Não vou ler o último livro de Cavaco pela mesma razão porque não li os anteriores: como escritor não tem verve, como político tem muitos lapsos de memória, só divulga o que lhe convém.
Exemplos são vários: Alguém se lembra de ele ter explicado o caso das escutas de Belém ou da casa da Coelha? Também nunca explicou a sua relação com o BPN, nem porque aconselhou os portugueses a confiar no BES em vésperas da sua falência.
Divulgar as conversas havidas com o primeiro-ministro Sócrates não o dignifica, sobretudo se omite as conversas que teve com Passos Coelho que talvez interessassem mais aos portugueses para aquilatar da sua responsabilidade no descalabro que foi a governação de Passos.
Cavaco não faz nada disso. A sua escrita é apenas um acto vingativo contra inimigos mais imaginários que reais, pois os dez anos que passou em Belém serviram apenas para alimentar o rancor que o faz falar e escrever.
O país pouco aproveitou do seu longo passado político. Pode mesmo dizer-se que os vinte anos que Aníbal Cavaco Silva esteve na liderança do país são os piores da democracia não apenas no sentido social, mas também, ironia das ironias, os piores para a economia do país, pois foi durante o seu governo como primeiro-ministro que desapareceu a frota pesqueira e a agricultura só recentemente começou a recuperar do ostracismo a que ele a votou...
O que Cavaco tinha a dizer ao país já o disse e não foi nada de bom. O que escreve não é melhor.
Pode escrever cem livros que os portugueses não vão esquecer o que disse sobre as reformas que auferia, enquanto Passos Coelho aumentava astronomicamente os impostos e cortava salários e pensões. Nem vão esquecer a popularidade zero com que saiu de Belém, resultante da promiscuidade obscena com o governo de Passos Coelho.