segunda-feira, janeiro 29, 2018

A justiça e a luta partidária.

Ninguém de boa fé e em seu perfeito juízo acredita que o ministro Mário Centeno, ou  qualquer outro, se deixaria corromper por dois bilhetes para um jogo de futebol.

Por ocupar os recursos a caçar gambuzinos é que provavelmente o Ministério  Público  fica sem os meios para atender a outros casos como os de violência doméstica, de cuja falta se socorreu o presidente do sindicato dos magistrados do MP para justificar o não atendimento da queixa da mulher que trinta e sete dias depois foi morta a paulada pelo marido (ver post  anterior).

Toda a gente sabe que a direita aposta desde início no ataque a Mário Centeno para desgastar o governo. Com uma política diametralmente oposta à seguida pelo governo PSD/CDS, este ministro das finanças pôs a economia a crescer, o desemprego a baixar, a dívida a diminuir, levou as exportações acima de  40% do PIB e ainda ganhou prestígio para a Europa o querer a presidir ao Eurogrupo.

Tal sucesso tornou-se intolerável para a direta portuguesa que em vez de apresentar propostas credíveis para virar o eleitorado a seu favor, apostou tudo na vinda do Diabo. Como o Diabo não se prestou ao frete, virou-se para a Justiça que, estranhamente, parece disposta a fazer o papel do mafarrico.

Com tanto diabo à solta, pode parecer um auto de Gil Vicente, mas neste caso não é ficção e quem se queima é a democracia.

domingo, janeiro 28, 2018

Formação, deformação...


Leio e pasmo, porque se é esta a desculpa para o não atendimento adequado da queixa da mulher que foi morta à paulada pelo marido, trinta e sete dias, repito, trinta e sete dias depois de alertar que o marido ameaçava matá-la se se queixasse, algo está podre neste reino.
Se somos incapazes de proteger às vítimas que se queixam, dificilmente faremos justiça às que não chegam a queixar-se.

quarta-feira, janeiro 24, 2018

Crimes televisivos?

Há anos que na televisão praticamente só vejo filmes, além de um ou outro jogo de futebol, de preferência sem som. Para as notícias valho-me da Internet. 
Quando cedo à tentação de voltar ao convívio televisivo, acabo por me arrepender, tal a degradação a que se chegou com a parcialidade das noticias/comentários, sem falar no populismo boçal dos programas que as Tvs destinam ao "povo". Felizmente há mais "povo" para além do da TV.
Mas, pensar que o panorama televisivo não pode piorar,  é pura estultícia. A prová-lo está  o programa Supernanny da SIC, cuja exibição está a ser criticada por diversos sectores relacionados com a protecção de menores, que consideram prejudicial a exposição publica das crianças usadas no programa, havendo "elevado risco" de este "violar os direitos das crianças, designadamente o direito à sua imagem, à reserva da sua vida privada e à sua intimidade".
Se o Ministério Publico abriu um inquérito crime a uma estação televisiva, certamente não é apenas a ética que está em causa. Há mais qualquer coisa.



segunda-feira, janeiro 22, 2018

Consensos

Falar de consensos em abstracto é conversa da treta. Falar de consensos entre partidos, excluindo os partidos mais à esquerda,  que garantem a actual maioria parlamentar, revela uma visão deturpada da democracia.

domingo, janeiro 21, 2018

A verdade vai-se sabendo

A segunda metade de 2017 foi dominada pelos fogos florestais. A comunicação social apoderou-se da desgraça alheia, com as televisões a incendiar os ecrans de manhã à noite.
Incapaz de resistir ao chamamento populista, o presidente Marcelo prestou-se a uma demonstração de oportunismo político, a coberto de uma subjectiva afectividade, liderando um sentimento que fez recair sobre o governo actual a responsabilidade por décadas de negligência na gestão florestal e de absurdas impunidades com criminosos incendiários.

A possibilidade de os incêndios serem de iniciativa criminosa, não preocupou o presidente nem a oposição de direita, que usou tragédia dos incêndios como plataforma para atacar o governo.

Que outra explicação haveria para deflagrarem, numa só noite, mais de quinhentos fogos a norte do Tejo?
A dimensão e a notória coordenação destes crimes pressupõe uma organização ainda por identificar...


sexta-feira, janeiro 19, 2018

Piar fininho

Quem esperava saber novidades na abertura do ano judicial terá ficado desiludido. Isto é, os oradores do ramo limitaram-se ao politicamente correto, garantindo que tudo está bem, com a ressalva de que gostariam de ter mais dinheiro e mais meios, como todos nós... Nada de novo, portanto.

Os que ainda acreditavam que o presidente Marcelo fosse tão "assertivo" com o poder judicial, como tem sido com o poder executivo e com o parlamento, terão assistido a um exercício de equilibrismo com pinças e paninhos quentes que resultou confrangedor.
Se até o presidente pia fininho perante um poder que não emana dos votos, mal vai a República.

segunda-feira, janeiro 15, 2018

Vendilhões


O problema é que já nem o diabo parece interessado nestas almas que batem muito no peito, mas não hesitam em dar facadas nas costas.


domingo, janeiro 14, 2018

Atravessar a ponte

Se Rui Rio conseguir atravessar a ponte sem se desorientar, talvez tenhamos homem. Outros o tentaram e vários falharam: Miguel Cadilhe, Fernando Gomes, Teixeira dos Santos, Daniel Bessa... A lista é extensa.

Há tripeiros que não conseguem viver sem o Porto e, quando têm que se ausentar, tentam levá-lo  com eles. Como ainda nenhum conseguiu, acabam desiludidos e regressam a penates...

quinta-feira, janeiro 11, 2018

O ultimo combate

Ouvir hoje na radio (TSF e Antena 1) o debate entre Rui Rio e Santana Lopes foi mais do mesmo. Embora se apresentem como homens de futuro, tanto um com outro têm passado e os portugueses conhecem-no. Os debates não acrescentaram nada a esse passado que ambos tentaram justificar, atacando-se mutuamente.

Sobre o que propõem para o país - educação, saúde, segurança social, emprego, crescimento -, nada de concreto, apenas lugares comuns. A única preocupação de ambos foi baixar o IRC, o que não deixa de ser sintomático da política que querem prosseguir. Como apenas 32% das empresas paga IRC, o fraco alcance desta medida na economia torna-se evidente.

Ah! E ambos querem alterar a Constituição...
À direita a renovação continua adiada.

segunda-feira, janeiro 08, 2018

Telhados de vidro

Sobre a lei de financiamento partidário,  entretanto vetada pelo presidente da República, não me pronunciei. A lei desconheço-a em concreto, o veto, pareceu-me condicionado pela pressão da opinião pública, mas, que o mandato de Marcelo vai ser orientado pelo populismo, ninguém duvida.

O que mais me escandalizou não foi a isenção do IVA aos partidos, algo que é concedido a igrejas, IPSS, e mais alguns milhares de instituições cuja utilidade pública está longe de se poder comparar à dos partidos. 
O que de facto foi vergonhoso neste processo foi a postura do CDS. Um partido que teve a lata de receber dinheiro de Jacinto Leite Capelo Rego, deveria ter tento na língua e não vir pregar lições de moral. Quem tem telhados de vidro...


sexta-feira, janeiro 05, 2018

Santana vs Rio

O país assistiu a um debate onde o prato forte foras tricas. Se em vez de tricas, o Rui Rio tivesse trazido uma dose de tripas...
O que ontem vimos foram dois políticos datados, cada um à sua maneira: Santana regressou ao estilo de "menino guerreiro", interrompendo amiúde o  adversário, um modelo de debate muito em voga nos anos oitenta do século passado, que já não pega. Para além disso, tentou convencer-nos de que o culpado das trapalhadas que arranjou  quando herdou o cargo de primeiro-ministro de Durão Barroso foi o presidente Jorge Sampaio. Uma trapalhada!

Por seu lado Rui Rio, sempre no estilo "não me comprometa", não conseguiu desembaraçar-se da acusação de ter sido simpático com António Costa quando ambos eram presidentes de câmara, o que para Santana parece ser impedimento  para ser líder do PSD. Embora ser malcriado e agressivo com adversários políticos ainda tenha seguidores (vide Assunção Cristas),  a boa educação e a tolerância nunca fizeram mal à democracia e o povo sabe valorizá-la, como mostram as sondagens.

Por fim, sendo bons seguidores do guru de Belém esperava-se que dissessem como pensam reinventar o país, mas também nisso ficámos em branco. 

Uma perda de tempo.

quarta-feira, janeiro 03, 2018

O grande inventor

A Marcelo Rebelo de Sousa nunca faltou imaginação, sendo talvez  um dos responsáveis pela tendência inventiva do jornalismo português.
Somos um país pequeno onde, felizmente, não acontecem muitos acontecimentos relevantes. A solução é inventá-los e a nossa imprensa encarrega-se  disso. Desde que Trump inventou as fake news, qualquer um perspega uma galga no Facebook que ninguém lhe questiona a veracidade da bojarda.

Como Presidente da República, Marcelo está a outro nível e não se contenta com inventar factos ou simples notícias. Quer inventar um país,  pois já não lhe chega este minúsculo retângulo. 
Incensaram-no, agora aturem-no.



segunda-feira, janeiro 01, 2018

Cuidado com os afetos

Como alguém já disse, os afetos atribuídos ao presidente Marcelo de afeto têm pouco. Tudo espremido, é simples populismo.

O problema é que, independentemente das intenções dos respectivos sujeitos, o populismo em Portugal escorrega sempre para o Salazarismo.
Enquanto a direita não gerar uma referência compatível com a democracia, Salazar continuará a ser a sua referência ideológica.
Sá Carneiro e Freitas do Amaral não conseguiram corporizar uma alternativa a essa referência. O primeiro, cuja trágica morte foi explorada no pior sentido, teria hoje dificuldade reconhecer o partido que fundou, tal a deriva de inspiração Salazarista provocada por  décadas de liderança cavaquista.
O segundo, Freitas do Amaral, teve de abandonar o CDS.- que lhe deve a paternidade -, pois, doutro modo,  arriscava-se a ser expulso pelos arrivistas que transformaram o partido num consumível descartável do PSD.

Em quarenta anos de democracia, o expoente da direita portuguesa foi Cavaco Silva,  cuja obra em prol do país foi tão desastrosa que hoje poucos duvidam ser ele o principal responsável pelo atraso de Portugal face aos parceiros europeus.