terça-feira, janeiro 31, 2006

Golden Gates


"Não digo que seja fácil, mas é possível" (treinar 10 por cento da população portuguesa nas novas tecnologias).

Apolo e a Pitonisa

Ontem alguns blogues tocaram a rebate e apressaram-se a deitar foguetes pela chegada de Vasco Pulido Valente à blogosfera.
Aqui damos as boas vindas a todos os que contribuem para “acrescentar valor”, (Olá Presidente Cavaco Silva!) a esta comunidade, mas não veneramos vacas sagradas nem estendemos passadeiras a ninguém. Há gente de sobra para salamaleques.

A entrada de Vasco Pulido Valente neste mundo prova que os blogues são uma força de comunicação incontornável e ninguém com algo para dizer quer ficar fora dele.

O que surpreende é que VPV não tenha optado por um blogue individual, em coerência com o seu perfil de lobo que se demarca das alcateias. Esta é, aliás, uma das suas facetas mais interessantes.
Até porque O Espectro já era um oráculo e não precisava de reforços de Inverno.

A não ser que VPV se inspire na mesma Pítia, o que não parece necessariamente mau, a avaliar por este indício: (“Depois de trinta anos de ociosidade no parlamento, três meses de trabalho matam um homem”);

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Habeas corpus

Ouvi esta manhã na RTP1 que o Canil da Câmara Municipal de Lisboa recusa entregar aos donos um cão que mantém preso há 3 meses por ter morto um pato.

Ao contrário dos homens que matam patos, pombos, rolas, perdizes, codornizes, coelhos e lebres para se divertir, estes animais são presas naturais do cão que antes de ser o melhor amigo do homem já era predador.

Ao invés dos homens, os cães não têm culpa, e a sua prisão é ilegal e contrária à natureza.

Registo

Agradecemos ao Carlos Alberto (Viva Matosinhos, sem esquecer a “Marisqueira dos Pobres”), ao meu amigo “J” (quando é que posso divulgar o nome?), ao Victor Hugo Castro (alô Ile de France), ao Eduardo Pitta (Da Literatura) , ao Luís Novaes Tito (Tugir) e ao Patrick Blese (Anjos e Demónios), os parabéns pelo aniversário de “A Forma e o Conteúdo”.

Sem a vossa companhia, não andaríamos por aqui.
Obrigado.
Actualização: Agradecemos também ao Pedro Guedes (último reduto) por se associar a esta efeméride.

domingo, janeiro 29, 2006

"Muito me tarda o meu amigo na Guarda"

No dia em que a neve da minha terra se aventurou mais a sul, lembro um dos poetas que amaram a Guarda:


BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.

Augusto Gil

Faz hoje um ano...



"A FORMA E O CONTEÚDO" faz hoje um ano.
Há vidas mais curtas e sem elas o mundo seria mais triste.
A casa não é grande, mas damos atenção a quem nos visita.
Obrigado.

sábado, janeiro 28, 2006

Benfica - Sporting


31 não! 3 a 1!

"Se não fosse para ganhar, eu não estaria aqui…”


Os prejuízos financeiros do Chelsea são um record de que os comentadores desportivos não falam.
(140 milhões de Libras são um pouco mais de 200 milhões de Euros ou 40 milhões de contos)

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Destaques do dia

A LENTA DISSOLUÇÃO DOS PARTIDOS”, um interessante artigo de José Pacheco Pereira, no Público, que se pode ler no Abrupto.

Méritos”, de Joana Amaral Dias. (Extractos de um artigo de Eduardo Lourenço publicado no último número da Visão. Convém lê-lo todo aí.)

Um notícia do DN que nos dá conta de uma iniciativa parlamentar de Duarte Lima que “irá defender a título pessoal o princípio de que nenhum órgão do poder soberano pode deixar de ser responsabilizado. Ou seja, da mesma forma que os deputados e o Presidente da República respondem perante os eleitores e o governo tem de prestar contas ao Parlamento, juízes e magistrados do MP devem prestar contas a uma instância independente.”
O que se estranha é que a iniciativa tenha de ser a título pessoal…

Os mestres do liberalismo”, um tiro certeiro de Constança Cunha e Sá nos “faróis do liberalismo que iluminam a blogosfera”. (“Intolerância por intolerância, antes a velha esquerda marxista do que este arrivismo ideológico que passa por liberalismo.”)

Por último, mas a não perder, a saga erótica de José Rodrigues dos Santos, que João Pedro George continua a Esplanar .

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Publicidade criativa

Oram ouçam lá isto que me foi mandado pelo meu amigo "J".

"Tem música!"

Quem paga é o Zé

Não bastava ter de aturar os trauliteiros que reivindicam uma câmara para cada aldeia, agora temos também de pagar os prejuízos reclamados pelos municípios de que as mesmas aldeias se separam.

Foi isso que decidiu o Tribunal de Santo Tirso (donde havia de ser!) por a Trofa se ter emancipando do concelho de Santo Tirso. O juiz que assim decidiu aproveitou para criticar a Assembleia da Republica – ainda dizem que não são independentes – nomeadamente o PCP, PSD e CDS que votaram favoravelmente a criação do concelho da Trofa, por não terem acautelado “alguns aspectos financeiros e económicos decorrentes da criação do novo concelho”.

A nossa organização administrativa podia fazer sentido em meados do século XIX, mas não se adequa aos tempos actuais. Uma grande parte dos concelhos não tem dimensão populacional que os justifique, para não falar da absoluta inviabilidade financeira.
Mas a inércia tolhe a nossa partidocracia que se recusa a avançar com a reorganização territorial.
Basta ver o alarido que está a provocar o fecho das escolas que não têm dimensão pedagógica, tendo os Presidentes de Câmara como porta estandartes.

O Zé é que paga este regabofe.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ópera, fado e música pimba

Independentemente de poder corresponder à vontade de alguns dos intervenientes nas últimas presidenciais, o certo é que se iniciou no passado domingo um novo ciclo político nacional.

Durante anos os cidadãos têm sido sofrido a ameaça do desemprego, o aumento dos impostos, as crises da saúde, a balda da educação, a ruptura da segurança social, o descalabro da justiça. Por isso não tem paciência para querelas que consomem energias e dinheiro necessários à recuperação do país.
Em síntese, foi isso que disseram José Sócrates e o recém-eleito Presidente da Republica nos discursos que pareciam inspirados um no outro.

Talvez sem o saberem, deram o mote que vai caracterizar a intervenção política nos próximos tempos, pois, como já fez nestas eleições, daqui para a frente o país penalizará os políticos que não fizerem dos problemas reais o cerne da sua mensagem, ainda que o seu passado seja impoluto e os seus postulados culturalmente os mais respeitáveis.

Os eleitores que encontram na música pimba um sucedâneo do nacional-cançonetismo, podem gostar de fado, mas não têm ouvido para a ópera…

Quando se convencem que são bons...


Falhar três penalties seguidos, não abona a favor da seriedade dos treinos.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Cemitérios, Fogos Fátuos e o PRD

Por respeito à memória do Canto, que foram as Armas, e à Praça, que se fez eco da Canção, não falámos de Manuel Alegre durante a campanha.
Agora, que muita gente o considera o menos derrotado destas eleições, há que pôr os pontos nos is. Mas não o faria melhor do que o Eduardo Pitta:

É preciso perceber que há uma quota do eleitorado que foge aos partidos. Sempre foi assim, sempre será assim. Essa quota do ressentimento, que votou Otelo, inventou (com a muleta de Eanes) o PRD, e votou Zenha contra Soares, descobriu agora as virtudes da «cidadania».
Aspecto curioso: tem sido um percurso a caminho da Direita. O milhão de ontem não quer saber de Alegre para nada. Esse milhão, o que quis, foi humilhar Soares. Cavaco não os incomoda. Soares é o mal que era preciso extirpar. O significado da segunda volta era esse: prolongar a Paixão por três semanas.
Há contas que nunca ficam saldadas
.”

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Hoje é outro dia

A essa hora, o “J” ainda não tinha ido à caixa de comentários, mas já lá estavam os do Patrick, do Durval e do Pedro Guedes. (Parabéns pela eleição do vosso candidato. Creio que a primeira-dama não está na Constituição, Pedro…)

Não ia ser um dia fácil. Mas aprendi a tocar harmónica em dias mais tristes e meti-me a caminho por essa blogosfera.
Cabisbaixo estava o Besugo (“há pessoas que nos desiludem, mas a culpa é sempre nossa”), ao invés de abruptos comentadores a braços com os ficheiros dos portáteis que levam para legendar o que toda a gente vê.
Sigo a minha viagem e cruzo-me com almocreves que alertam para as “guinadas cavaquistas” que afinal são a causa da felicidade de Sócrates. (Maquiavel era um ingénuo, Patrick).

Pelo caminho há gente que “não se deixa misturar com aqueles malcriados que têm o desplante de dizer que a única chatice, nestas eleições, é Portugal, agora, passar a ser representado ao mais alto nível por um manequim da Rua dos Fanqueiros”, e acredita que “a vantagem da democracia é que estamos sempre a tempo de corrigir”).

Por isso, apesar de algumas previsões espectrais (“Sócrates, a prazo, está condenado, como estão todos os primeiros-ministros, em Portugal”; “já houve, em Portugal, muita "cidadania" que morreu ao virar da esquina”), a vida continua a tugir e mugir.

Saúde e sorte para o próximo Presidente da República Portuguesa, o cidadão Aníbal Cavaco Silva, que acabou com as maiorias (e minorias) presidenciais à meia-noite.

domingo, janeiro 22, 2006

Previsão meteorológica

Manhã de nevoeiro, sol para o fim do dia.

sábado, janeiro 21, 2006

Fim-de-semana em Londres




Um baleia que subiu o Tamisa, está a ser transportada de regresso ao mar. (Fotos: Sky News)

Dia de reflexão


By Patrícia

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Os olhos da história


As reacções ao texto de Eduardo Lourenço (O tempo de Mário Soares) que também aqui reproduzimos, fizeram ribombar os tambores da nova direita que se auto-considera intelectual e liberal.
A vertente intelectual não se alcança no carreirismo das sebentas, como se viu, e, quanto ao liberalismo, a direita portuguesa nunca enjeitou a teta do orçamento, quer antes quer depois do 25 de Abril .

Nesta nova direita há gente que já nasceu depois do 25 de Abril e, por isso, era de esperar que fosse arejada e dispensasse o obscurantismo como arma política. Mas, como bem analisou recentemente Vasco Pulido Valente, a referência ideológica da direita portuguesa continua a ser Salazar, o que lhe confere um inequívoco certificado de origem. É por isso que o obscurantismo continua a fazer escola nas elites da direita, mesmo que a censura tenha acabado na manhã do 25 de Abril. (Terá isto alguma coisa a ver com escutas telefónicas?)

Mas o que distingue esta nova direita dos velhos sobreviventes do marcelismo é a desfaçatez com que contesta a história. Para eles Mário Soares nunca foi um homem de coragem e muito menos um grande político. O que o move é a vaidade e a soberba.
É claro que ninguém vai preso por dizer disparates, mas não é menos verdade que nenhum destes rapazes enfrentou a prisão política, ou lutou por causas mais arriscadas do que a do não pagamento de propinas.

Porém mesmo não tendo respeito por Mário Soares, era de esperar que respeitassem a verdade histórica, pois independentemente das conjunturas e resultados eleitorais, a sua dimensão há muito que ultrapassou fronteiras e fugiu ao controlo dos manipuladores da história.

O regressso

O Patrick Blese não se deu bem na Cidade de Deus e voltou para os Anjos e Demónios.
Esteja onde estiver, "A Forma e o Conteúdo" deseja-lhe o maior sucesso, fazendo votos para que este "regresso ao passado" nada tenha a ver com o que se espera das próximas eleições presidenciais.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

País marginal


Os jornais de hoje fazem eco das conclusões de um estudo segundo as quais “os portugueses são os cidadãos com o moral "mais em baixo" de 12 países europeus”.

Nos mesmos jornais pode ler-se que um em cada cinco dos portugueses que recebem subsídios da Segurança Social, fá-lo fraudulentamente.

Outro órgão de comunicação social informa que o “Automóvel Clube de Portugal prevê uma revolta no país, após o novo aumento de combustíveis” (3 cêntimos (!) por litro para a gasolina sem chumbo).

Não há muitos dias noticiava-se que “Portugal se apresenta numa posição de liderança na União Europeia no número de automóveis por mil habitantes – 558, enquanto na vizinha Espanha é de 460 carros por cada mil habitantes e a média europeia é de 463. O mesmo cenário aplica-se aos telemóveis.

Em contrapartida, “apenas 11 por cento dos empresários portugueses com empregados ao seu serviço eram licenciados, contra 27 por cento em Espanha e 29 por cento na União Europeia.”

Quanto aos empregados licenciados atingimos 13 por cento, enquanto a Espanha chega aos 31 por cento e a média europeia é 27 por cento.

Talvez por isso a produtividade por trabalhador seja de 20 mil euros em Portugal e 41 mil euros em Espanha, ainda assim abaixo da média europeia que é de 45 mil euros. (Sector secundário)

Em resumo, as conclusões destes estudos podiam ser ditas doutra forma:

1- Os portugueses são queixinhas (moral em baixo)
2- Gostam de enganar o estado (um quinto dos que mete baixa e recebe o subsídio de desemprego, não está doente nem tem direito ao subsídio).
3- Gostam carros e telemóveis (batem recordes de SMS e reclamam dos aumentos dos combustíveis, mas não deixam o carro em casa)
4- No trabalho, talvez porque não estudam, demoram o dobro do tempo dos espanhóis para fazer a mesma coisa (têm apenas metade da produtividade dos espanhóis).

Depois disto, cruzar os braços e invocar desmotivação, é a vitimização do criminoso.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

O tempo de Mário Soares

Como no Público está fechado a cadeado, roubei este texto ali no Da Literatura.
A análise de Eduardo Lourenço, são os olhos da história.

«A campanha eleitoral não tem sido exactamente aquele torneio político exemplar que alguns idealistas impenitentes sonharam. Faltou-lhe paixão e sobraram escusadas flechas em forma de boomerang. [...] Trazer para esta sociedade, mais do que nunca sociedade de espectáculo, o eco da antiga paixão portuguesa, quer a recalcada do antigo regime, quer a exaltada e exaltante das duas décadas após Abril, era uma aposta arriscada, para muitos perdida e, em todo o caso, objectivamente quixotesca. Filho desses dois tempos, de que foi actor político precoce e, depois, personagem histórico, Mário Soares ousou trazer de novo para uma arena pública, já longe desses tempos turbulentos, essa antiga paixão política, sem querer saber se estaria ou não fora de estação. Passada a surpresa, esta audácia quase juvenil do antigo Presidente da República foi recebida com cepticismo por muitos, com sarcasmo por outros e, sobretudo, como uma ocasião inesperada para ajustar contas antigas e menos antigas com o homem que, melhor do que ninguém, de entre os activos, se identificou e é identificado com a Revolução de Abril e, em particular, com o tipo de democracia que ela instaurou em Portugal. [...] O mundo é que não é exactamente o mesmo mundo onde essa aventura pessoal e transpessoal foi possível. E esse mundo tinha de mudar, não o homem Mário Soares, mas a imagem dele no espelho alheio. O mesmo homem que, em tempos, passou entre nós como “o amigo americano” quando isso significava que o destino da nossa frágil democracia implicava alinhamento com a primeira das democracias ocidentais, aparece, hoje, aos olhos dos que têm interesse em cultivar essa vinha, como “antiamericano”, o que é, naturalmente, ainda mais simplista do que a antiga etiqueta. A única verdade desta valsa ideológico-mediática é clara: o antigo mundo que foi, durante décadas, o do horizonte da luta política de Mário Soares, funciona em termos de repoussoir — e Mário Soares, mais fiel aos seus ideais de sempre do que se diz, aparece, em fim de percurso, mais à “esquerda” do que nunca o foi. [...] Este tempo de Mário Soares não é apenas o tempo de Mário Soares. É o de várias gerações que, como ele, num mundo então histórica, ideológica e culturalmente dividido entre “direita” e “esquerda”, não apenas no Ocidente mas à escala planetária, escolheu um campo, numa época em que não escolher era ficar fora, não apenas do combate político, mas do combate da vida. É inócuo e só na aparência, prova de imaginária lucidez, pensar que esse comportamento releva de uma versão simplista e maniqueísta do mundo. Essa era a textura do mundo e da história que nos coube viver e só quem pretende viver fora deles se imagina sobrevoá-los como os anjos. É uma bela aposta a de Mário Soares, perdida ou ganha. Com a sua carga romanesca e a sua trama paradoxal. Mário Soares não é — nem a título histórico, nem ideológico — toda a esquerda portuguesa, mas nunca foi mais representativo dela, da sua utopia e das suas inevitáveis miragens, do que hoje, quando, aos oitenta anos, se apresenta como alguém, dentro dessa escolha, susceptível de incarnar ainda, melhor do que ninguém, essa velha aposta que entre nós nasceu com Antero e teve em António Sérgio, entre outros, as suas referências culturais, infelizmente mais vividas com sugestões poéticas do que propriamente políticas. Dizem-me que os dados há muito estão lançados e mesmo que os jogos estão feitos. Não o duvido. [...] Os seus adversários neste combate inglório e soberbo foram sempre outros. Não só os que se lembram do seu militantismo juvenil, como os que não esquecem a sua conversão definitiva ao socialismo democrático, mas, sobretudo, os que nunca lhe perdoaram o ter lutado pela democracia em Portugal, antes e depois de Abril. É isso que a verdadeira direita não esquece. É muito mais gente do que se supõe. É a mesma que põe na sua conta, como uma mancha indelével, a absurda culpa de ter “perdido” uma África que ninguém “perdeu” senão ela. [...] A esquerda não o traiu, nem ele se traiu nela. O drama é que essa esquerda de que pela última vez se faz paladino é, ao mesmo tempo, uma realidade — embora ideologicamente recente — e uma quimera. O problema da esquerda nunca foi a direita [...] mas a esquerda mesmo como pura transparência da história. A esquerda, sendo em intenção mais virtuosa, não é menos opaca, no seu angelismo imaginário, que a mais obtusa direita. Sobretudo quando não se dá conta disso. Em alegoria caseira, estas nossas eleições tão consensualmente democráticas, ilustraram com suavidade à portuguesa esta fatalidade. O combate no interior da nossa suicidária esquerda foi, à sua maneira incruenta, uma espécie de Alfarrobeira política. Talvez algum cronista, no futuro se inspire nela para nosso ensino inútil. Ou um poeta. Mas não terá Mário Soares.»

Mentiras de amigos

(À entrada do Centro de Saúde)

- Tu por aqui! Estás doente?
- Já não temos vinte anos…
- Pelo teu aspecto ninguém diria…
- Tu é que estás na mesma! Se não fosse o chapéu…
- Pois, se o tirar nota-se mais…

terça-feira, janeiro 17, 2006

Dar-se ao respeito

Um homem, que já cumpriu 15 anos de prisão por homicídio de um familiar e ontem reagiu a um mandato de busca atirando sobre um militar da GNR que se encontra em perigo de vida, está há 24 horas barricado numa casa de Sobral de Monte Agraço.

Segundo informa o Portugal Diário, “agentes no local ainda acreditam no diálogo”, acrescentando que “a GNR descarta por enquanto o uso da força para deter o homem”.

Quando já se viu a GNR dispersar manifestações a tiro (lembram-se do bloqueio da ponte?), causam alguma estranheza tantos pruridos para prender um criminoso reincidente.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Um sonho das mil e uma noites


Se você fosse treinador e um jornalista disfarçado de Sheik lhe pagasse uma estadia neste hotel, lhe oferecesse um ordenado igual ao do José Mourinho e, depois da lagosta e do champanhe, o convidasse para treinar o seu clube, provavelmente você aceitava.
Foi o que fez Sven-Goran Eriksson, que não duvidou do falso Sheik que ia comprar o Aston Villa, dispondo-se a abandonar a selecção inglesa e a levar com ele David Beckham e Michael Owen.
Só não se comprometeu com Wayne Rooney e Rio Ferdinand por o avançado ser temperamental e o defesa "lazy sometimes".
A história vem no Guardian.

domingo, janeiro 15, 2006

Arrepiante!

"(Coisa péssima) a utilização do anonimato em blogues estritamente políticos, em particular, os que são escritos a partir de uma perspectiva corporativa ocultada. O caso mais grave é a Grande Loja do Queijo Limiano, um blogue escrito e habitualmente comentado por “agentes da justiça”, sob capa do anonimato, um retrato preocupante de uma mentalidade justicialista arrogante e prepotente. O blogue está cheio de insinuações sobre tudo e todos, alimentando uma atitude policial de desconfiança, sem respeito algum pelas liberdades. Se os seus principais autores são magistrados, procuradores ou juízes, é razão para ter medo, muito medo, das mãos em que está entregue a justiça em Portugal. Infelizmente, a blogosfera paga também este preço pela sua liberdade." (JPP - ABRUPTO)

Quem não tem dinheiro não tem vícios

Será esta a moral desta pequena história lida nas páginas do “Amigo da Verdade”, um semanário que se publica lá para a minha terra:

“Com a chegada do novo ano e com o vigorar dum novo calendário litúrgico, as nossas populações começam já a programar as suas festas religiosas que, muitas vezes de religioso nada têm. Gastam-se rios de dinheiro com artistas, com bailes, com foguetes, com arraiais e muitas outras actividades para honrarem os santos. Muitos dos mordomos esbanjam, sem o menor escrúpulo, os dinheiros ou que lhes foram confiados o que é bem pior, quando a igreja recorda que o serviço dos mordomos deve ser prestado gratuitamente, dividem entre eles os saldos se é que um ou dois se não apoderam das sobras, desrespeitando as normas mais elementares, nomeadamente em relação aos gastos e entrega de todos os saldos das igrejas ou capelas que serviram de palco à realização da festa. As mordomias devem conhecer muito bem as normas pastorais sobre as festas e comprometer-se a cumpri-las, doutro modo não deveriam ser nomeados pelos párocos nem deveriam aceitar a nomeação, quando a sua intenção é servirem-se e não servir. Concerteza
(?!) que todos sabem que não sendo apresentadas as contas pelos mordomos da festa anterior e se não forem entregues ao conselho económico todos os saldos para o fundo paroquial não pode fazer-se a festa, no ano seguinte. O não cumprimento desta norma não permite ao senhor Bispo da Diocese passar a licença para uma nova festa.”

sábado, janeiro 14, 2006

Um amigo dos sobreiros

















Segundo o Guardian, José Mourinho foi escolhido pelo governo português para encabeçar uma campanha publicitária internacional em favor da utilização da rolha de cortiça nas garrafas de vinho.
Segundo o mesmo jornal, algumas empresas de vinho terão começado a preferir tampas de enroscar (custa-me chamar rolhas aos plásticos poluentes das screwtop bottles), sendo insensíveis ao suspense e à magia que rodeia o momento da extracção duma rolha de cortiça numa garrafa de vinho.

Portugal é de longe o maior fornecedor mundial de rolhas de cortiça para engarrafamento de vinhos e, maugrado o consumismo descartável que afecta a sociedade global não primar pela qualidade, não é concebível que as próximas gerações dispensem rolhas de cortiça nos vinhos de qualidade, como o Vinho do Porto e o Champanhe.

Neste nicho de mercado representamos um padrão de qualidade e sauda-se a disponibilidade de Mourinho ao dar a cara por uma causa com tanto significado para Portugal. Os sobreiros agradecem.

Negar as evidências

Em rigor, a notícia do 24 Horas sobre escutas telefónicas não diz nada de substancialmente novo. Desde a prisão de Paulo Pedroso que se sabia que Jorge Sampaio também tinha sido escutado. Aliás, ainda recentemente aqui reportámos esse facto no comentário sobre a mensagem de Ano Novo do Presidente da República (“Lavar as mãos”).

Por isso, o atabalhoado comunicado da Procuradoria Geral da Republica garantindo que "não foi em momento algum pedida a facturação detalhada dos telefones instaladas nas residências citadas das pessoas em casa(?), não existindo – nem podendo existir – no processo qualquer despacho a solicitar à operadora PT o envio desses documentos", é poeira para os olhos de todos nós.

É uma tentativa frouxa de passar para a PT a responsabilidade pela inclusão nos autos dos telefones de diversos titulares de cargos públicos. Ora, nem a PT é parte nos autos para poder incluir seja o que for, nem terá sido a PT que pôs à vista a informação que pretendeu esconder, quiçá ingenuamente (Hide/Unhide?).

Para além de tentar negar as evidências, o que já de si é revelador do carácter dos indivíduos - a quem o Estado confiou a defesa das vítimas, dos fracos, dos incapazes, e dos seus próprios interesses -, o comunicado da PGR denuncia uma crispação imobilista que não vai facilitar as transformações que se impõem no sector da justiça, cuja degradação é já consensualmente considerada como principal obstáculo ao desenvolvimento do país.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

"O fantasma da meia noite"


Antecipamos a fotografia de capa do Expresso de amanhã.
(foto cedida por Bicho Carpinteiro)

"Fiat lux"

Conforme o comunicado da EDP, José, cidadão que vive algures entre Queluz, Massamá, Agualva e Cacém, já teria o fornecimento de energia normalizado às 9 horas da manhã de ontem, 12 de Janeiro, noticiaram os jornais e televisões.

Certamente por os comunicados da EDP andarem a velocidade superior à luz, na realidade, José só teve electricidade às 22 horas desse mesmo dia.

Contrariando a publicidade, a Netcabo foi a última a chegar, e, por isso, José só regressou ao seu mundo hoje de manhã.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

O enfado do deserto

"Cresce nos blogues e nos jornais, o enfado enorme que atravessa os comentários sobre estas eleições. Resta saber se haveria o mesmo enfado se não fosse esperado que Cavaco as ganhasse."
Por muito que JPP tente justificar a aridez do seu candidato, deveria reconhecer que o deserto ideológico que ele personifica é que provoca o enfado.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Aplauso

Para os legisladores do Estado de New Jersey – onde vivem dezenas de milhares de portugueses - por terem suspendido a pena de morte.
Actualmente há 10 presos no corredor da morte neste estado norte-americano, onde ninguém é executado desde 1963.

O Estado do Texas (Hello Mr Bush!) continua a liderar este ranking macabro com 355 execuções desde 1976, ano em que a pena de morte voltou a ser considerada constitucional nos USA, depois de um intervalo de quatro anos.
(Fonte: New York Times)

segunda-feira, janeiro 09, 2006

A caminho de Belém, cantando a Vila Morena

Ultimamente, vários comentadores têm tentado convencer o país de que o melhor que poderia acontecer ao governo de José Sócrates era a eleição de Cavaco Silva. No seu primeiro editorial como director do Expresso, Henrique Monteiro faz disso uma profissão de fé : “Não creio que (uma vitória de Cavaco Silva) cause qualquer embaraço ao governo”.
Ainda bem que HM se suporta na fé para tirar esta conclusão. A razão não é suficiente.

Esta campanha pretende fazer passar a mensagem de que Cavaco Silva é um homem que privilegia a estabilidade, o que, conhecendo o curriculum e a persionalidade do candidato, é uma a ideia bizzarra.
Em democracia, a estabilidade requer flexibilidade e abertura intelectual, predicados que não se descobrem na rigidez impenetrável da personalidade de Cavaco Silva. Embora ele garanta que com os amigos e a família é diferente, a sua falsa modéstia intelectual só em teoria admite perder tempo a discutir as suas certezas, porque “nunca tem dúvidas e raramente se engana”, como murmuram embevecidos os seus seguidores.

Qualquer que seja o Presidente da República, haverá sempre pontos de discordância com o governo, mas o que está em causa é a capacidade de diálogo para obter consensos. Sobre isto Cavaco Silva acredita (lá vem outra vez a fé) que, se tiverem a mesma informação, as pessoas chegam às mesmas conclusões. Esta calinada poderá ser desculpável em alguém com a quarta classe, mas era chumbo, pela certa, em Ciência Politica.
Também não me parece menos grave em quem ministra MBAs, e o facto de ser numa universidade confessional pode parecer atenuante, mas não abona para o caso. Por fim, o que ressalta é o vício do raciocínio de Cavaco Silva que o coloca em dificuldade para compreender pontos de vista diferentes dos seus.
Se calhar é por isso que fala pouco e como tal não facilita o diálogo nem propicia conciliações. Alguém se lembra dele como parlamentar? Ninguém. Ele é um PROFESSOR, na pior tradição dos lentes que as universidades portuguesas têm dado à política. Para os que andam esquecidos, Oliveira Salazar e Marcelo Caetano são dois exemplos.
Para eles, os parlamentos são um mal necessário (malvada Revolução Francesa), mas não os convidem a sujeitar-se ao vexame de terem de discutir as suas ideias com deputados a quem nunca dariam um 10, ou, cúmulo dos cúmulos, nem sequer passaram pelos bancos da faculdade.
Gostam de dar aulas, de preferência em universidades onde não há espaço para a contestação. Falam de cátedra e quando ascendem ao poder convivem mal com o poder dos outros.

A tudo isto acresce o facto de a direita estar sentida desde que foi expulsa do governo. Ma verdade, muito antes de Santana Lopes e Paulo Portas terem perdido as legislativas, já o povo os tinha expulso.
É por isso que a eleição de Cavaco Silva é tão essencial para a recuperação moral da direita. É uma tábua de salvação no oceano sem referências onde Santana e Portas a deixaram. Agarra-se a Cavaco com ânsias de náufrago e, apesar de as sondagens lhe assegurarem a vitória desde já, não arrisca nada. A sua estratégia também passa por dar tréguas ao governo. Vale tudo, para chegar ao poder, mesmo cantar a Vila Morena. Depois de lá estar logo se vê.
Porém, onde a direita perde completamente a vergonha é na descarada colagem de Cavaco Silva a Sócrates. Não passa um dia sem que os seus arautos se revezem em profissões de fé a prometer a estabilidade ao governo.

Mas só quem esqueceu a tese das “forças de bloqueio” é que cai na esparrela de acreditar que Cavaco Silva vai proporcionar estabilidade a um governo em que o Primeiro-ministro pensa pela própria cabeça.
Só um crente com o temor reverencial de Marques Mendes poderia coabitar com ele em sintonia.

domingo, janeiro 08, 2006

A Cidade de Deus

Embora figure na lista de blogues há alguns dias, ainda não tínhamos noticiado o nascimento do novo blogue de Patrick Blese: "A Cidade de Deus".
A nova morada deste nosso particular amigo, que abandonou os "Anjos e Demónios" ao seu destino, beneficiou da inspiração de Pedro Guedes que para tanto se fez pagar principescamente, conforme informação que "A Forma e o Conteúdo" interceptou.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Cavaquismo à de Gaule

No tom cauteloso de quem está sempre a medir as palavras, Cavaco Silva entrou-nos pela casa dentro conversando com o jornalista da SIC, como já outros candidatos tinham feito. Mostrou-nos o seu gabinete na “Católica” – onde foi levar as notas dos MBAs – e levou-nos até à casa de férias no Algarve. Às perguntas pouco mais que triviais, responde como se as palavras lhe fossem arrancadas a ferros, parecendo esforçar-se para não denunciar sabe-se lá o quê.

Noutras circunstâncias, estava-me nas tintas e mudava de canal. Se o homem não se queria confessar, era lá com ele. Mas as sondagens fazem deste homem o próximo Presidente da República e mesmo que eu não tencione votar nele, não posso ficar indiferente.

Ao longo da entrevista, Aníbal Cavaco Silva referiu várias vezes que “mudou muito”, procurando esbater memórias que o incomodam, provavelmente do período em que foi Primeiro-Ministro.

Na verdade, nomeadamente quanto ao segundo governo que chefiou, não há muita coisa boa a recordar. Foi a época do tabu, ou da resignação do homem do leme perante o naufrágio cavaquismo. Com o governo à deriva, cada ministro tratou das suas clientelas e assim começou o calvário em que nos encontramos. Mas se o homem não concorre a Primeiro-Ministro, qual é a preocupação?

Desta vez, as nuvens que ensombram metade do país – e Cavaco Silva não ajuda a desanuviar – têm mais a ver com a possibilidade de subversão do regime. Muitos dos seus apoiantes preparam-se para lhe exigir a instauração de um cavaquismo à de Gaule, de que o episódio da Secretaria de Estado para as empresas estrangeiras parece um acto falhado. Ao refugiar-se na lenda do seu comportamento reservado – não separando as águas da onda revanchista que o empurra –, uma vez eleito, Cavaco Silva arrisca-se a ser submerso por ela e ainda não deu provas de que deseja coisa diferente.

Então se verá se têm razão os adversários que apontam falhas à sua consistência democrática.

Um campeonato onde todos ganham


Sempre se aprende qualquer coisinha.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Paisagem urbana


By Patrícia

Não se dá no Alqueva?

Se cada quilo custa 5.000 euros (mil contos), parece impossível que tenha que se proibir a exportação do caviar, para evitar a extinção do esturjão.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Ameaças

Várias vezes nos temos referido aos malefícios das corporações e de outros grupos de pressão que minam a Administração Pública, dispondo dos serviços e do orçamento do Estado em seu benefício, prejudicando os cidadãos.

Mas nunca nos passaria pela cabeça que usassem métodos da máfia, como parece ser o caso das ameaças à integridade física do presidente do conselho de administração do Hospital de Santa Maria e respectiva família, relacionadas com a defesa de “interesses ilícitos e ilegítimos”.

Pontos nos is

«Não sou eu que tenho que apresentar provas, são eles que têm que demonstrar que são imparciais» (Mário Soares - Portugal Diário).

terça-feira, janeiro 03, 2006

"Nas costas dos outros vejo as minhas"

Há alguma má consciência no desconforto com que a Europa observa a “Guerra do Gás” entre a Rússia e a Ucrânia.

Guiados por um nacionalismo magoado por décadas de submissão a Moscovo, os estados que se desligaram da antiga Federação das Republicas Socialistas e Soviéticas vão reforçando os laços com os países ocidentais, inimigos históricos da sua antiga potência.
A Rússia vê-os bater às portas da Nato e da União Europeia e vai contendo o orgulho ferido, isolada na imensidão gelada para onde o fim da guerra-fria a atirou.

Mas, como aconteceu com Hitler e com Napoleão, o Inverno foi mais uma vez o aliado dos russos que não deixaram escapar a oportunidade de fazer sentir à Ucrânia o custo do seu afastamento. Se os ucranianos querem ir para a Nato, que paguem o gás ao preço da Alemanha e da Itália, ou morrem ao frio.

Por cá também há uma guerra qualquer por causa da energia. Tal como aconteceu com a Galp, espero que o governo ainda esteja a tempo de manter o controlo da EDP em mãos nacionais, não vão os espanhóis cortar a luz.

"Prós e contras"

"Pacheco Pereira, sim, esse senhor simpático e um pouco mole (tem a expressão daquele cãozinho que era chato como o caraças, dos desenhos animados, não me lembra o nome dele), nunca poderá ver um jogo de futebol a sério porque nunca há-de perceber como é que se pode gostar do Maradona." (Besugo in Blogame mucho)

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Lavar as mãos

Cumprindo o ritual, o Presidente Jorge Sampaio dirigiu-se ao país no dealbar do Ano Novo. Os problemas da justiça são um lugar comum nos discursos oficiais e uma vez mais o Presidente da República adoptou a pose de Pilatos.
Perante o estado a que a justiça portuguesa chegou, o seu apelo ao reforço da separação de poderes arrisca-se a ser interpretado como apoio à linha corporativa que domina a máquina judicial, nomeadamente o Conselho Superior da Magistratura e o Supremo Tribunal de Justiça.
Foi assim também com a sua intervenção no Congresso dos Juízes, onde as suas palavras foram usadas pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça para atacar o governo, numa das intervenções mais infelizes que alguma vez um responsável daquele tribunal terá proferido publicamente.

Jorge Sampaio poderá ter razões para se orgulhar dos seus mandatos como Presidente da República, mas não certamente pelo que aconteceu na área da justiça, onde não há paralelo para o descalabro a que se chegou nestes dez anos.
Foi durante os seus mandatos que se tornou público o recurso abusivo à prisão preventiva e o uso indiscriminado das escutas telefónicas na investigação. Apesar de ser um dos visados, Jorge Sampaio só veio a público para apoiar os principais responsáveis por este atentado aos direitos humanos.

Perante os problemas do país, há muito tempo que Jorge Sampaio se limita a lavar as mãos à frente do povo.
Não é muita a dignidade que lhe resta para acabar o mandato.

domingo, janeiro 01, 2006

Fumar é um sacrifício

Deixei de fumar há uns anos , mas ainda senti o desconforto de ter de sair de um edifício para fumar um cigarro. É chocante ver grupos de pessoas à porta dos prédios, a olhar uns para os outros como estranhos, chupando cigarros como quem cumpre uma penitência.

Em Espanha, acaba de entrar em vigor uma lei que empurra literalmente os fumadores para rua. Nos escritórios, bares, discotecas, restaurantes e na generalidade dos recintos fechados, vai ser proibido fumar.
Para além de agradar aos antitabagistas, a lei é vista como uma ajuda para os 70% de fumadores que querem deixar de fumar. Mas não deixa de ser violenta.

Porém, a avaliar pelos resultados que uma lei semelhante teve na Irlanda – em dezoito meses o consumo de tabaco reduziu 13%, e 90% da população apoia as restrições ao consumo do tabaco – parece que o caminho para minorar os efeitos negativos do tabagismo passa por aí.

(Fonte: El País )

Uma visita indispensável

Parabéns ao “Da Literatura” pelo seu aniversário.