A Inglaterra tardou a reconhecer o perigo que Hitler significava o que custou o cargo a um primeiro-ministro. O que Hitler apregoava ofendia de tal modo os valores da civilização que os bem-pensantes confiaram na inteligência do povo alemão para se livrarem da besta que albergava.
O resultado saldou-se por dezenas de milhões de mortos e ainda hoje nos custa a acreditar que tal tenha acontecido.
É bom não esquecer que Hitler chegou ao poder pela via democrática, mas uma vez instalado acabou com a democracia e perseguiu os que se lhe opunham.
Um fenómeno de características parecidas está a acontecer nos Estados Unidos da América. Até há pouco tempo ninguém arriscaria que Donald Trump chegaria a presidente. No entanto, já há sondagens que lhe dão a vitoria sobre a virtual candidata do partido Democrático.
Se a responsabilidade pelo "aparecimento" de Hitler aponta para as humilhações infligidas à Alemanha na sequência da derrota na primeira guerra mundial (1914-1918), a responsabilidade pelo surgimento do fenómeno Trump tem origens mais difusas, mas em rigor não são muito diferentes. O americano médio vive atormentado pelo terrorismo, pela crise dos refugiados e pelo assalto da emigração.
Ao medo do americano médio responde Trump com a expulsão dos indesejados e com o fecho das fronteiras aos que ainda procuram o sonho americano.
O discurso de Trump não é menos xenófobo que o de Hitler. Os alvos não são rigorosamente os mesmos, mas há semelhanças.
Cada um na sua época, ambos se afirmaram contra o "politicamente correto", aproveitando os medos e os ressentimentos das respectivas sociedades.
Se Hitler fez o que fez com a força que tinha, o que fará Trump com o maior exército do planeta?