“Foi uma tarde sombria. Pelos discursos. Pelo pessimismo dos convidados do PSD para reflectir nas jornadas parlamentares sobre os bloqueios do país e a alternativa ao PS. Um deles, o antigo ministro Ernâni Lopes, chegou a gelar a sala com a proposta de redução de 15 a 20 por cento nos salários da função, incluindo os políticos. Campos e Cunha, o ex-ministro das Finanças de José Sócrates, falou de economia, mas também ele gelou a sala com a ideia de a Assembleia ter um número de deputados variável, tendo em conta o voto em branco, ou ainda o cálculo de ordenados dos políticos com base numa média do IRS, acrescida de 25 por cento.
Logo a abrir o debate ficou o desafio do sociólogo Manuel Villaverde Cabral de o PSD apresentar uma moção de censura. Ficou sem resposta da direcção, cuja estratégia é a contrária a essa.”
Segundo este relato do
insuspeito jornal Público, os três convidados, apresentados nos dias precedentes como mais-valia, lançaram ontem o pânico entre os deputados do PSD. Gelaram-nos, titula o jornal.
É certo que os anacrónicos convidados mais não fizeram do que repisar as profecias apocalípticas que os portugueses estão fartos de ouvir nos tempos de antena anti-governo que as televisões generosamente disponibilizam. Mas a sua presença nas jornadas parlamentares teve a virtude de clarificar, para dentro e para fora do partido, a deriva da actual direcção do PSD. Há quem lhe chame neo-liberal, mas a proposta de eleger deputados com os votos brancos, sugerida por Campos e Cunha, remete para os piores tempos da União Nacional, em que os mortos contavam a favor do regime.
Se é com gente deste jaez que o PSD conta para formar um governo sombra, se viesse a tomar posse, ficariamos assombrados.