quarta-feira, novembro 30, 2005

Estacionamento ao ar livre















By Patrícia

A carta aberta

O meu querido amigo Patrick, dos Anjos e Demónios, dirigiu-me uma carta aberta, reagindo com um extenso texto à simplicidade do meu post intitulado “Liberalismo e Civilização”. Naturalmente não discordo de tudo o que escreveu, mas toda a carta tem resposta e não posso deixar de ressalvar alguns aspectos:

- O Modelo Social Europeu tem boas provas dadas e é um conceito bem diferente do usado pelo fundamentalismo liberal (“Estado Providência”) para o combater. Tal como o descrevem os liberais, o “Estado Providência” só se encontra nos regimes comunistas.

- Quanto à conclusão final do seu texto de que “O Estado deverá garantir as questões relacionadas com a segurança e a justiça, passando áreas como a Saúde, Água, Transportes, Comunicações, Energia e Educação a estar entregues aos privados”, convém esclarecer:

Os sectores da “Saúde, Água, Transportes, Comunicações, Energia e Educação” ou já estão abertos à iniciativa privada (Saúde, Transportes, Comunicações, Educação, Energia) ou em vias disso (Água).
Constata-se porém que quando a iniciativa privada intervém nestes sectores (Saúde, Educação, Transportes e mesmo Comunicações) não tem respondido capazmente, quer em quantidade – veja-se a irrelevância nacional dos hospitais privados – quer em qualidade (v.g. ensino superior privado).

Aliás não se conhece um único país no mundo onde a “Saúde, Água, Transportes, Comunicações, Energia e Educação”, estejam totalmente dependentes da iniciativa privada. A regra é o contrário.

Por isso, se, como afirma, for verdade “que as teorias liberais têm sofrido evolução”, não há dúvida de que terão de continuar a evoluir para serem socialmente aceitáveis.

terça-feira, novembro 29, 2005

Pulsares

“Por isso me soa a estranho ouvir cavaco Silva a usar as palavras de Kennedy como se fosse ele o criador do discurso e, num gesto de puro oportunismo, sem referir o autor, como se estivesse a escrever uma sebenta de introdução à economia.”
“Esperava tudo da família Cavaco Silva, mas confesso que me surpreenderam ao andarem armados em Kennedys de Boliqueime.”
(O jumento, OS KENNEDYS DE BOLIQUEIME)

“Porque o grande falhanço de "Bilhete de Identidade" (de Maria Filomena Mónica) é este: intelectualmente não tem qualquer interesse.
…estima-se a falta de análises e de reflexões dignas do seu estatuto académico, algo que torne o livro mais do que uma selecta de mexericos de província, conversas de vizinhos e descrição dos círculos elegantes.”
(Esplanar, Bom Dia Memória)

“A sociedade deverá, ainda na mesma linha de pensamento, dar passos no sentido de se libertar de símbolos discriminatórios em locais públicos, mesmo que admitamos que, muitas vezes, eles são colocados por genuína simpatia e compaixão.”
(Blasfémias, Símbolos discriminatórios)

“…importa referir que na próxima quinta-feira devem os alfacinhas reunir-se na Praça dos Restauradores ao bater das quatro da tarde, para homenagear os Heróis de 1640.”
(Último Reduto, Agenda de actualidades)

Liberalismo e civilização

Embora com diferentes nuances, aqui e ali tem havido discussões sobre a natureza filosófica do liberalismo.
Alguns teóricos ainda não perceberam que sem a solidariedade que faz de nós humanos, sem a moral que suporta a vida em sociedade e sem o Estado a colmatar-lhe os danos que provoca, o liberalismo não andaria longe da barbárie.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Litigância de boa fé

Sendo embora órgãos de soberania, os juízes fizeram greve como qualquer trabalhador. Porém, ao contrário dos outros que trabalham subordinados a uma hierarquia, ninguém controlou as faltas dos juízes que são a hierarquia dos tribunais.

Ora como apenas 58% dos juízes descontaram os dias de greve no seu vencimento, só pode ser esta a percentagem de adesão à greve e não 95%, como foi oportunamente reivindicado.

Qualquer outro raciocínio, nomeadamente o do presidente da Associação Sindical dos Juízes, que defende que “quem adere à greve não tem que comunicar”, não salvaguarda a boa fé dos juízes em todo este processo.

Televisão pimba


Se as telenovelas portuguesas são um sucedâneo imaturo da xaropada que há anos nos chega do Brasil, programas do tipo “Big Brother” e “Quinta das Celebridades”, para lá da sua intrínseca inutilidade, vieram acentuar a alienação cívica que caracteriza a programação das nossas televisões.

Prosseguindo numa linha concorrencial que obedece ao princípio do “quanto mais rasca melhor”, as três televisões generalistas (RTP1, SIC, TVI) enchem as tardes e as manhãs com programas populistas que oscilam entre o folclore pimba e a ordinarice brejeira de um jet set alternativo que vem acabar a “naite” nos sofás dos programas da manhã.

Os figurinos são todos iguais. Um pivot mais ou menos popular, uma menina decotada q.b. e um bobo que se disfarça de palhaço, ou arranha uma lastimável imitação de alentejano.
Uma orquestra de cabaret, sem ofensa para estas, e um público amestrado atrás das câmaras garantem o arraial final.

O prato forte dos programas são os telefonemas que elogiam os pivots e saúdam toda a freguesia, enquanto em rodapé passam anúncios de gente que se desencontrou e declarações de amor das Katias Vanessas deste país adolescente. Alguns programas buscam o insólito, como o homem que cospe mais longe, ou a mulher que se esqueceu do filho na maternidade.
Mas os que têm mais saída são os que apostam em convidados que se enfeitam de enchidos e doces regionais trazidos directamente das fábricas e falam de aldeias miseráveis - onde já ninguém vive - como se fossem paraísos.

Num país que não lê jornais e só ouve rádio no carro, só a televisão chega a todos os lares. Porém, exceptuando alguns programas informativos (v.g. “Prós e contras”), a generalidade da programação das televisões nacionais é de uma esterilidade confrangedora e não contribui para o desenvolvimento sociológico do país.

domingo, novembro 27, 2005

O crime de Carcavelos

As notícias divulgadas nas diferentes edições de telejornais; e nos vários jornais sobre o arrastão de Carcavelos são qualificadas pela Alta Autoridade para a Comunicação Social como uma "versão deturpada, enganadora [e] tendenciosa dos acontecimentos", que levou a acções de "racismo e xenofobia", e passaram "para o estrangeiro uma imagem errada do espírito de convivência interracial e de paz social que se vive em Portugal".

AACS acusa ainda a generalidade dos órgãos de comunicação de "evidente falta de rigor informativo, isenção e de objectividade. Os media "deveriam ter assumido publicamente o seu erro" e "formulado um pedido de desculpas à opinião pública em geral e às comunidades de raça negra e de emigrantes em geral", acrescenta.

sábado, novembro 26, 2005

Arrogância cultural, ou ignorância arrogante?

Há alguns dias que anda por aí alguma controvérsia porque Mário Soares disse que um Presidente da República deveria conhecer os Lusíadas. Os apoiantes de Cavaco Silva sentiram-se e classificaram a tirada de arrogância cultural, contra-atacando: que, ao contrário de Mário Soares que nasceu num berço de oiro, o professor de Boliqueime era pobre, o que presumivelmente desculparia as suas lacunas culturais.

Por essa lógica, Saramago, que não tinha dinheiro para livros, nunca teria chegado ao Nobel da Literatura.

Mas nem o professor de Boliqueime era assim tão pobre, atendendo à época, nem a afirmação de Mário Soares pode ser apelidada de arrogância cultural. Tratou-se de um mero simbolismo sobre as competências generalistas da função presidencial, embora não passe pela cabeça de ninguém que tivesse havido algum presidente que não tenha lido os Lusíadas.

O que não pode passar sem reparo são as tentativas de fazer da ignorância arrogante uma mais-valia eleitoral.

sexta-feira, novembro 25, 2005

As verdades da justiça

"O actual poder executivo passou a dizer que os tribunais fecham três meses por ano, o que não é verdade; passou a declarar que os juízes precisam de trabalhar mais para ter a justiça em dia, o que é inverdade; passou a afirmar que os juízes querem estar acima de tudo e de todos, o que não é verdade.

Já anteriormente (“O purgatório da justiça”) tínhamos estranhado que as mais altas responsabilidades da justiça portuguesa estivessem entregues a um homem que nas suas intervenções aparenta dificuldade em acompanhar o que lê.
Se a justiça portuguesa correspondesse à sua imagem, às estátuas que a representam cega deveriam juntar-lhe a surdez, por não reagir às gargalhadas que provoca.

Os juízes poderão obter a compreensão do Presidente da Republica, quando se queixam deste governo e das suas condições de trabalho. Mas, estando o governo em funções há oito meses, como poderão convencer o país de que os palácios onde trabalham são os únicos responsáveis pela degradação da justiça nas últimas décadas?

Será por isso que o povo acredita nas “mentiras” do governo e não nas “verdades” dos juízes, como lamenta o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça?

Morreu uma lenda



George Best

quinta-feira, novembro 24, 2005

O pecado de nascer diferente

Desde a sua fundação, as relações da Igreja Católica com a sexualidade sempre foram inquinadas e a penitência do celibato não apaga a memória dos desmandos que as paredes dos palácios pontifícios testemunharam ao longo dos séculos.

Daí que uma discussão sobre sexualidade com a hierarquia eclesiástica resulte numa discussão sobre o sexo dos anjos, mas se há dúvidas quanto ao órgão sexual destas criaturas celestiais, há muitas provas de que os padres e os bispos não são anjos.

Por isso não confundo a Igreja Católica com a sua hierarquia, o Papa com Jesus, ou as encíclicas com os Evangelhos, nem tão pouco me surpreende que os bispos e o Papa queiram impedir o sacerdócio aos homossexuais.
Esta medida parece um exorcismo trapalhão para aplacar o fantasma das denúncias de abusos sexuais praticadas por membros do clero que surgem um pouco por todo o lado. Doutra forma não se percebe o seu alcance, uma vez que não se enxerga bem como vão fazer os testes de machismo (!?) aos candidatos. Só se exigirem provas práticas…

Em qualquer caso, o fundamento desta decisão não está nos Evangelhos, como também não se encontravam lá os argumentos para vedar o sacerdócio às mulheres ou o casamento aos padres. São fugas para a frente, na senda da almejada Contra-Reforma que a personalidade de Bento XVI incentiva.

Só os comportamentos são sancionáveis. Não o “pecado” de nascer diferente.

Eucalyptus



'Cavaco é como um eucalipto: provoca aridez à sua volta'

(Miguel Cadilhe)

quarta-feira, novembro 23, 2005

Ota, os Lusíadas e o ADN

Não me surpreende esta discussão sobre os aeroportos. Olhando para a nossa iniciativa privada percebe-se que a hesitação faz parte do nosso ADN. Também nos descobrimentos nos dividimos: enquanto uns iam nas caravelas, outros resmungavam no cais, diz-nos Camões.

Por mim também preferia que ficasse tudo como está. Habituei-me à Portela desde o tempo em que ia para o varandim ver aterrar os Superconstelations e fica mesmo a jeito para esperar a família que se pela por viajar. Porém, se a Portela não suporta o tráfego que aí vem, é natural que se construa um novo aeroporto.

Não tenho conhecimentos específicos que suportem a defesa desta ou daquela localização, mas do mesmo mal padece a generalidade dos opositores do aeroporto da Ota.
Entre eles e um “Excelente Primeiro-ministro”, no dizer de Belmiro de Azevedo, eleito pelo povo, não hesito.
A minha esperança é que, quando o novo aeroporto ficar pronto, o tráfego já tenha aumentado tanto que não se possa dispensar a Portela.

terça-feira, novembro 22, 2005

Aula Magna

Percorro os blogs que estão ali à direita e nada; clico em todos os jornais que tenho nos favoritos e nem uma linha; vou à SIC, à TSF e à LUSA, e não vejo uma imagem ou um som; já desisto quando abro o bric-a-brac do Google News, mas nem aí há rasto da notícia. Se ela tivesse sido massacrada, teria honras de primeira página.

O cenário parecia apropriado:
Enganadoramente à sua esquerda, um senhor que as legendas identificaram (“Professor Catedrático da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e Vice-Reitor da Universidade de Lisboa”) fez jus ao curriculum e levou a noite a debitar academismos inconsequentes.
Do outro lado, um ex-ministro da educação do partido da oposição esboçou refugiar-se em formalismos, mas acabou a concordar com todas as propostas que ela tinha posto em prática.
Por fim, num manifesto erro de casting da produção do programa, uma professora reformada passou o debate noutro planeta.

Na plateia, como vem sendo hábito, uma turba ávida de sangue ministerial era encabeçada por sindicalistas vitalícios que há muito deixaram de combater o capital e se acobertam atrás da mediocridade que delapida os orçamentos.
Visivelmente satisfeito por estar na televisão, um representante dos pais (!) também marcou presença.

Bastou dar palavra à Ministra da Educação para se sentir o desconforto dos adversários. Eram ratos à luz do dia, ansiosos por voltar para as tocas.

Os que não viram a sinceridade, a honestidade intelectual e a coragem, com que a Excelente Ministra da Educação afrontou a demagogia e defendeu o direito dos nossos filhos à educação, perderam a oportunidade de assistir a uma verdadeira Aula Magna.

(Debate sobre educação, ontem no programa “Prós e Contras” da RTP1)

segunda-feira, novembro 21, 2005

Todos p'ró golfe

A sugestão de Jorge Sampaio de “levar o golfe às escolas” foi imerecidamente criticada por comentadores de vistas curtas que não alcançam horizontes presidenciais.
De facto, trata-se de uma ideia brilhante que mata dois coelhos duma cajadada, ou tacada se preferirem.
Se espalharmos campos de golfe nas áreas ardidas, por um lado disfarçamos aquele horrível tom acastanhado que cobre as nossas serras e, por outro, acabamos de vez com os fogos florestais, pois toda a gente sabe que um campo de golfe, além de ser verde, é incombustível.
É certo que criávamos um problema às televisões que deixavam de ter directos incandescentes e “meios aéreos a sobrevoar a área ardida”, mas podíamos substituí-los por campeonatos de golfe, como foi sugerido noutro blogue.
Se mesmo assim considerarem a ideia estapafúrdia e argumentarem que no Verão a água não chega para matar a sede aos rebanhos, façam contas à que os bombeiros lançam sobre os fogos que ardem até acabar a lenha. Quantos campos de golfe se regavam com essa água…

Esta é mais uma razão para aumentar os poderes do Presidente da República, pois ninguém está a ver este governo, ou outro, a fazer um campo de golfe em cada freguesia.
Por outro lado, como o PR muito bem sabe, ao preço a que estão as jóias dos clubes de golfe, se não for através do orçamento, quem é que lá pode chegar?

A rejeição do criador

O que levará Ariel Sharon a abandonar o partido que fundou e dirige, para fundar outro?

Há muito que os valores, os hábitos, a cultura e a filosofia, deixaram de ser axiomáticos e na política só valem quando não contrariam o pragmatismo.

Os partidos surgem em conjunturas específicas e são naturalmente conservadores, como todas as instituições. Os aparelhos que os dominam reagem mal às mudanças e tendem a fechar-se sobre si mesmos, não acompanhando o ritmo da sociedade.

Quando isso sucede, é preferível abandonar o barco do que naufragar com ele.

Memórias do cinema

A propósito dos 30 anos do cinema Quarteto, que para comemorar a data vai praticar preços simbólicos, fiquei a saber que é o cinema mais antigo de Lisboa e dei por mim a cismar que as salas onde me iniciei no fascínio do cinema já não existem ou mudaram de ramo.

A sua memória esbate-se pouco a pouco e são cada vez menos os que se lembram dos filmes que viram no Monumental, Alvalade, Roma, Império, Estúdio, Estúdio 444, Aviz, S. Jorge, Tivoli, Éden, Condes, Odeon, Olímpia, Lis, Imperial, Berna, Nimas, Cinearte, Europa, Paris, Jardim Cinema, Chiado Terrasse, Restelo, para já não falar do Salão Lisboa, Galo, Royal, Oriente, Arco-íris e outros piolhos…

domingo, novembro 20, 2005

Vidas passadas

Para os que acreditam na reincarnação, vejam lá o que me saiu na rifa quando mergulhei no passado:

"I don't know how you feel about it, but you were female in your last earthly incarnation.You were born somewhere in the territory of modern North Australia around the year 1275.Your profession was that of a preacher, publisher or writer of ancient inscriptions.
Your brief psychological profile in your past life:Timid, constrained, quiet person. You had creative talents, which waited until this life to be liberated. Sometimes your environment considered you strange.
The lesson that your last past life brought to your present incarnation:Your main lesson is to develop magnanimity and a feeling of brotherhood. Try to become less adhered to material property and learn to take only as much, as you can give back.
Do you remember now?"



Se houver mais alguém que queira saber o que foi noutras vidas, o site da bruxa é aqui, com a devida vénia ao "Homem ao Mar"( http://www.homem-ao-mar.blogspot.com).

Por caminhos velhos

Cumprindo uma tradição de transumância, um milhar de ovelhas atravessa hoje o centro de Madrid, passando pela Puerta del Sol, Puerta de Alcalá e Palácio Real.
Segundo os jornais espanhóis, os pastores da Extremadura, Cantábria, Castela e León exercem um direito de passagem que remonta à Idade Média e preservam um legado histórico-cultural único no mundo.

Em Portugal também há algumas efemérides que recordam os tempos em que os rebanhos abandonavam as serras aos rigores do Inverno e ocupavam os vales. A mais conhecida era a transumância dos rebanhos da Serra da Estrela que no Inverno demandavam os pastos da Idanha.

Cada um tem o umbigo que merece

O umbigo tende a falar mais à noite, a irritação, a quezília, a mesquinhez, a inveja mais de dia”, escreveu há pouco tempo José Pacheco Pereira, no seu Abrupto.

Lembrei-me disso agora que são cinco da manhã e liguei o computador, mas não me sai nada.
Porque será que ao contrário dos outros, este meu umbigo teima em ficar enroscado, mesquinho e quezilento, irritado por se levantar tão cedo?
Como eu, deve ter inveja dos umbigos que não acordam com o barulho desta chuva que faz esquecer a seca, mas não me deixa dormir...

sábado, novembro 19, 2005

LINKS


Ora aqui está um site ao nível de alguns comentários que aparecem por aí.
















By Patrícia

sexta-feira, novembro 18, 2005

'Bring them home'

A história demonstra que o tempo corrói os exércitos que se aventuram fora de portas. Napoleão e Hitler sonhavam conquistar a Rússia, mas as suas divisões bem preparadas não sobreviveram aos Invernos das estepes. O mesmo sucedeu às tropas americanas cujo poderio inigualável não chegou para se impor na selva vietnamita.

Actualmente, num mundo onde a informação circula de uma ponta à outra do globo à velocidade da luz, a manutenção de uma guerra prolongada além fronteiras é ainda mais problemática. Se os soldados americanos usam blogs para comunicar com a família, as hierarquias militares dificilmente poderão impedi-los de acompanhar as movimentações da sociedade americana para os fazer regressar.

Personalidades que apoiaram a intervenção dos Estados Unidos no Iraque, como John Kerry, estão agora a rever as suas posições no sentido de acabar com aquilo que parece ser uma inútil e ininterrupta perda de vidas.
Para os mais velhos, estas manifestações são um déjà vu do que se passou com o Vietname e o fim não será muito diferente.

Títulos de um dia cinzento

Militar português morre numa explosão em Cabul”

Série de choques em cadeia na A1 envolve 80 viaturas e causa 3 mortos

Greve dos professores

Professores faltaram nove milhões de horas de aulas

Em Portugal, há hospitais com mais médicos do que camas

Estado pagou indevidamente 69,6 milhões ao Amadora-Sintra

quinta-feira, novembro 17, 2005

"Uma vergonha nacional"

Quando um ministro declara a sua impotência perante os lobis que controlam a área de intervenção do seu ministério, reconhece também que não são os governos que controlam a Administração Publica, mas os conglomerados de interesses que gravitam na órbita dos diferentes ministérios, delapidando os orçamentos sem preocupações de défices.
Embora não sejam os seus autores materiais, são eles que condicionam as leis e se os governos ameaçam alterá-las para beneficiar o interesse geral, não olham a meios para o impedir.

Embora possa parecer, não são apenas questões orçamentais que estão em causa nas confrontações (manifestações é outra coisa) que este governo tem enfrentado: professores, magistrados, militares, polícias etc.
O que está a ser posto em causa é a própria autoridade do Estado, dada a sua incapacidade para se desenvencilhar da teia de interesses em que se deixou enredar.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Ah ganda Varela!




Varela dá vantagem a Portugal (2-1)
"recebe a bola de João Moutinho, progride na área adversária e remata por entre as pernas do guarda-redes suíço."

Poligamia (ou os netos de Ben Bella, parte II)

Quando aqui em baixo afirmámos que “a inclusão dos imigrantes numa sociedade não se pode fazer contra os valores dessa sociedade” estávamos também a falar disto:

tout le monde s'étonne : pourquoi les enfants africains sont dans la rue et pas à l'école? Pourquoi leurs parents ne peuvent pas acheter un appartement ? C'est clair, pourquoi : beaucoup de ces Africains, je vous le dis, sont polygames. Dans un appartement, il y a trois ou quatre femmes et 25 enfants.”

Esta afirmação é de Hélène Carrère d'Encausse, secretária vitalícia da Academia Francesa, que aponta a poligamia como uma das causas do surto de violência nos subúrbios de Paris. “Esta gente vem directamente das suas aldeias africanas. Ora a cidade de Paris e as outras cidades europeias não são aldeias africanas”, acrescentou, alertando para o choque cultural que aqueles imigrantes enfrentam ao chegar à Europa.


Embora a poligamia seja proibida e punida com prisão em França, os poderes públicos tem-se mostrado permissivos com quem a pratica ("étrangement laxistes"). Porém, uma vez conhecida a sua situação familiar, a possibilidade de um trabalhador polígamo arranjar emprego é praticamente nula, tornando-se presa fácil da marginalidade.

(Le Monde)

terça-feira, novembro 15, 2005

Espiões no reino da Dinamarca




















By Patrícia

A palavra a quem sabe

Numa caixa de comentários ali em baixo (“Os netos de Ben Bella”), o meu amigo Victor Hugo Castro fez questão de deixar estas notas sobre a actual onda de violência em França. Fá-lo com a legitimidade de quem conhece há décadas os problemas da imigração e com a certeza de quem lá vive há muitos anos. Por merecerem mais visibilidade do que a caixa de comentários, aqui se transcrevem as suas considerações:


“Na minha opinião, estamos perante um assunto que, por demasiado extenso e complexo, não “cabe” neste espaço. Mas como estou no terreno – salvo seja! – e vivo “côte à côte” com os problemas da imigração em França, não ficaria bem comigo próprio se não deitasse aqui a minha colherada.
Os bandos de jovens que têm vindo a semear desordem e violência nos arredores de algumas das grandes cidades francesas, não são apenas os netos de Ben Bella mesmo se, nestes, quisermos incluir os descendentes dos imigrantes de todos os países do Norte de África. De facto aqueles bandos integram senegaleses, marfinenses e outras etnias oriundas de antigas colónias francesas, além dos franceses, que são muitos, descendentes, em terceira ou quarta geração, de imigrantes provenientes das mesmas origens.
Relativamente à explosão de violência e vandalismo que atingiu este país, estamos todos de acordo em afirmar que ela é inadmissível e imperdoável. Mas que dizer das causas que a terão determinado?
Basicamente, a política colonial da França não se distinguiu, por aí fora, da que praticaram os outros países “civilizadores”. Até aqui, mesmas causas mesmos efeitos, nenhum dos países em questão conseguiu subtrair-se à herança legada por aquela política. Onde a França se distinguiu foi no desprezo a que votou os seus “protegidos” africanos, sobretudo senegaleses, após os ter utilizado na guerra, como carne para canhão, e os argelinos que optaram por uma Argélia francesa e por ela se bateram nas fileiras do exército francês. Mesmo se não foram estes os factos que despoletaram a bomba da violência, é mais do que certo que eles tiveram um efeito multiplicador nos ódios e rancores acumulados no seio das famílias atingidas por tal desprezo.

Quanto às causas profundas da explosão, elas são conhecidas e reconhecidas por todos as famílias políticas (exceptuando, obviamente, os neo-nazis) ao ponto de, as que passaram pelo poder, se não recusarem a mutualizar as culpas. Com a população activa dizimada pela guerra, a França, durante os “trinta gloriosos”, viu-se na imperativa necessidade de recorrer à mão-de-obra estrangeira. A necessidade era de tal ordem que os imigrantes recrutados pelas delegações do Ministério do Trabalho enviadas aos países “exportadores” representaram uma percentagem mínima do total (cerca de 10%). Os candidatos a trabalhadores imigrantes vieram por si, em catadupas sucessivas, de Itália, de Espanha, da Argélia, de Marrocos, de Portugal e de diversos países da África Negra, e foram acolhidos de braços abertos pelas empresas que os foram aquartelando “tant bien que mal”.
Muitos deles, senão a maioria, passaram por bairros de lata e alojamentos insalubres antes de serem albergados em edifícios industriais desafectados, em barracões pré-fabricados e em “lares” especialmente concebidos para o efeito – os famosos foyers, dos quais, ainda hoje, subsistem alguns. Seguiram-se os planos de urbanização urgente, para fazer face ao aumento brutal da população (construção de torres de apartamentos de aluguer moderado, na periferia dos grandes centros urbanos, destinados aos trabalhadores franceses e estrangeiros) e a legislação destinada a favorecer a integração dos imigrantes na sociedade francesa: agrupamento familiar, escolarização das crianças etc.
Só que, se a política de integração funcionou muito bem com os imigrantes europeus, relativamente aos africanos, cujos hábitos de vida (sociais, culturais, religiosos etc.) não tinham qualquer ponto comum com os da França, foi um autêntico desastre.
Daqui resultaram diversas fracturas:
- empregos que não exigiam mão-de-obra qualificada para os africanos; os outros para os europeus;
- abandono das torres pelos franceses e europeus e transformação das mesmas em guetos para os africanos;
- fracasso escolar garantido para os filhos dos africanos, por não encontrarem no seio da família nem no bairro continuidade para o que tentavam ensinar-lhes na escola.
O resto facilmente se adivinha: empobrecimento, exclusão, delinquência, revolta e tudo o que vai avec, do outro lado da sociedade.

Estamos pois diante de uma bomba de retardamento, cujo rastilho se vem queimando há 40 anos e que os diversos governos, de esquerda e de direita, todos a braços com «problemas de outra ordem», fizeram que não viram.
Para terminar, volto ao que disse no princípio: o assunto não cabe aqui. Peguei-lhe pelas pontas mais salientes e, mesmo assim, vejam lá onde já vou.”

A entrevista

Apesar de o entrevistado ter faltado à entrevista, aqui ficam alguns comentários:

“Hirto, tenso, parecendo vomitar um discurso decorado, com algumas banalidades e demagogia a rodos. Ganha de facto em estar calado.” (Blasfémias);

“Cavaco Silva não disse nada” (Anjos e Demónios);

“Votem nele. Levem-no ao colo, se quiserem. Digam dele as maravilhas que nem ele próprio acredita ser, ponham-no no altar da vossa teimosa e infundada idolatria… O homem não serve.” (Blogame mucho);

“Digamos que foi um serão televisivo interessante.Moral da conversa, tudo espremido não chega a dar uma bebida.” (Tugir);

“Por ter sido a primeira do candidato, a entrevista gerou expectativas, mesmo entre adversários. Apoiantes seus (dele), com quem falei, apressaram-se a fazer zapping para a saga do Larry David.” (da literatura);

e uma profissão de fé:

depois de muito ter ouvido dizer que a direita isto ou a esquerda aquilo... Entendo que uma esquerda moderna, liberal, sem esqueletos no armário e roupa a cheirar a naftalina gonçalvista, não pode em 2005 ter hesitações em ver Cavaco Silva como o personagem certo para ocupar o Palácio de Belém.” (grande loja do queijo limiano)

segunda-feira, novembro 14, 2005

Pedras que falam

Afinal Marialva não era um fadista que gostava de touradas. A fazer fé no folheto que um estafeta do partido, disfarçado de camionista, lhe entregou numa venda de queijos à saída do IP5, Marialva era uma aldeia onde até as pedras falavam.

Ao ler aquilo, Super Calado agitou-se no banco de trás do Mercedes, não evitando a nervura que lhe arrepiou a face esquálida. Só lhe faltava as pedras falarem! Razão tinha ele quando quis afundar as do Côa, contra a opinião das forças de bloqueio.

- Se calhar vão-me obrigar a falar – exclamou, sobressaltando Bobo de Tunes, o manda-chuva nacional que modorrava a seu lado.

- Não é preciso. Em Marialva só há velhos e são do tempo em que ninguém falava. Para eles o Calado é o melhor – sossegou-o Bobo de Tunes.
- E as pedras?
- As pedras são do tempo da Inquisição e tirando o professor Sir Aiva ninguém entende o que dizem.

Como se exorcizasse as lembranças que lhe trouxera, Super Calado atirou pela janela o folheto que em tão má hora alguma abrupta inteligência se lembrara de escrever, e fechou o vidro, reconfortando-se na silenciosa cadência do diesel da Mercedes.
E naquele dia também não falou.

Retorno

Para os amigos que se interessaram pela minha saúde, agradeço a preocupação e informo que já ando a pé, embora cambaleando um pouco mais do que o costume.
Mas não é nada que me impeça de aceitar inscrições para almoços...

domingo, novembro 13, 2005

Fátima Capital

Murmúrios de uma procissão à luz das velas:

Depois desta manifestação, ou nos convertemos todos ou não sei o que será da humanidade".

"Sou católico mas não praticante. Há coisas que não me agradam dentro da Igreja Católica, por isso deixei de ir à missa. Mas hoje é um dia especial."

"De manhã estive na Igreja Messiânica e agora venho rezar com a Nossa Senhora de Fátima".

sábado, novembro 12, 2005

Hábitos

O que faz uma pessoa doente vir aqui escrever isto, se o que escreve não determina o mundo restrito que o lê, nem é certa a sobrevivência das palavras para além da leitura?

O que a consome é a incerteza de haver alguém do outro lado para continuar um diálogo que não se dispensa e se tornou um hábito.

Volto para a cama que a gripe não dá tréguas.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Contorcionismo

O orçamento que o governo apresentou na Assembleia da República mereceu o acordo expresso da generalidade dos especialistas dos diversos quadrantes, reconhecendo que dificilmente se faria melhor tendo em conta as circunstancias em que o país se encontra.

Neste quadro, se os votos contra do PCP, Bloco de Esquerda e CDS/PP se podem entender à luz dos respectivos bloqueamentos ideológicos, o do PSD não passa de contorcionismo político de efeitos contraproducentes para a credibilidade do partido.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Fazer o trabalho de casa

Não há memória de o Ministério Publico ter estado envolvido em tanta polémica como nos últimos anos. O uso e abuso das escutas telefónicas, o excessivo recurso à prisão preventiva com danos pessoais irreparáveis para os arguidos e custos orçamentais desnecessários, as grosseiras e nada inocentes violações do segredo de justiça, o desaparecimento de cassetes com gravações telefónicas, a corrupção de funcionários da Procuradoria, as buscas domiciliarias sem fundamento aparente – de que o tabuleiro de xadrez de Jorge Coelho é apenas o exemplo mais anedótico –, enfim, nos últimos anos várias têm sido as ocasiões em que o MP ocupou as primeiras páginas, raramente por bons motivos.

A sua cedência a objectivos políticos era uma desconfiança que ninguém se atrevia a exteriorizar, mas a sentença do Tribunal da Relação que acusa o Ministério Público de "tentativa de manipulação grosseira de depoimentos", a propósito da acusação de Paulo Pedroso, veio pôr o dedo na ferida.

Não pondo em causa que ao longo dos anos as crianças da Casa Pia tenham sido vítimas de abusos, quiçá com a complacência negligente dos que tinham a obrigação de olhar por elas, sempre me causou estranheza que os arguidos do Processo Casa Pia, para além do confesso Bibi, fosse tudo gente da alta: o mais famoso humorista português, o mais conhecido animador de televisão, um proeminente político dum grande partido, um embaixador, um médico, um advogado e um director da Casa Pia.

Não os conheço pessoalmente, nem sei se são inocentes ou culpados, mas a coincidência de as acusações recaírem apenas sobre tão mediáticas personalidades deveria ter levantado as mais sérias interrogações aos investigadores. À distância do meu sofá, o que me pareceu foi que a escolha dos arguidos fora feita a pensar na sua capacidade para pagar chorudas indemnizações, dando de barato a factualidade dos actos imputados.

Ao longo do processo as opiniões divergiram, havendo gente que não pestanejou quando Catarina Pestana garantiu que “as crianças não mentem”, enquanto outros juravam que as crianças eram afinal rapagões.
Em qualquer caso, depois de o Tribunal da Relação ter considerado as declarações das testemunhas "falsas, inventadas, contraditórias e delirantes", a afirmação de Catalina Pestana só pode ser interpretada como um serôdio rebate de consciência, ou bocejo de inimputável senilidade.
Se “essas crianças" são as mesmas que suportam a acusação contra os outros arguidos, já ninguém põe as mãos no fogo pela sua credibilidade e mais uma vez fica claro que o MP não fez os trabalhos de casa.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Angola, 30 anos depois

Sendo a sua primeira visita a Angola, quando hoje à noite o avião aterrar no aeroporto 4 de Fevereiro, Jorge Sampaio não vai reparar que está no meio de um formigueiro.
Dantes, quando ainda se chamava Craveiro Lopes, o aeroporto era o limite da cidade que ficava a poente. A nascente era uma terra de ninguém, salpicada de acácias e embondeiros até às margens do Cuanza. Só a surpresa de algum poço de petróleo quebrava a monotonia do viajante que se aventurasse naquele enclave desértico.

Quando a guerra civil eclodiu, Luanda foi invadida por milhões de deslocados que a transformaram num monstro inabitável. Foi ali, a nascente do aeroporto, que as cubatas se multiplicaram como cogumelos, cercando a pista e asfixiando a cidade concebida para algumas centenas de milhares de habitantes.
Para um país catorze vezes maior que Portugal, a concentração de quase metade da sua população numa área equivalente à do concelho de Sintra é um dos seus maiores problemas. Para se fazer uma ideia do gigantismo da capital basta comparar os seus 4 milhões de habitantes com os 170 mil da segunda cidade, Huambo.

Muitos esperavam que o fim da guerra civil fizesse o povo regressar. Porém ninguém quer voltar. Se a guerra durou quase trinta anos, onde estão agora os camponeses que abandonaram os campos? Habituaram-se ao “sistema” e aqui estão mais perto dos contentores que a ajuda internacional descarrega no Porto de Luanda
Mas num ponto os adivinhos acertaram: A paz faria disparar o desenvolvimento económico e todos admitem que nos próximos anos Angola vai ter das maiores taxas de crescimento do mundo.

Infelizmente isso não garante que o seu povo saia da miséria ou dispense a ajuda internacional. Tal como noutros países de África, a riqueza produzida é filtrada pelos circuitos da corrupção e o seu impacto no desenvolvimento social do povo é quase nulo.

A corrupção é já uma fonte de inspiração para escritores como Pepetela, mas a diplomacia portuguesa não a enxerga, desconhecendo-se se a cedência de alguns poços de petróleo à Petrogal e outros negócios menos visíveis recompensem o tabu.

De qualquer modo, as boas graças do Futungo de Belas não têm diminuído a dívida e, trinta anos depois do fim do colonialismo, Jorge Sampaio ainda se arrisca ouvir essa desculpa para justificar a miséria do povo angolano.

Orfandade

Normalmente é cordato e visita-nos todas as semanas. Bastou dizer mal dos vizinhos para os órfãos lhe chamarem Pai.

terça-feira, novembro 08, 2005

Os netos de Ben Bella

As últimas vezes que a França se socorreu do estado de emergência (l’état d’urgence) foi durante a guerra da Argélia - 1955-1962 - e em 1984 na Nova Caledónia. Num caso a guerra era uma certeza (Argélia), noutro, uma ameaça (Nova Caledónia).
Agora é a própria capital que está em perigo, com os netos de Ben Bella a lançar o pânico “dans les banlieues”?
A diferença está no que os move. Enquanto os avós lutavam pela independência da Argélia, o único propósito dos netos é a desobediência civil e a generalização da instabilidade. Julgam-se vítimas de uma sociedade de cujo modelo social não abdicam, mas não suportam a ideia de ter de aceitar a disciplina e as regras da sua vivência.
A propósito, convém lembrar a reacção muçulmana à proibição do uso de sinais religiosos nas escolas públicas francesas.

A inclusão dos imigrantes numa sociedade não se pode fazer contra os valores dessa sociedade.
Para o fundamentalismo muçulmano não é assim e o resultado está à vista.

Português de subúrbio

«Karaças, meu! Par-tu-tos kornos se olhas pràs koxas da Çónia Çoraia. Topas? A gaja é kinda não topou, mas logo apalpu-lhe as tetas nem ke seja ko telemóvel. Ontem a setôra xamou os meus pais, mas eles absteram-se de ká vir, meu, e ela kaga-se toda só de pençar ke lhe póço ir às fussas."

Sobre o ensino do Português e outras derivas, em da literatura.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Mistérios de um país à beira mar

...ou o estranho casamento duma lata de Compal com uma garrafa de Sumol, apadrinhado pela Caixa Geral de Depositos. (A ler aqui)

Brandos costumes

Foi apanhado 50 (cinquenta!) vezes a conduzir sem carta, mas "nunca matou nem roubou", garante o jovem que anda a recolher assinaturas para sensibilizar o tribunal que o julgou.
"Vitorino Jorge Ferreira, natural de Sobrado, concelho de Valongo, solteiro, funcionário de restauração, diz que nunca prestou a devida atenção às multas, porque até os próprios polícias que o viam a circular de carro apenas lhe diziam "mais uma".

"Só em 2003, ano em que esteve a trabalhar em França, foi condenado 23 vezes à revelia e as penas variaram entre dois meses e um ano de prisão."

E ainda só tem 21 anos...

(Notícia do DN)

domingo, novembro 06, 2005

"Paris brûle-t-il?"






Foto Le Monde







Finalmente a pergunta de Hitler (“Brennt Paris?”) tem uma resposta positiva não do exército alemão, cuja hierarquia contornou a ordem do Fuhrer, mas dos bandos de delinquentes gerados por vagas de emigração descontrolada.

Há quem procure encontrar semelhanças entre o Maio de 1968 e os confrontos que têm ocorrido nos últimos dias na periferia de Paris.

De facto, também as movimentações de 1968 não tinham motivações definidas e começaram por ser uma reacção à actuação da polícia. Mas as semelhanças entre os dois acontecimentos ficam-se por aí.
Se em 1968 a contestação foi levada a cabo por estudantes universitários, filhos das classes favorecidas da sociedade francesa, os jovens que hoje incendeiam tudo o que podem e fazem o pesadelo da noite parisiense provêm de franjas desprotegidas e corre-lhes nas veias sangue de outras paragens.
Enquanto o Maio de 1968 foi um fenómeno cultural da guerra-fria, liderado por uma inteligentzia onde alguns ainda acreditavam nas virtualidades do sol que brilhava a Leste, as sebentas dos jovens de agora não vão além dos grafitis obscenos dos subúrbios.

Começaram com tácticas de Intifada, mas já vão na guerrilha urbana, actuando a coberto da noite. Nos países onde vigora a cultura e os valores que defendem seriam dizimados sem dó nem piedade. Aqui a impunidade dá-lhes força e não resistem à atracção do abismo.

Porém, os primeiros mortos não vão tardar e estamos nos mês do Brumário...

sábado, novembro 05, 2005

Virgens inocentes

Os que se escandalizam como virgens inocentes (JPP, por exemplo) quando Mário Soares avisa para o perigo do revanchismo direitista que anima alguns apoiantes de Cavaco Silva, já esqueceram os episódios dos governos cavaquistas onde esse revanchismo também marcou presença.

Até os burros, (perdão, Jumento), se recordam do obscurantismo cultural dos governos de Cavaco Silva, que chegou ao ponto de banir os livros de José Saramago do pavilhão português na Feira de Frankfurt.
Não sei se era a isto que Mário Soares se referia quando alertou para as fragilidades democráticas de Cavaco Silva.
Mas, se é claro que nem Cavaco Silva nem os devotos que o seguem adivinhavam que aquele anticristo viesse a ganhar o prémio Nobel da Literatura, relegando para os anais do anedotário cultural a discriminação de que foi vítima, o certo é que fica para história o acto de censura praticado sob a égide do Primeiro-Ministro de então, ou, no mínimo, beneficiando do seu proverbial e estratégico silêncio.

Que Cavaco Silva garanta agora, enquanto candidato a Presidente da República, que vai estar atento aos actos do governo, não apaga a memória das suas distracções passadas, nem tão pouco as suas promessas de respeito pela Constituição e pelas liberdades que ela consagra chegam para diluir esta nódoa obscurantista.

Que ideias tem ele?

"... agora que, segundo as sondagens, Cavaco Silva se prepara para ser meu Presidente da República nos próximos dez anos, eu acho que chegou a altura de lhe exigir o fim do silêncio conveniente.
Gostaria de saber o que pensa ele de Portugal: da justiça, da educação, da desordem territorial, da reforma da administração pública, da regionalização, do aborto, da Ota e do TGV. E o que pensa do mundo: do Iraque, do combate ao terrorismo, das relações com os regimes corruptos de África, da imigração, da adesão da Turquia à Europa, da deslocalização de empresas, da futura guerra contra o Irão.
Numa palavra, gostaria de saber que ideias tem ele, o ‘não-político’, sobre a política. Será pedir de mais a quem quer ser Presidente da República?»

(Ler o mais que escreveu Miguel Sousa Tavares no Público, aqui em da literatura)

sexta-feira, novembro 04, 2005

CIAgate

O jornal que despoletou o processo Watergate – Washington Postgarante agora que a CIA tem prisões secretas fora dos Estados Unidos onde mantém prisioneiros acusados de terrorismo.

As suspeitas recaem sobre países da Europa Oriental. A Roménia, a Polónia e a Rússia já desmentiram a existência dessas prisões nos seus territórios, mas o assunto preocupa a Comissão da União Europeia que vai questionar os estados membros. A existência dessas prisões dentro da União violaria a legislação europeia sobre direitos humanos.

O assunto continua hoje a ter destaque nas páginas do Post e Le Monde.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Mariomoto

Abruptas ondas de choque aqui, aqui e aqui.

Mas escrevem isto: "de facto há elementos do discurso de Cavaco que abrem caminho para uma ambiguidade sobre o carácter da acção política em democracia".

Comissões de honra

Cada um com seu rebanho.
As de Cavaco e Soares também têm Lobos.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Jogos da Paz

Além de provocar paixões e rivalidades que levam os adeptos a praticar actos irreflectidos, o desporto também gera aproximações. É por isso que os adversários se abraçam no fim dos jogos, reconciliando-se depois de terem tentado derrotar-se.

Sendo uma linguagem universal, o desporto facilita as relações entre os povos e pode ser um veículo para a paz. Foi pelo desporto que a China se aproximou do Ocidente quando, em Abril de 1971, a equipa chinesa de pingue-pongue convidou a sua congénere americana. Seriam os primeiros americanos a entrar na China depois de 1949, abrindo a porta a Nixon que visitaria Pequim, dando um passo importante para acabar com a guerra do Vietname.

Também a decisão de as duas da Coreia do Norte e da Coreia do Sul se apresentarem sob a mesma bandeira nos Jogos da Ásia Oriental, em Macau, pode vir a significar o fim da guerra-fria naquelas paragens.

terça-feira, novembro 01, 2005

O pântano

O panorama da comunicação social passou de um estado desinteressante a um estado preocupante e começam a aparecer os primeiros sintomas de rejeição

Basta ver um telejornal de qualquer televisão para concluir que não é a notícia que move as redacções. O que se procura é a sensação e vale tudo para a conseguir. A duração de um telejornal é, em si mesma, um atentado à transparência, pois, para esticar por mais de uma hora o que cabia em quinze minutos, as notícias são retocadas de demagogia e sensacionalismo.

Logo na abertura, o pivot anuncia a bomba do dia. Ao longa da hora e meia vai avisando que “já a seguir, logo depois dum pequeno intervalo” que nunca é inferior a dez minutos de publicidade, o espectador ficará a saber tudo sobre o casamento do Cristiano Ronaldo, a gaivota encontrada na Caparica ou abóbora falante de Cambalhotas de Baixo.
Por fim, quando o espectador já se cansou das confusões entre a Alfandega do Porto e Alfandega da Fé, e não tem mais pachorra para os directos de “Abrançalhada da Junça”, fica finalmente a saber que Cristiano Ronaldo não vai casar tão cedo.

É por isso que, exceptuando os simples, sempre prontos a pronunciar-se sobre assuntos que não conhecem, noutros meios a comunicação social perdeu credibilidade e começa a ser vista como persona non grata.