 02/12/05, 11:20 , Blogger j disse...

Então cá estaremos, sempre, meu caro Patrick. Ainda que, por vezes, a emoção esconda a razão, há sempre espaço para a descoberta da(s) verdade(s)...

 
Às 02/12/05, 16:59 , Anonymous Anónimo disse...

Sou dos que pensam que a essência da questão está menos na produção de riqueza do que na distribuição da mesma e que não será através do liberalismo que vamos lá chegar.
Li, com muito interesse, os diferentes pontos de vista manifestados neste e noutros blogs, e pareceu-me ter cruzado gente douta, quer em macroecomia quer em economia política.
No que me toca, não posso ir por aí por falta de arcaboiço – Smith, Ricardo, Malthus, Marx, Keynes, Schumpeter, Galbraith e outras aventesmas do mesmo calibre, consumiram-me os neurónios, já há muito tempo, mas não deixaram lastro bastante (nem eu cultivei suficientemente o que deixaram) para me permitir, agora, citá-los com autoridade.
Joseph Schumpeter dizia (Capitalism, Socialism and Democracy): – «Pode o capitalismo sobreviver? Não, não creio que possa. Mas esta opinião pessoal (…) é em si completamente desprovida de interesse. (…) A análise, seja ela económica ou aferente a outras disciplinas, nunca fornece senão uma exposição relativa às tendências discerníveis num modelo observado. Ora, tais tendências nunca nos indicam o que acontecerá ao modelo, mas apenas o que lhe aconteceria se elas continuassem a agir como agiram durante o intervalo de tempo coberto pela nossa observação e se outros factores não interviessem». É, pois, confortado com estas sábias observações e fazendo jus do que fui vendo e vivendo nas minhas pobres seis décadas de existência que eu digo com convicção: – liberalismo? não, muito obrigado.
Dizer que o interesse privado é o motor do progresso, é argumento de peso e, em minha opinião, dificilmente refutável. Mas, a partir daí, esperar que a sociedade humana funcione na base do «chacun pour soi» é aceitar a lei do mais forte. Interesse privado e solidariedade não indo de par, cabe ao Estado intervir como elemento regulador e garante da solidariedade que, como diz JFM, nos distingue da bicharada.
Para terminar, e porque vem a propósito, deixo aqui duas amostras de comportamento, difundidas pela imprensa, esta semana:
– três gigantes da indústria de telecomunicações francesa (Orange, SFR e Bouygues) acabam de ser multados em 534 milhões de euros, por terem iludido o público consumidor com práticas de falsa concorrência – repartiram o mercado entre eles e combinaram as tarifas;
– no site alemão «Jobdumping.de» e no seu homólogo francês «Jobdealer.net» são propostos empregos em leilão invertido, ou seja, com um salário a partir do qual os candidatos podem começar a baixar, ganhando o que aceitar o salário mais baixo.
“C’est pas beau, ça ” ?
Mundo cão !
VHC

 

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