segunda-feira, outubro 31, 2005

Passo a passo

Substituir o Livrete e o Registo de Propriedade por um só documento, pode não significar grande coisa. Acabar com as filas para comprar o selo do carro, será um benefício menor.
A lista poderia continuar e sempre encontraríamos razões para não fazer nada. Porém, só eliminando o supérfluo e simplificando os procedimentos se diminui a burocracia.

Digo diminui, porque, de facto, ela não acaba. A burocracia é uma melga que medra com o imobilismo e reproduz-se com o deixa-andar. Controlá-la não é um trabalho fácil mas devia ser uma preocupação constante de toda a hierarquia da função pública e não somente dos membros dos governos.

É hoje consensual que o mau funcionamento da Administração Publica – Justiça, Administração Fiscal, Educação, Saúde, para só citar a parte mais visível –, é talvez o principal entrave ao rápido desenvolvimento do país.

Por detrás deste monstro há problemas culturais. Já depois do 25 de Abril ainda havia quem ensinasse Direito Fiscal, considerando demonstrações de Jus Imperium as bichas para entregar o Imposto Complementar. Adivinharam. O professor era um quadro do Ministério das Finanças…
Isto não é invenção. Passava-se na Faculdade de direito de Lisboa e tive que o gramar.

Só assim se compreende que altos quadros da função pública – juízes, médicos, professores, Directores de Serviços, Directores Gerais, Gestores Públicos – culpem os sucessivos governos pelo mau funcionamento dos organismos que têm a seu cargo.

O meu Presidente

Recupera-se para a actualidade um texto aqui publicado há uns meses:

O meu Presidente tem de ser um defensor da democracia.
Com provas dadas, de preferência.

O meu Presidente tem de ser um defensor da liberdade.
Inequivocamente, de preferência.

O meu Presidente tem de ser respeitado pelos portugueses.
E no estrangeiro, de preferência.

O meu Presidente tem de ser europeísta.
E federalista, de preferência.

O meu Presidente tem de ser claro quando fala.
E sem tabus, de preferência.

O meu Presidente tem de ser inteligente.
E culto, de preferência.

O meu Presidente tem de ser um político e homem de estado.
Sem se preocupar com outras carreiras, de preferência.

O meu Presidente é Mário Soares.
De preferência.

domingo, outubro 30, 2005

Cores de Outono


By Patrícia

Nuances provocatórias

Perguntas de Mário Soares:

"Não foi político profissional durante os dez anos em que foi primeiro-ministro? Então porque tem direito à reforma de antigo primeiro-ministro?"

Título do Diário de Notícias, com aspas e tudo:

"Se não é político profissional porque recebe a reforma?"

sábado, outubro 29, 2005

"Quem com lobos anda, a uivar se ensina"

José Pacheco Pereira (orçamento e oposição) acha que o PSD não devia votar contra o orçamento, pelo menos pelas razões que invoca (o PSD). “…duvido que, se o PSD estivesse no governo, fosse capaz de ir mais longe do que o PS nos cortes da despesa pública”, justifica.

Duvida JPP e duvida muito boa gente. Quando esteve nas finanças, Ferreira Leite, cuja imagem o PSD vende como a “dama do rigor das contas públicas”, restringiu a admissão de funcionários e congelou os salários, mas nem ela nem Durão Barroso se atreveram a enfrentar os lobis, ou a outras medidas de fundo. (Lembram-se da cruzada populista contra os bancos?)

Mas há outras razões que, segundo JPP, justificariam o voto negativo do PSD. “O orçamento devia ser recusado porque precisamos vitalmente de outra coisa, precisamos de mais liberalismo, de mais liberdade económica, de mais espírito empresarial.”

Eu só não concordo totalmente com JPP porque ele parece fazer depender tudo isto do orçamento. Ora no orçamento não há nada que obrigue os nossos empresários a serem menos liberais, lhes retire liberdade económica ou lhes iniba o espírito empresarial. Nem podia haver.

JPP já devia saber que os nossos empresários são liberais “ma non troppo” e a sua liberdade é tal que a precariedade de emprego já tem reflexos sociais preocupantes. Quanto ao espírito empresarial, tudo depende do que conseguem ver lá fora, pois dão por mal empregue o investimento em inovação.

O que lhes faltava era alguém que culpasse o orçamento pelas suas insuficiências. O JPP fez-lhes o favor.

Júbilo ou vil tristeza?

A decisão do Tribunal Constitucional sobre a continuidade da sessão legislativa não foi pacífica. Uma sentença com sete votos a favor e seis contra nem parece uma decisão jurídica, porque nem a lei pode ser assim tão dúbia nem os juízes do Tribunal Constitucional são escolhidos pela sua teimosia.
Do que se tratou foi de uma decisão política que resultou no adiamento do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Apesar da discordância de fundo, a decisão do tribunal é legítima e conforme ao estado de direito e não tem de se estranhar.

O que não se entende são as manifestações de júbilo de alguns sectores, indiferentes ao flagelo do aborto clandestino e à perseguição das mulheres que não têm meios para abortar no estrangeiro.

sexta-feira, outubro 28, 2005

O outro lado da barricada

Independentemente dos manifestos em contrário, uma pessoa que se candidate ao exercício de qualquer função política, seja na Junta de Freguesia ou na Presidência da República, não pode rejeitar o epíteto de político.

Fazê-lo pode parecer um exercício de confusionismo para captar algumas franjas desatentas do eleitorado, mas hoje já ninguém acredita que quem se candidata não seja político.
Se a armadilha é tão grosseira, porque a usa Cavaco Silva, que não diz uma palavra a mais e esgota a paciência do país até se decidir a falar, sabendo de antemão que corre o risco de não o levarem a sério?

A mensagem subliminar é outra: o que ele quer dizer é que não é um homem de partido, de nenhum partido. E, de facto, não é.
Independentemente das quotas que tenha pago, foi “sem querer” que chegou a Presidente do PSD (lembram-se que foi fazer a rodagem do Citroën?), mas, em termos práticos, só lá ficou enquanto foi Primeiro-ministro.

A ideia de que só são políticos os que militam nos partidos é muito redutora, mas tem feito escola entre nós e, apesar do hermetismo que o caracteriza, Cavaco Silva fez questão de a insinuar nas suas recentes intervenções.
Dir-se-á que é para cativar os independentes, mas a crispação com que Cavaco Silva reage quando alguém lhe fala no apoio dos partidos não é apenas um tique. Mau grado o esforço para se controlar, o seu indisfarçável desconforto identifica-se com a convicção dos que vêm nos partidos a origem de todas as maleitas da nossa democracia.

Há que separar as águas.
Reconhecendo embora as imperfeições do funcionamento dos partidos, a democracia não sobrevive sem eles e o Presidente da Republica não pode pôr-se do outro lado da barricada.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Os mitos e a coragem

Quando Teixeira dos Santos foi escolhido para substituir Campos e Cunha, houve vozes que logo se fizeram ouvir, prevendo o descalabro das contas públicas e acusando-o de ser o homem escolhido para facilitar o despesismo.

Teixeira dos Santos não passaria de um amanuense serviçal e o seu sorriso simpático estava completamente desajustado da carranca que se espera de um Ministro das Finanças como era Campos e Cunha, que num esforço caricatural se chegava a confundir com Ferreira Leite.

Passo a passo, sem constrangimentos nem simuladas agonias depressivas, Teixeira dos Santos, que ao contrário de outros não foi da cátedra da universidade directamente para o Terreiro do Paço, ganhou respeito e o seu orçamento é, de longe, o que mais consenso obteve nas últimas décadas.

Dir-se-á que o diagnóstico estava feito e a terapêutica era conhecida.
Pois era. Mas quando por lá passaram, nem Cavaco, nem Cadilhe, nem Manuela Ferreira Leite tiveram coragem (e porque não tomates?) para a aplicar.
Pelo contrário: foram eles que geraram o monstro.

Em sossego















By Patrícia

Vejam lá se percebem

"Los jueces son titulares de órganos de soberanía que ejercen un poder del Estado. Si van a la huelga, se presentan como meros funcionarios y olvidan que ejercen ese poder".

quarta-feira, outubro 26, 2005

Justa causa (II)

Quando aqui se escreveu sobre a ética e a responsabilidade profissional dos gestores públicos, não nos passava pela cabeça que houvesse quem chegasse ao ponto de convocar uma conferência de imprensa para criticar publicamente a tutela, sem previamente se demitir.

Ainda que houvesse razões, o que não parece ser o caso, esta atitude viola qualquer estatuto laboral e manifesta exemplarmente a arrogância irresponsável de alguns gestores públicos que não estão habituados a prestar contas, ficando muito incomodados quando a tutela os confronta com os seus próprios actos.

O governo exonerou-os e não podia fazer outra coisa.

Temor em tempo de gripe

Por estes dias, anda tudo alarmado com a gripe das aves e ocaso não é para menos. Com a chegada do Outono vieram algumas espécies de arribação que só nos vão deixar lá para Março.
Já se vêem os bandos de alegretes, soarettes e cavaquettes, mas os portadores da doença são as marionetes

terça-feira, outubro 25, 2005

Paisagens do entardecer















By Patrícia

Ruralidades

Vão longe os tempos em que as vacas, machos, burros, cavalos, porcos e rebanhos inteiros tocados pelos donos, percorriam os caminhos desde a madrugada, convergindo para as “Feiras de Gado”. As galinhas, que não iam pelos seus próprios meios, eram transportadas em cestas tapadas com serapilheira, deixando-lhes o pescoço de fora.

A transformação da sociedade rural e, mais recentemente, a legislação sanitária da União Europeia, determinaram o desaparecimento destas feiras, nos últimos quarenta anos.

Basta ver a sua clientela para perceber que venda de aves de capoeira e de algumas espécies de exóticas, nos mercados dos subúrbios das grandes cidades, sobrevive pela memória desses tempos.
É um negócio de reduzida expressão e duvidoso interesse ambiental. A sua proibição perante a ameaça da gripe das aves é uma medida elementar.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Referendar a violência

O Brasil, um paraíso de férias, samba e futebol, é também o país onde morrem 40.000 pessoas por ano, vítimas de armas de fogo.
Este número é quatro vezes superior ao dos Estrados Unidos, país onde a venda de armas também é livre e tem mais 100 milhões de habitantes.

Num país onde as crianças apontam armas umas às outras (quem não viu a “Cidade de Deus”?) e 89% dos homicídios são praticados com armas de fogo era de esperar que no referendo de ontem a proibição da venda de armas vencesse facilmente.

Infelizmente não. Apesar de os defensores da proibição, apoiados por diversos premiados com o Nobel da Paz, terem alertado os brasileiros para aproveitarem a oportunidade e votarem por uma sociedade mais segura, o “Não” venceu com ampla vantagem.

A “Cidade de Deus” vai ter muitas sequelas.

domingo, outubro 23, 2005

Eles não gostam de futebol

Como a maioria, na minha juventude pelava-me por jogar futebol e perdia a cabeça por uma bola. Parei de jogar já depois dos quarenta quando torci um pé no futebol de salão, um jogo miudinho e sem dimensão que nunca apreciei.
Também gostava de ver jogar e nos tempos em que havia jogos de juniores, reservas e outros ídolos, todos no mesmo dia, entrava de manhã no estádio e só de lá saía à noite.

Hoje continuo a gostar de futebol mas evito ir a estádios. Não me vejo a ser empurrado por energúmenos que a coberto das cores dos clubes visam o confronto e não respeitam ninguém.

Em Portugal, as claques de futebol fazem mais pelo esvaziamento dos estádios do que o preço dos bilhetes. Felizmente que ainda vai havendo quem que não se identifique com o que elas representam e por muito que isso lhes custe, não gosta de se misturar com gente dessa.
As claques estão-se nas tintas para o futebol! Nem o vêem, na cegueira da sua alienação.

Sobre este assunto, o Diário de Noticias publica hoje vários textos cuja leitura aconselhamos. Entre outras coisas, ficamos a saber que apenas uma claque (Torcida Verde) obedece à lei, que não é aconselhável levar crianças ao futebol, descobre-se a hipocrisia dos Stewards e percebe-se porque se usam petardos "para assustar", apesar de poderem "provocar queimaduras, problemas psicológicos, surdez e até mesmo a morte".

Uma vez que os clubes, a Liga ou a Federação, não acabam com esta bagunça, é bom que o governo faça alguma coisa pois estamos perante problemas de legalidade e ordem pública.

sábado, outubro 22, 2005

Originalidades...

Primeiro foi o Super Mário. Depois o Super Cavaco. Para que os outros "blogs não oficiais" tenham mais originalidade, aqui deixo alguns contributos:

"O Apache" para Jerónimo de Sousa, numa homenagem ao chefe da tribo chiricahua com o mesmo nome (Gerónimo ou Jerónimo) que depois de tanto lutar contra à civilização branca acabou convertido ao cristianismo. O nosso Jerónimo também já dança ao som da burguesia...

"O Adamastor" para Manuel Alegre. Além da óbvia referência à sua veia poética, personifica o pesadelo das hostes soaristas.

"O Último dos Moicanos" fica bem a Francisco Louçã, porque é uma fábula.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Linha de partida

Se todas as campanhas eleitorais se devem pautar pela elevação cívica, a campanha para a eleição do mais alto cargo da nação obriga ao respeito mútuo entre os candidatos, e à contenção dos respectivos apoiantes. As rasteiras, os insultos e as mentiras dirigidas a um candidato ferem a dignidade institucional da Presidência da República.

Nesta campanha, a comunicação social deveria pôr de lado os episódios de baixa política com que entretém o povo e realçar as causas de interesse nacional.

Na blogosfera a campanha está marcada pelo maniqueísmo e já vai adiantada. Se Cavaco Silva é honesto, os outros não têm de ser corruptos. Se Mário Soares ou Manuel Alegre são democratas, isso não pode significar que Cavaco Silva o seja menos.

Haja lealdade! Todos lutam por um país melhor e alguns até têm provas dadas. A nossa preferência não obriga necessariamente ao desmerecimento dos outros.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Fado do embuçado

A máscara vai cair hoje à noite, na companhia de uma jovem fadista.

Para que serve um Offshore?


Segundo a PGR, a fuga ao fisco através de sociedades Offshore terá lesado o estado em vários milhões de Euros nos últimos três anos.

Os países que abrigam paraísos fiscais fazem-no exactamente para que os capitais fujam ao fisco. E como se consegue isso? Tipicamente, não os declarando no país de origem, pois, doutra forma, a remuneração offshore deixaria de ser atractiva.

Os procedimentos têm a aparência da legalidade, mas o facto de os offshores não se preocuparem com a proveniência dos fundos, abre a porta à fraude e à lavagem de dinheiro pelo narcotráfico e por outros negócios ilícitos.

Que ninguém se iluda: O sucesso dos offshores é directamente proporcional à dimensão da evasão fiscal.
As diligências em curso vão levantar alguma poeira, mas no essencial ficará tudo na mesma porque o problema está na génese dos próprios offshores.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Um sonho atrás das grades


Cristiano Ronaldo being questioned by police




Ultimamente não parecia o mesmo.
No jogo da selecção ouviu os primeiros assobios e o seleccionador substituiu-o.
A confirmar-se esta notícia, o sonho pode acabar em pesadelo.

"Super Mário"

"Blog não oficial de apoio à candidatura de Mário Soares à Presidência da República"
Com esse nome não podia ser oficial.

terça-feira, outubro 18, 2005

Inevitável

Caça e columbofilia, são actividades muito praticadas no país. Caçadores são quase meio milhão, embora a maioria se assemelhe a excursionistas que não dispensam as patuscadas em grupo.
Os pombais (!?) dos columbófilos abundam sobretudo na periferia das cidades, em precárias condições de higiene.

Se não houver cuidado, estas actividades podem contribuir para propagar a gripe das aves que já foi detectada na Europa. A sua chegada às cidades, onde os pombos se multiplicam como pragas, parece inevitável. O cenário é tão perturbador que a União Europeia convocou uma reunião de emergência.

O contacto dos caçadores com aves migratórias infectadas é uma forte probabilidade e pode facilitar a transmissão do vírus aos humanos. Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, mas enquanto alguns países já proibiram a caça, por cá o responsável governamental para o sector garante que Portugal não está na rota das aves migratórias e vai alinhando em patuscadas.


Algumas notas sobre a gripe das aves:
- A doença é conhecida desde 1878, mas só em 1997 ultrapassou a fronteira de espécie, infectando 18 pessoas em Hong Kong. Foram também registados casos na Holanda, Bélgica, Chile, EUA, Canadá, Japão, Tailândia, Filipinas e Vietname.
- O vírus não sobrevive a temperaturas acima dos 60º.
- Propaga-se pelo ar, entrando no organismo humano por inalação ou através das mucosas dos olhos.
- A doença não se transmite entre humanos
- Sintomas: febre alta, dificuldade em respirar e mal-estar geral.

Ver mais
aqui

segunda-feira, outubro 17, 2005

O fosso

"Portugal é o país da União Europeia onde há mais desigualdade entre ricos e pobres" (DN).

Leia que faz bem

Uma história de ciganos, no Da Literatura.
A visão sobre “o melhor meio campo da Europa”, no Almocreve das Petas.

A propósito...

Não são sempre os mesmos, os blogs que preenchem a lista exibida aqui na direita baixa. Alguns ocupam-na durante algum tempo e não chegam a criar raízes, mas muitos mais são observados com regularidade.
A escolha é naturalmente subjectiva: independência, reciprocidade, interesse dos assuntos abordados e orientação politica e social, são factores relevantes, mas nenhum critério é suficiente sem qualidade formal.

domingo, outubro 16, 2005

Paisagens da memória


"A manhã despertava e sentiam-se as fragrâncias bravias libertadas pelas brumas."
(In Bichos do Mato)

sábado, outubro 15, 2005

A frase

"Há quem se ofereça para colar cartazes, e mesmo quem se tenha disponibilizado para ser chauffeur".
(Eduardo Catroga, apoiante de Cavaco Silva)

Presidente contra a Constituição?

Não é preciso ser formado em direito, e Morais Sarmento é, para ver como a Constituição é ignorada na entrevista que ele deu ao Diário Económico. Ao lê-la, percebe-se porque há gente que ainda não atinou com a democracia.
Quando o entrevistador, certamente surpreendido com a desfaçatez do entrevistado, lhe lembra que “o que sugere é quase um golpe de Estado ao actual sistema”, com a brutalidade que o caracteriza, Morais Sarmento responde que “há um programa presidencial que se deve sobrepor à acção dos governos”, incitando o futuro Presidente da Republica (Cavaco Silva) a violar a constituição e desrespeitar a separação de poderes.

Que Morais Sarmento se esteja nas tintas para a Constituição, não surpreende, mas a ele e ao governo de que fez parte já o povo julgou e condenou.
Se Cavaco Silva seguir os seus conselhos terá o mesmo fim. Espera-se, no entanto, que o respeitado professor não se meta por caminhos ínvios.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Não fazem mais do que a sua obrigação

"O Laboratório Roche anunciou hoje que vai pagar a multa de 1, 32 milhões de euros estabelecida pela Autoridade da Concorrência por manipulação de preços em concursos públicos, admitindo que um ex-colaborador da empresa esteve envolvido nessas práticas."

Além de se esperar atitude idêntica dos restantes laboratórios - Abbott Laboratórios, a Bayer, a Menarini Diagnósticos e a Johnson & Johnson que, segundo a Lusa, também se concertaram com o objectivo de "impedir, restringir ou falsear, de forma sensível, a concorrência através da fixação de preços" -, aguarda-se que sejam apuradas as responsabilidades da gestão dos hospitais envolvidos neste crime.

A causa da Lingua Portuguesa

A macro-causa de levar o português ao site da FIFA foi bem sucedida.

Liberalismo de conveniência

A história contava-se nos anos que se seguiram ao 25 de Abril. Como é sabido, a revolução teve um impacto particular na sociedade rural do Alentejo e muitos acreditaram que a ilusão se transformara em realidade.
Num desses povoados rurais viviam dois compadres. Um pobre e ingénuo, como é sina dos humildes, e outro abastado e finório, como são os remediados deste país.
O pobre tinha uma junta de burros para lavrar as courelas que ninguém queria enquanto o rico passeava em montadas altivas pelas charnecas atrás da caça.

Com as teorias da democratização dos meios de produção a impor-se por todo o lado, o rico aproveitou e pediu os burros ao pobre para lavrar a terra das pastagens. Por que havia de pagar se, agora, era tudo de todos?
Ao outro bem lhe custou ficar duas semanas sem os animais, mas, se o compadre rico lhe garantia que agora eram todos iguais e na democracia tinham de ser uns para os outros, que os levasse. Talvez um dia lhe pedisse o cavalo, pensou, conformando-se.

A ocasião proporcionou-se quando teve de visitar um familiar que vivia num monte mais afastado e se lembrou de levar o cavalo ligeiro do compadre rico.
Que não. O animal era muito sensível e só se dava com ele, reagiu o outro, mal disposto, como se lhe pedissem a mulher. Até o cavalo se ria se o visse esporas...
- Como o compadre falou na democracia… – desculpou-se o pobre, envergonhado.
- Então o compadre não sabe que a democracia é só para os burros? - estranhou o rico, recusando emprestar-lhe o alazão.


A história ocorreu-me por ver Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, defender a passagem dos bancários para o Serviço Nacional de Saúde e o consequente desmantelamento dos SAMS, bem como a transferência da responsabilidade pelas respectivas pensões de reforma para a Segurança Social.

Nos últimos dez anos os bancos reformaram milhares de pessoas, muitas delas com menos de 50 anos, sobrecarregando naturalmente os fundos de pensões. Mas não deixaram de aumentar os lucros de ano para ano. Pelo contrário. É pública e notória a rentabilidade dos bancos portugueses, sendo dos poucos sectores onde a crise não é visível.

As pensões de reforma são asseguradas pelos bancos, que gerem os respectivos fundos de pensões. A assistência médica dos bancários é garantida pelos SAMS, cujos serviços são uma referência na prestação de cuidados de saúde, numa área tão carecida de boas referências.
Quanto à Segurança Social, o sector bancário é um contribuinte praticamente líquido, uma vez que os descontos para a Caixa de Abono de Família dos Bancários têm contrapartidas insignificantes.

Numa altura em que se defende a diminuição do peso do estado na sociedade, este devia ser um exemplo a seguir, ainda para mais bem sucedido.
Mas não. Pela boca de Fernando Ulrich, os supostos liberais querem reverter tudo isto para cima do orçamento do estado.
As ideias liberais só se aplicam ao que lhes convém, ou serão só para os burros?

quinta-feira, outubro 13, 2005

"É proibido probir"

Já atrasado, entro na pastelaria para beber o meio litro de água que me impõem para fazer o check-up.
- Quer um copo?
A perspectiva da ecografia à próstata às 8:30 da manhã é um nó cego que me aperta a garganta e custa-me acabar a garrafa da água. Distraio-me, observando as mesas vazias e levo com o aviso colado nas paredes: NÃO É PERMITIDO ESTUDAR.

Agora é que não consigo beber mais.

quarta-feira, outubro 12, 2005

A terapia da blogosfera

Segundo um estudo patrocinado pela América Online, cerca de metade das pessoas que escrevem nos 15 milhões de Blogs que povoam a blogosfera consideram essa prática uma forma de terapia, relata um artigo de Yuki Noguchi no Washington Post.

O assunto é levado tão a sério que um hospital começou a disponibilizar aos seus doentes o acesso a blogs. Outros preparam-se para seguir a mesma via, embora alguns psicólogos questionem o uso da Internet como terapia, lembrando os riscos da exposição pública à crueldade dos comentários.

Maré cheia
















By Patrícia

terça-feira, outubro 11, 2005

A obrigação de ensinar

Antigamente havia muitas coisas proibidas e outras, não o sendo, era como se fossem. A maioria das proibições acabou no Portugal democrático, mas algumas talvez devessem continuar.
Por exemplo, noutros tempos era inconcebível que uma criança completasse a quarta classe sem ter aprendido a ler. Hoje acontece com mais frequência do que se julga.

Nenhum professor certamente contestará a obrigação de ensinar, mas o seu cumprimento tem de ser aferido pelo aproveitamento dos alunos e não pela exibição das sebentas. O insucesso escolar do básico e do secundário aí está para atestar que não tem sido satisfeita.

A medida do Ministério da Educação que impõe às escolas planos de recuperação para os alunos necessitados é, por isso, de aplaudir. Embora algumas escolas já tivessem essa prática, pelos vistos a maioria não se achava obrigada a tanto.

Macro-Causa

Quem me lembrou foi o Tugir que por sua vez terá sido avisado pelo José.

Os entusiastas do futebol e os cultores da língua podem unir esforços e juntar-se numa petição, requerendo à FIFA o uso do português como uma das línguas oficiais do próximo Campeonato do Mundo, onde estarão presentes três equipas que falam a língua de Camões.

Acrescentem o vosso nome aqui no FIFA Web page in Portuguese Language e marquem um golo pela língua portuguesa.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Vince?!


Acompanhe aqui a passagem do furacão.

Falhas de uma noite eleitoral (Podium)

1 - PS
2 - Computador do STAPE
3 - Microfones de Valentim Loureiro

Depois da festa

Durante quinze dias, adularam o povo, beijaram as criancinhas, calcorrearam feiras e sujaram as mãos nos frescos dos mercados. Ganharam rugas de tanto sorrir.
No fim, o povo escolheu quem quis e assim se fez a democracia.
Parabéns aos vencedores.
Honra aos que lutaram.

domingo, outubro 09, 2005

Tem a palavra...







É dia de eleições.
Passar a vida em protestos e não votar, não é uma atitude responsável nem ajuda a resolver os problemas.
Um país que se abstém, enfraquece quem governa e dá força às estruturas corporativas.
Vamos votar!

sábado, outubro 08, 2005

Palancas Negras







Angola apurou-se pela primeira vez para o Campeonato do Mundo de Futebol. Parabéns.

Esta "Gent" é que sabe...

As chicotadas psicológicas são caras e ineficazes, informa o Jornal de Notícias.
Foi esta a conclusão de um estudo do Departamento de Ciências Desportivas da Universidade de Gent (e não Gant como escreve o jornal), na Bélgica.

Segundo os investigadores da famosa universidade, "os treinadores foram despedidos quando os resultados das suas equipas desceram 63% relativamente à média da época. Depois do despedimento, os resultados voltaram a subir para a média, situação considerada lógica, uma vez que já tinham tocado no fundo. A análise comparativa com as equipas que preferiram manter os técnicos demonstrou que os resultados foram melhores, o que levou os investigadores a concluírem pela ineficácia dos despedimentos."

O jornal não esclarece se o estudo foi encomendado pelo Sporting...

sexta-feira, outubro 07, 2005

Sem rei nem roque

A diplomacia ocidental tem de deixar de fazer fretes às figuras sinistras que controlam muitos países do terceiro mundo. Elas são a parte visível das cliques exploradoras que se apropriaram dos recursos dos respectivos países e mantêm na mais desgraçada miséria os respectivos povos.

O que se passou com o avião português sequestrado na Venezuela é um exemplo gritante da impunidade com que actuam.

quinta-feira, outubro 06, 2005

O cerco de Melilla

Seguindo o exemplo dos portugueses que conquistaram Ceuta em 1415, em 1497 foi a vez de Melilla cair nas mãos de Espanha.
Segundo a versão espanhola, tratou-se de uma simples recuperação uma vez que os Vândalos, os nossos antepassados que governaram a Península Ibérica na débâcle do Império Romano, teriam ocupado a região no ano 429, muito antes, portanto, de Maomé nascer e ter recebido de Alá a missão expansionista que levou os árabes ao Magreb.

Os espanhóis argumentam ainda a favor da posse de Melilla o facto desta cidade ser espanhola há mais tempo do que outras cuja espanholidade ninguém contesta, nomeadamente as que pertenciam ao Reino de Navarra que só mais tarde viria a ser integrado em Espanha.

A história dirá se têm razão para continuarem a dominar Ceuta – que nunca devolveram aos portugueses desde que Filipe II (Filipe I de Portugal) ocupou o trono nacional após o desastre de Alcácer Quibir – e Melilla, conquistada a mando do governador da Andaluzia, pouco depois da queda de Granada. Por ironia histórica, na sua fuga para Africa, os barcos do último rei Almoáda acostaram nos arredores de Melilla (1493).


Não é, pois, de agora que Melilla é a fronteira entre a Africa e a Europa. É por ali que passam os escorraçados da História.

É para ali também que convergem os deserdados dos países onde a esperança de vida diminui em vez de crescer e os bebés nascem para morrer de fome ou serem trucidados pelos exércitos tribalizados que enxameiam a Africa subsaariana.

A Europa é a única esperança de vida desta gente. Por isso saltam as valas, dilaceram os corpos nas vedações, enfrentam os bastões e as balas de borracha das polícias.
Eles sabem que têm mais direitos numa prisão em Espanha do que em liberdade nos seus países.

Não é com barreiras de arame farpado que este problema se resolve. Os países mais ricos têm de olhar com mais preocupação para a qualidade (?!) de vida dos povos do terceiro mundo.
Não adianta escamotear. A catástrofe está do outro lado da vedação.


Fontes: L’Express; El Pais; Sites das cidades de Ceuta e Melilla

"For the Next Big Thing, Look to Portugal"











Quem o garante é o New York Times num artigo que atesta a peculiaridade dos vinhos portugueses.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Tudo a nu

A não perder esta apreciação a alguns best-sellers cá do burgo.

Insucesso escolar

"O homem vale, sobretudo, pela educação que possui", lembrou ontem Jorge Sampaio, numa alusão aos ideais que motivaram os republicanos de 5 de Outubro de 1910.
Noventa por cento dos portugueses eram analfabetos.

terça-feira, outubro 04, 2005

Por esclarecer

"PODE O JORNAL «PÚBLICO» SFF ESCLARECER COM QUEM É QUE FÁTIMA FELGUEIRAS MANTEVE CONTACTOS NO SECRETARIADO NACIONAL DO PS? QUANDO É QUE ESSES CONTACTOS TIVERAM LUGAR? QUEM É QUE INFORMOU JAIME GAMA PREVIAMENTE DA LIBERTAÇÃO DE FÁTIMA FELGUEIRAS?"

Pergunta do Bloguitica

Maré baixa (V)



By Patrícia

O purgatório da justiça

Não é a primeira vez que este governo se expõe, enfrentando em directo os interesses que tomaram conta dos diferentes sectores da nossa Administração Pública, pondo-a ao serviço das suas corporações profissionais, em prejuízo do interesse geral. Ontem aconteceu o mesmo com a justiça, no “Prós e Contras”.

Toda a gente percebeu que a prioridade dos magistrados não é a reestruturação nem a melhoria da justiça. À míngua de ideias, nesse capítulo, apressaram-se a concordar com as medidas propostas pelo governo.

As suas preocupações são doutro cariz, dir-se-ia mesmo, doutro mundo, como resulta da intervenção do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Conselho Superior da Magistratura que se apresentou por satélite.
Como é possível que as mais altas responsabilidades da justiça portuguesa estejam entregues a um homem desfasado do país e em notória perda de faculdades?

Ao ouvir aquela voz de além-túmulo, os portugueses gelaram, compreendendo finalmente as causas do purgatório duma justiça que nem ela própria se leva a sério.

segunda-feira, outubro 03, 2005

A tentação do centralismo


Embora nenhum deles concorra à presidência de qualquer câmara, na campanha para as autarquias, as caras e os nomes que mais aparecem são os de Marques Mendes, José Sócrates, Jerónimo de Sousa, Francisco Louça e Ribeiro e Castro.

Não falam dos programas ou projectos municipais. De norte a sul, os líderes repetem os discursos nacionais como se disputassem eleições legislativas.
Por isso ninguém estranha que Jerónimo de Sousa critique o off-shore da Madeira em Ferreira do Alentejo e Marques Mendes queira conhecer o orçamento de estado em Felgueiras.

Não cremos que a centralização da campanha para as eleições autárquicas nas questões nacionais sirva os interesses dos municípios. O mimetismo com as eleições legislativas retira-lhes protagonismo e autonomia.

É urgente rever as assimetrias do nosso sistema autárquico. Há concelhos com várias centenas de milhares de habitantes, enquanto outros não chegam à dezena de milhar e são manifestamente deficitários.
Os defensores da regionalização deviam começar por exigir a reestruturação das autarquias e a autonomia do respectivo processo eleitoral.

Doutro modo, continuaremos a pôr o carro à frente dos bois.

Eclipse

Subitamente arrefeceu e o sol perdeu a cor meridional. O dia apenas começara, mas o bando de pardais que esgravatava a terra revolvida do quintal levantou voo, pensando que estava a acabar.
Só quando pôs os óculos opacos que chegaram com a revista pelo correio é que viu tudo.
Era o eclipse.

domingo, outubro 02, 2005

Justa causa


Tal como o conhecemos hoje, o gestor público é uma consequência das nacionalizações que se seguiram ao 25 de Abril.
Quase sempre são militantes ou simpatizantes assumidos de um dos partidos que se revezam no governo.
Sendo a nata dos boys, quando o seu partido ocupa o poder são os primeiros a chegar-se à frente.
Saltitam de empresa pública para empresa pública, ocupando lugares de maior ou menor destaque conforme o ciclo político do respectivo partido. Por norma não procuram os holofotes da imprensa, excepto nos casos em que além de gestores públicos têm uma carreira política paralela.


Entre os dois principais partidos há um acordo tácito que os protege e, salvo os casos de retaliação, a maioria mantém-se para além da queda dos governos.

Os prejuízos crónicos das empresas públicas nunca afectaram os gordos salários nem as regalias principescas que se atribuem. O orçamento lá está para tapar os buracos.

Por nos termos habituado à impunidade da sua gestão é que o despedimento com justa causa que ameaça as administrações da REFER e da CP nos surpreende.

sábado, outubro 01, 2005

Porque hoje é Sábado
















By Patrícia