sexta-feira, março 10, 2006

O dia em que as caravelas partiram

Podia ser do nevoeiro que cobria os morros da outra banda, mas o sol ainda não batia na Calçada da Ajuda, quando o primeiro soldado da GNR entrou na cavalariça. O esquadrão, que os cortes do orçamento tornavam invisível, não podia fazer má figura quando escoltasse o novo senhor, na cavalgada entre os Jerónimos e o Palácio. Havia que limpar os cavalos, ver se faltavam cravos nas ferraduras, inspeccionar os arreios e puxar o lustro aos cabedais.

À mesma hora, do outro lado do Tejo, zarpava do Alfeite uma fragata municiada com granadas de pólvora seca para a salva da praxe.

Em terra, enquanto a guarda de honra, com tropas de terra, mar e ar, ocupava a escadaria do Palácio de S. Bento, lá dentro a banda da GNR afinava o hino Nacional.
Estava tudo a postos e por toda a cidade a polícia desmembrava-se em correrias, transportando os convidados para as cortes.

Ia a meio a manhã, quando Maria Cavaco Silva saiu do automóvel e viu caravelas no Tejo. Se não era o Gama, nem o desnorteado do Cabral, quem mais poderia ser senão os velhos do Restelo que nunca se afastavam de Belém?

1 Comentários:

Às 10/03/06, 11:53 , Blogger j disse...

—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

Lusíadas, Canto IV, est. 95

 

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