"Há
um ano, o PSD ganhou as eleições legislativas antecipadas,
o que lhe permitiu formar governo, em coligação com o CDS-PP. É irrelevante
falar hoje nas três falsidades em que assentou a estratégia de Passos Coelho e
que lhe deram a vitória eleitoral, mas nunca é de mais relembrá-las: 1) votar
contra o PEC IV, fundamentando a rejeição na “extrema violência contra os
portugueses” das medidas aí propostas; 2) forçar, com essa rejeição, o pedido
de intervenção financeira externa, escondendo que era a única oportunidade de
poder executar o programa do PSD a coberto da execução do acordo com a troika;
3) fazer uma campanha eleitoral “cor-de-rosa”, contra o despesismo do Estado e
pelo bem-estar dos cidadãos, cujo paradigma foi a resposta a uma jovem
estudante sobre a intenção de cortes nos subsídios de férias e de Natal - “um
disparate”. É evidente que estas três falsidades assentaram que nem luva no
contexto: José Sócrates estava esgotado, pessoal e politicamente, arrastando
consigo o PS; o PCP, que pouco mais representa do que um adorno na lapela da
nossa democracia - eleitoralmente, não aquece, nem arrefece – está sempre a
sonhar, desde Novembro de 1975, com uma “grande vitória eleitoral dos
comunistas”; e só a cegueira política e a ambição pessoal de Francisco Louçã,
que é ao mesmo tempo, o herói e o coveiro do Bloco de Esquerda, o levaram a
pensar que a derrota eleitoral do PS corresponderia à ascensão da
extrema-esquerda. Tudo somado, permitiu que o PCP e o BE contribuíssem para a
concretização do projecto de poder deste PSD.
Passado um ano de governo de
Direita, o quadro do país é desolador e a piorar dia a dia. O que o PSD quer
para Portugal conduz-nos inevitavelmente à ruína. E todos os indicadores o comprovam.
As receitas do Estado diminuem consideravelmente, apesar do drástico aumento de
impostos, enquanto as despesas do Estado aumentam (e já ninguém se lembra
daquela “história” das poupanças nos gastos “intermédios”); os prejuízos das
empresas do Estado duplicam em relação a igual período do ano passado –
duplicam, sublinhe-se -, ora pela quebra de receita, ora pelo aumento dos
encargos financeiros; o desemprego atinge níveis socialmente insustentáveis; os
salários dos portugueses (mais de 60% dos portugueses que trabalham por conta
de outrem ganha menos de 900 euros) são reduzidos significativamente; o consumo
cai a pique e a economia definha, o endividamento externo cresce, enquanto o
cumprimento das metas do deficit orçamental são cada vez mais uma miragem.
Exactamente o contrário dos objectivos que o governo se propunha atingir. Como
disse há dias a insuspeita Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças
Públicas, estamos a caminho do “terceiro mundo, ou mesmo do quarto”. Não há,
neste percurso, incompetência ou impreparação. A destruição da economia
portuguesa e o empobrecimento dos portugueses fazem parte de um plano gizado em
Berlim, pela senhora Merkel, e que, entre nós, tem em Passos Coelho um dos seus
mais fiéis seguidores, cujo alinhamento com a Alemanha, na última Cimeira
europeia informal, roçou um servilismo que só estávamos habituados a ver nos
dirigentes do PCP, em relação à antiga União Soviética, quando lhes chamavam “o
Sol da Terra”.
Podíamos ainda, crédulos e
benevolentes, aceitar o empobrecimento em curso, como parte da “expiação” dos
nossos “pecados”, sobretudo por termos “vivido muitos anos acima das nossas
possibilidades”, como nos dizem o governo e os seus mensageiros. Mas, para que
isso acontecesse, era necessário que o governo se comportasse à altura dos
sacrifícios que impõe à maioria dos portugueses. O que não acontece, antes pelo
contrário. O governo não diminui as despesas do Estado em serventias e
mordomias e continua a viver acima das nossas possibilidades. É ver, por todos,
o exemplo de António Borges, a quem o governo paga, com o dinheiro dos
contribuintes, 25 mil euros por mês, para o aconselhamento sobre as
privatizações. O mesmo senhor que, sem pingo de vergonha, qual abutre sobre a
presa, diz que é urgente diminuir ainda mais os salários dos portugueses. Dos
portugueses que já vivem na miséria, já se sabe. Em menos de um ano,
percebeu-se que chegar de mota à tomada de posse ou viajar de avião em classe
turística faziam parte de uma rábula bem urdida."