sábado, dezembro 31, 2005

Cartão de visita

A todos quantos nos visitaram em 2005 desejamos um ano de 2006 pleno de saúde e felicidade. Esperamos continuar a receber as vossas visitas.

Sem pretenderemos ser exaustivos nem profundos, aqui ficam em jeito de apontamento alguns registos do ano que agora finda:

- Afonia de Jerónimo de Sousa no debate televisivo das legislativas. – (Há males que vêm por bem).

- “O líder (Santana Lopes) seduziu os militantes como só o “Menino Guerreiro” sabe fazer” (Portugal Diário) – (Há jornais que vêem longe).

- "Vai votar em Santana Lopes?" – "Vou, sim... (o seu governo) não era melhor nem pior do que os outros..." (Agustina Bessa Luís em entrevista ao DN) – (E escritores também).

- A seca – (Dar mais valor à água).

- Limitação de mandatos – (Uma limitação muita folgada)

- O “Não” da França e da Holanda à Constituição Europeia – (O impasse).

- Peseiro eleito o melhor treinador da Super Liga – (Óscares à portuguesa).

- Atentados no Metro de Londres – (A paz é um bem raro).

- O arrastão de Carcavelos – (Incompetência e demagogia à solta).

- Greve aos exames do secundário – (Foram os professores que a fizeram).

- Greve dos juízes – (Porquê?!).

- Gripe das Aves - (A ameaça mantém-se).

- Super Mário – (Só por piada).

- Super Cavaco – (Nem isso).

- Ota – (O aeroporto que vai mudar Portugal).

- TGV – (Não tanto)

- A revolta dos subúrbios de Paris – (Os carros são combustíveis…)

- Crucifixos – (Uma guerra que ninguém quis).


BOM ANO NOVO

Dakar 2006


Está amena a madrugada. Ninguém se assusta com as nuvens ralas que não tapam as estrelas.
Em Belém está tudo pronto.
Vai começar o rali.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

"Verdes são os campos"




By Patrícia

Cidadanias

Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia, não foi sensível aos apelos para comutar a pena de morte a um prisioneiro recentemente executado numa prisão de S. Francisco.
Por esse facto, a Assembleia Municipal da cidade de Graz (Áustria), sua terra natal, alterou a designação do estádio local que passou a chamar-se "Estádio Liebenau" em vez de "Estádio Schwarzenegger".

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Paisagens humanas


By Patrícia

terça-feira, dezembro 27, 2005

Um passado que nunca existiu


Ultimamente têm vindo a ser editados livros, DVD e cassetes vídeos com imagens das antigas colónias, nomeadamente de Angola e Moçambique. O seu sucesso tem sido tão grande que nem o super-mediático Miguel Sousa Tavares resistiu à tentação de fazer uma edição ilustrada do seu Equador, com fotografias da era colonial.

Segundo o Diário de Notícias, que trata hoje o assunto, tal sucesso dever-se-á ao facto de a maioria dos portugueses ter um conhecimento muito limitado do modo de vida das antigas colónias que, apesar de pertencerem ao mesmo país, estava nos antípodas do que se passava da metrópole.

Temendo o aparecimento de sociedades que pudessem vir a reivindicar a separação da Metrópole, (a independência do Brasil teve a sua génese num fenómeno semelhante), o Estado Novo sempre dificultou a emigração para as colónias, sendo indispensável a célebre “carta de chamada” aos que pretendiam emigrar. Esta exigência só desapareceu com as guerras coloniais, mas nessa altura a emigração já estava voltada para a Europa.

Se a censura foi a arma que permitiu ao Estado Novo a manutenção do poder, foi também ela que impediu os portugueses de conhecerem melhor as suas colónias. Basta passar os olhos pelos jornais da época para confirmar que a generalidade das notícias sobre as colónias eram de carácter oficial, quase sempre a propósito da visita de uma qualquer Excelência a tão remotas paragens.

No que ao desenvolvimento das colónias dizia respeito, o Estado Novo só acordou quando os movimentos nacionalistas deram os primeiros tiros. Até lá, contrariamente ao que uma parte da oposição defendia (Norton de Matos), o Estado Novo nunca se mostrou disponível para apostar com seriedade no desenvolvimento das colónias. As colónias estavam entregues a grupos económicos e o estado “limitava-se” a garantir que os seus (deles) interesses não eram beliscados. Era assim com o açúcar, o sisal, o algodão e o café. Nos minérios mandavam as multinacionais.

Salazar sempre desconfiou do que se passava longe do seu quintal e, apesar da retórica, não tinha qualquer simpatia pelas colónias, contrariando uma ideia feita. Em quarenta e oito anos de governo, nunca pôs os pés num barco ou num avião para as visitar.
Os que invocam o castigo que aplicou aos que se renderam em Goa ou a ordem de “para Angola rapidamente e em força”, tentando provar o contrário, ainda não se aperceberam de que sofrem da mesma cegueira histórica que o acometeu.

Tanto as velhas gerações, que tinham das colónias as imagens dispersas dos postais da baía de Luanda e da “Costa do Sol” em Lourenço Marques, como as novas, já circunscritas ao rectângulo europeu, se maravilham com o sortilégio das memórias deste império, servidas a retalho em DVDs.
Não sei se, como eu, muitos têm a sensação de estar a ver um passado que nunca existiu.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Bem prega Frei Tomás

A máscara de rigor, que este candidato procura mostrar, caiu logo na primeira prova.
Para ser levado a sério, não basta apregoar a ultrapassagem da Eslovénia, ou simular o patético esgar de sofrimento de cada vez que repete o número dos desempregados.
Com exemplos destes, a confiança dos investidores não vai melhorar.

“Nada de cava catalán”

A polémica sobre as alterações ao estatuto da Catalunha trouxe para a ordem do dia em Espanha a discussão sobre os limites a impor às autonomias para salvaguardar a unidade do estado.
Depois das discussões no parlamento e das manifestações de rua, a reacção aos desígnios catalães chegou mesmo aos cabazes de Natal, onde o boicote aos produtos catalães se fez sentir, nomeadamente na área de Madrid, como relata o El Pais.

sábado, dezembro 24, 2005

Provérbios

Com votos de Festas Felizes para todos os candidatos à Presidência da Republica, "A Forma e o Conteudo" dedica um provérbio aos mais representativos:

Jerónimo de Sousa - "Laranja antes do Natal livra do catarral."

Manuel Alegre - "Quem colhe antes do Natal, deixa o azeite no olival."

Cavaco Silva - "Galinhas de São João, pelo Natal poedeiras são."

Mário Soares - "Quem morre de véspera é peru no Natal."

Francisco Louçã - "Chuva em Novembro, Natal em Dezembro."


... E para José Sócrates: "Natal ao domingo, vende bois e compra trigo."

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Diferenças

"Ele (Mario Soares) combateu o Salazar, quando Cavaco combatia por medalhas de atletismo. Ele criou um partido no exílio, quando Cavaco criava raízes em York. Ele ajudou a fazer o 25 de Abril, lutou por uma democracia representativa, combateu os comunistas, calou os militares, e impôs algum juizo ao General Eanes quando ele se convenceu que era o General de Gaulle. Aliou-se aos americanos, incorrendo no ódio mortal da nossa patética esquerda. Impôs disciplina financeira a uma terra que ainda andava a falar de reforma agrária. E, acima de tudo, colocou esta nação de trôpegos e néscios camponeses na União Europeia."

Mas há mais, em "O Franco Atirador"

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Bom Natal!


Estamos na quadra natalícia. Embora não se feche o estabelecimento, a actividade vai ser mais reduzida. Usufruam a magia destes dias.
Bom Natal!

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Fair play

Mourinho diria que uma das equipas pôs um autocarro à frente da baliza.
Eu aviso as claques de que, desta vez, não chegam buzinões para correr com o treinador.

terça-feira, dezembro 20, 2005

O medo dos boys

Os eleitores que abordam Manuel Alegre, garantindo-lhe que vão votar nele mas que não o podem dizer publicamente porque têm medo de represálias, não são flores que se cheirem. Dar-lhes voz e usá-los como argumento de campanha é ainda pior, porque se ignoraram os milhares de pessoas que dão a cara por todas as outras candidaturas, sem que se sintam condicionadas ao fazê-lo.

Fontes da campanha de Manuel Alegre vieram confirmar que o medo prende-se com eventuais represálias do Partido Socialista. Para que esta afirmação faça algum sentido, isso só poderá acontecer se as ditas pessoas forem militantes ou gente muito conotada com esse partido. Mas mesmo assim não chega. Os seus receios só terão fundamento se essas pessoas pensarem que o apoio público a Manuel Alegre põe em risco benefícios que usufruem ou pensam vir a usufruir em razão da sua militância ou da sua conotação com o Partido Socialista.

É normal que quem usa a militância partidária como meio para obter benefícios pessoais se desoriente quando ocorrem divisões no seio dos partidos, não sabendo em que cavalo apostar para garantir o tacho. O que se estranha é que Manuel Alegre empreste a sua voz tonitruante a estas aves de mau agoiro.
Ainda há quem acredite que esta candidatura não é partidária, mas, para isso, não basta ser contra Socrates...

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Crime público

Não costumo prestar atenção ao programa “Opinião Pública” da SIC Noticias. Normalmente os assuntos são escolhidos segundo critérios de audiência e os moderadores convidados raramente conseguem equilibrar a pobreza das intervenções.
Hoje o tema são os exames de português. O mínimo que se esperaria era que a SIC Noticias convidasse alguém com sentido de responsabilidade, preocupado com o ensino da nossa a língua.
Mas não. O convidado-moderador é nem mais nem menos que o representante de uma a tenebrosa Associação (de Professores de Português?) que tem recorrido a todos os meios para acabar com os exames de português no ensino secundário .

Felizmente que a generalidade das intervenções dos espectadores tem sido a favor dos exames, contrariando os intentos obscurantistas do irresponsável “professor”, que não disfarça a sua mediocridade na argumentação irracional que usa contra os exames.
Ao convidar uma pessoa que é contra os exames de Português para moderar este assunto, a SIC não se limitou a ser parcial e a prestar um mau serviço. Cometeu um crime público e devia responder por ele.

domingo, dezembro 18, 2005

"O melhor blogue em Análise Social"

O Patrick Blese, de Anjos e Demónios, decidiu atribuir Óscares aos blogues que se distinguiram em 2005.

"A Forma e o Conteúdo" sente-se honrado por ter sido distinguido na categoria de "Análise Social".
Se bem que os demónios tenham disputado esta eleição a ferro e fogo (onni soit qui mal y pense), não temos dúvidas de que a atribuição deste Óscar se ficou a dever aos dois anjos que inspiram aquele blogger.

Vão lá ver os outros.

Imagens de Natal




By Patrícia

Quem são os machistas?

Já se percebeu que as mulheres de alguns candidatos só atrapalham. Mas não é preciso dizer estas enormidades.

sábado, dezembro 17, 2005

"Microscópica-abrupta-causa"

Usando um meio em que ele fez escola, foi lançado ali no Tugir um repto a JPP para que se retrate do que disse sobre Freitas do Amaral quando este ministro criticou o Reino Unido por ir apresentar uma proposta insuficiente para o orçamento comunitário. JPP previu mesmo sanções para Portugal pelo facto de o nosso MNE ter feito tais declarações.

Como o acordo alcançado agora é unanimemente reconhecido como muito favorável a Portugal, segundo o CMC e o LNT do Tugir, seria legítimo esperar daquele cronista um pedido de desculpas ao ministro, com a mesma publicidade com que o criticou.

Por prudência, eu aconselharia os escribas do Tugir a esperar sentados. Há muito que não se vê no Abrupto, ainda que intermitentemente, a independência que o seu autor gostava de alardear. Depois das causas de sentido negativo em que se notabilizou (Não à Constituição Europeia, Não ao Aeroporto da OTA, Não ao TGV), as energias deste Sansão da blogosfera estão viradas para a propaganda de Cavaco Silva, para muitos também uma anti-causa.

And the Oscar Goes To...

«Você quer comprar uma guerra por causa de catorze crucifixos?»

(Mario Soares no debate com Francisco Louçã)

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Exorcismos

Para alguns, ser de esquerda ou de direita pode ser um conceito relativo e conjuntural. Assim se explicou o voto favorável do PPD de Sá Carneiro na Constituição de 1976, “empenhada na transformação (da República) numa sociedade sem classes”, que tinha “por objectivo assegurar a transição para o socialismo” (artigos 1º e 2º).
Por essa altura muita gente ainda andava à procura do seu lugar na democracia, mas à medida que as águas se foram separando, muitos passaram da esquerda para a direita e outros fizeram o percurso inverso. No campo do maoismo houve as mudanças mais surpreendentes, com gente a ficar a meio caminho (v.g. Saldanha Sanches) e outros a fazerem cambalhotas completas, cedendo aos encantos do “inimigo capitalista” que diziam combater (v.g. Durão Barroso e José Pacheco Pereira). Nem sempre são benquistos nas hostes onde se acolhem, mas a sua vertente aguerrida, própria dos movimentos de onde provêm, compensam os vícios do livre pensamento que por vezes ainda os “atraiçoa”.

Vem isto a propósito do artigo de JPP transcrito no Abrupto, que retalha sem dó nem piedade Francisco Louça, alguém que se mantém fiel às ideias que tanta comichão agora causam aos trânsfugas citados.
O que Cavaco Silva não conseguiu numa hora de debate com o líder do BE tenta agora JPP com o seu artigo. Começa por estranhar a liberdade “concedida pelos jornalistas e pelos seus adversários” (sic) a Louçã o que terá permitido ao líder do BE expressar as suas ideias “sem baias”. A contrário, fica por esclarecer se JPP quis dizer que os outros candidatos têm baias ou não têm ideias.
Até a experiência política de Louçã, no entender de JPP só comparável à de Soares (81 anos) e Alegre (69 anos) que “têm a desvantagem de parecer mais velhos”, também conta negativamente. Francisco Louça tem 47 anos e, como diz Pacheco Pereira, “faz política profissional desde a adolescência, antes do 25 de Abril”, o que pelos vistos não foi impeditivo de se doutorar em Economia.

O facto de Francisco Louçã ter mais experiência política, não abona em favor da sensibilidade política de Cavaco Silva, que sendo muito mais velho e apesar de ter frequentado uma faculdade onde havia movimentações políticas e alguns professores eram conhecidos opositores do regime, só acordou para a democracia depois do 25 de Abril.

No debate entre ambos, os conhecimentos de Francisco Louçã chegaram para o embatucar. Isso foi tão evidente que até JPP concede que o debate correu “particularmente” bem ao líder do BE. Porém a sua liberdade de pensamento já não vai ao ponto de tirar a outra conclusão que se impunha: A de que esse debate correu “particularmente” mal a Cavaco Silva.

Embora não o assumindo, a intenção de JPP ao escrever este violento artigo, dirigido sobretudo aos apoiantes de Cavaco Silva, é atenuar a frustração causada pela humilhante derrota sofrida pelo seu candidato, à vista de todos os portugueses. Porém, a imagem de um Cavaco Silva, vencido no seu próprio terreno por um economista que não se assustou com os jargões que vinham aterrorizando o país, irá permanecer por muito tempo na memória dos que viram o debate.

As sequelas deixaram marcas e o artigo de JPP é um exorcismo para animar as hostes contagiadas pela palidez do seu candidato. Como um guru guiando as multidões ignaras, JPP aponta o cajado da maldição ao líder do BE e lança-lhe um anátema que tresanda a obscurantismo: “O mundo de Louça é obscuro para quem apenas o ouça a fazer grandes debates e para a maioria das audiências que o conhece apenas da televisão e da propaganda.” Rematando com este primor: “ouvi-lo pode ser mavioso, moderno e desempoeirado, mas tomá-lo à letra é sinistro”.
Sendo Pacheco Pereira um homem que vive da palavra, isto é surpreendente.
As tentativas de silenciamento não dão saúde à democracia.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

O primado da língua portuguesa

Segundo a LUSA, "o Ministério da Educação (ME) decidiu hoje manter a obrigatoriedade do exame nacional de Português em todos os cursos gerais do 12º ano, acolhendo assim a recomendação expressa no parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE)."
Quando toda a gente defende a qualificação dos portugueses como factor essencial do desenvolvimento do país, ninguém entendia porque se havia de baixar o nível de exigência na aprendizagem da língua que é a base de todo o conhecimento.

Eleições no reino da Babilónia

Hamurabi, que reinou na Babilónia (100 quilómetros a sul de Bagdad), foi o talvez primeiro governante a ter noção do Estado de Direito. São dele as primeiras leis escritas para regular a vida em sociedade (Código de Hamurabi). Lavradas na pedra, estavam expostas em lugares públicos para que ninguém pudesse invocar o seu desconhecimento.

Passados 4.000 anos, as medidas de segurança que rodeiam as eleições de hoje no Iraque provam que o Estado de Direito ainda não chegou à Mesopotâmia.

"Seriedade precisa-se"

"Não é aceitável que o mesmo partido que decidiu construir linhas de TGV por tudo quanto era canto venha agora protestar contra este investimento, enquanto no Porto um dos seus principais dirigentes se arma em presidente da Área Metrpolitana daquela cidade para protestar por não ter havido mais uma linha."
(O Jumento)

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Solidão urbana




By Patrícia

A "inocência" dos críticos da OTA e do TGV

"A mim preocupam-me muito mais as despesas improdutivas, como por exemplo, a compra dos submarinos, decidida pelo anterior governo sem estudos que os justificassem (e sem o alarido dos que agora contestam os referidos investimentos), uma abissal despesa pública literalmente afundada sem nenhuma necessidade nem proveito, salvo para os fornecedores estrangeiros, para as comissões dos intermediários nacionais e para a megalomania de alguns comandos militares."
(Vital Moreira, in Causa Nossa)

terça-feira, dezembro 13, 2005

O Exterminador da Califórnia


Depois de Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia, ter rejeitado o seu pedido de clemência, Stanley "Tookie" Williams foi executado esta manhã na prisão de San Quentin.

Autonomia irresponsável

O alargamento da autonomia é uma reivindicação sistemática das regiões autónomas e dos municípios. Em contrapartida, as preocupações com os respectivos custos são muito menos frequentes. Pelo contrário, a chantagem sobre o poder central para cobrir os défices autárquicos e regionais tornou-se rotina, chegando o impagável presidente da Madeira a agitar o fantasma da independência para ver as suas reivindicações satisfeitas.

Talvez tenham sido estes exemplos que influenciaram o meu voto desfavorável no referendo sobre a regionalização. De então para cá, os sintomas de corrupção acentuaram-se e a eternização dos mandatos dos respectivos presidentes é apenas a parte visível da deficiente democraticidade no funcionamento dos órgãos regionais e autárquicos. O coro dos autarcas contra a lei de limitação de mandatos deu para entender isso.

Soube-se recentemente que na Câmara de Setúbal havia conluio entre a gestão camarária e alguns funcionários com mais de 30 anos de serviço e menos de 65 de idade para a sua passagem à reforma. Para tanto bastava que os funcionários dessem faltas injustificadas garantindo a Câmara que os respectivos processos disciplinares culminariam no “castigo” da sua aposentação.

Segundo o Diário de Notícias, neste ano, 40 funcionários já teriam obtido a reforma por este método, estando previstos mais 21 para serem despachados na próxima reunião camarária.
A prática parece ser comum a outras autarquias, adianta o mesmo jornal.

Além de ser uma descarada violação da lei, que determinaria por si só a perda de mandato dos autarcas implicados, este caso revela ainda uma inqualificável insensibilidade pela indevida sobrecarga do orçamento Caixa geral de Aposentações que é suportada pelos impostos de todos nós.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

"Soares agredido e insultado por ex-combatente" (dos jornais)

“Se aquela boina tivesse andado na guerra, há muito que a traça a teria desfeito”, ocorreu-me ao ver o indivíduo que invectivava Mário Soares como um tresloucado.
O uso insígnias e distintivos militares por veteranos está longe de ser um atestado da coragem no campo de batalha. A coragem é discreta e não recorre ao insulto. Tem mais a ver com a cobardia.

Apoiado

"O imigrante que vem viver e trabalhar para a nossa terra não pode ser obrigado a seguir todos os hábitos nem a adoptar todos os valores entre nós prevalecentes. Mas tem o dever de não violar algumas regras essenciais do nosso convívio social.
Transigir aí, em nome do politicamente correcto ou de outra moda qualquer, só traz problemas para o futuro. Por muito multiculturais que sejam - e serão cada vez mais - as nossas sociedades."

domingo, dezembro 11, 2005

Divergências e convergências

Se todos entendemos a razão porque os aficionados de Cavaco Silva classificam de circos e touradas os debates que se afastem do modelo soporífero que convém ao seu candidato, menos compreensivo foi o gáudio dos apoiantes de Manuel Alegre pelo comportamento dócil e subalternizado do poeta, quando enfrentou o professor.
Não seria preciso ter havido sangue e lutas de galos para haver debate político, como sugere Vicente Jorge Silva que dá a cara pela candidatura de Alegre, mas a conversa foi tão cordata e convergente que ficou claro para todos os portugueses que nem Cavaco Silva nem Manuel Alegre vêem um no outro um adversário.
Por muito que os apoiantes de Manuel Alegre não se queiram confundir com lobos aos pulos, a simbiose foi tal que bastou o poeta soltar as trombetas da Pátria e insinuar o anti-federalismo europeu para congregar os votos dos nacionalistas desgostosos com as hesitações de Cavaco Silva.
O adversário comum encontrá-lo-ão nos debates com Mário Soares.

O pesadelo dos dias 11







Depois do 11 de Setembro e do 11 de Março, será que o 11 de Dezembro ficará na história pelas mesmas razões?

(foto Guardian)

sábado, dezembro 10, 2005

Imagens de Natal


By Patrícia

O seu a seu dono

Como nós, varios outros blogues fizeram eco do texto ontem publicitado pelo DN Online, atribuído a Francisco Sarsfield Cabral. Afinal o texto era de Vicente Jorge Silva que hoje volta ao mesmo tema e esclarece o erro de paginação.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

"Cultura de irresponsabilidade e impunidade corporativa"

A justiça é uma área onde as competências do Presidente têm alguma expressão, mas tanto o actual presidente como os candidatos à sua substituição parecem atacados de paralisia quando são forçados a pronunciar-se sobre o assunto. Aliás, as falinhas mansas de Jorge Sampaio no último Congresso dos Juízes lembraram a actuação de Pilatos na condenação de Cristo, tendo mesmo sido citado pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça para justificar o sua inenarrável intervenção.

A leitura do artigo de Francisco Sarsfield Cabral no DN Online, que abaixo se transcreve, deveria ajudá-los a perceber que "a cultura de irresponsabilidade e impunidade corporativa" que campeia na justiça é uma grave ameaça ao estado de direito que o Presidente da República tem obrigação de defender.

"Os efeitos arrasadores que o caso Casa Pia tem tido na credibilidade do sistema judicial foram esta semana agravados com dois novos episódios as impensáveis declarações do procurador-geral da República (PGR) e a sintomática decisão do Conselho Superior da Magistratura (CSM) de arquivar o processo contra o ex-director da PJ, Adelino Salvado, por violação do segredo de justiça em confidências telefónicas a um jornalista do Correio da Manhã.
Souto Moura foi ainda mais longe na sua proverbial insensatez, depois de o Tribunal da Relação ter decidido não levar a julgamento Paulo Pedroso e outros arguidos do caso Casa Pia. O PGR afirmou que a "investigação não foi a ideal", não por causa de erros graves de quem a conduziu mas devido às "resistências de todos os lados". E, não contente com isso, permitiu-se exigir ainda que lhe demonstrassem o fundamento da teoria da "cabala", invertendo assim o ónus da prova e as responsabilidades da investigação. Assim vai o Estado de direito.
As instituições judiciais vivem num mundo fechado sobre si mesmo, bloqueadas por uma cultura de irresponsabilidade e impunidade corporativa que desaconselha a autocrítica e auto-regulação dos erros, arbitrariedades e abusos cometidos pelos seus membros. Por isso, quando o Tribunal da Relação põe em causa os resultados de uma investigação, o PGR apressa-se a absolver os seus subordinados de qualquer falha comprometedora e a chutar a bola para canto. Por isso, também, quando são públicas e notórias as inconfidências de um magistrado que dirigiu a PJ, lançando suspeitas graves sobre dirigentes políticos e violando o segredo de justiça, o CSM limita-se a arquivar o caso. É incontestável que sem independência da justiça não existe Estado de direito. Mas haverá Estado de direito onde a justiça é o único sector da vida nacional que não é sancionável - pelos outros ou por si mesma?"

quinta-feira, dezembro 08, 2005

"un caso sin precedentes"

Pode chamar-se caçador a quem mata animais enjaulados?
Pois era mais ou menos isso que acontecia numa herdade (finca) em Monterrubio de la Serena (Badajoz), onde os tigres, lobos e leões eram mortos à saída das jaulas.

Por isso, pelas cabeças que guardavam como troféu e pelas fotografias da praxe, os caçadores – espanhóis, “ italianos y portugueses de mucho dinero” segundo o El País – pagavam 24.000 euros se fosse um lobo e 36.000 se fosse um tigre ou um leão.

As autoridades espanholas, que entretanto prenderam o dono da herdade e alguns caçadores que acabavam de matar um tigre, libertaram um leão e um tigre que esperavam a sua vez e descobriam os restos mortais de outras espécies protegidas.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

A guerra do Iraque vista pelos árabes

Resultados de uma sondagem feita em alguns países árabes (Jordânia, Líbano, Marrocos, Arábia Saudita, Egipto e Emiratos Árabes Unidos).

Questão: “Acredita que os Estados Unidos têm por objectivo contribuir para a difusão da democracia no Médio Oriente, especialmente desde a guerra do Iraque?”

Respostas:
6% Acreditam que a democracia é um objectivo importante
16% Acreditam que a democracia é um objectivo importante mas os USA escolheram o caminho errado.
69% Não acreditam que a democracia seja o objectivo real dos USA.

Questão: “A guerra do Iraque trouxe mais ou menos paz ao Médio Oriente?”
Respostas:
6% Mais paz
12% Indiferente
81% Menos paz

Questão: “A guerra do Iraque trouxe mais ou menos terrorismo?”
Respostas:
10% Menos terrorismo
11% Indiferente
78% Mais terrorismo

Questão: “A guerra do Iraque trouxe mais ou menos democracia?”
Respostas:
9% Mais democracia
29% Indiferente
58% Menos democracia

Questão: “A maioria da população do Iraque está agora melhor ou pior do que antes da guerra?”
Respostas:
6% Melhor
13% Na mesma, nem melhor nem pior
77% Pior


Quanto aos objectivos dos Estados Unidos para a guerra do Iraque (Controle sobre o petróleo, protecção do Estado de Israel, promover a paz no Médio Oriente, difundir a democracia, difundir o respeito pelos direitos humanos, domínio sobre a região, prevenção contra o uso de armas de destruição em massa, enfraquecimento do Islão), os mais votados foram o controle sobre o petróleo, a protecção do Estado de Israel e o enfraquecimento do Islão, por esta ordem.


Com a devida vénia ao “Margens de erro”, a sondagem pode ser consultada aqui e inclui também questões sobre o Irão.

Bolas à trave

Segundo um "imparcial" comentador do Pulo do Lobo, só “as pessoas que apreciam circo e touradas não gostaram do debate entre Cavaco e Alegre”.
Embora admita que “faltou ali o "hardcore" que só Louçã e, no seu melhor e pior, Soares, podem dar”, reconhece também que o debate não terá agradado às “donas de casa despreocupadas” habituadas aos reality shows, nem aos “intelectuais agarrados à sua cartilha habitual”.

Dando de barato o desprezo do comentador daquele blogue de campanha por donas de casa, intelectuais, circo e touradas, a verdade é que só um verdadeiro aficionado, cego pelo brilho do verniz softcore de Cavaco Silva, não se apercebeu do bocejo nacional que o debate provocou.

De nada vale atirar as culpas para cima de “um povo paradoxal e difícil de governar”, que quer “o mesmo e o seu contrário”. Por muito que isso doa, a sonolência foi mesmo provocada pela “pasmaceira e o embaraço de ideias” dos “2 lindos meninos”, como diz o Almocreve.

Imagens de Natal


By Patrícia

terça-feira, dezembro 06, 2005

Sociedade virtual

Há blogues para todos os gostos: informativos, políticos, cultos, ignorantes, gays, machistas, feministas, de esquerda, de direita, intelectuais, críticos, alinhados, corporativos, liberais, sexuais, assexuados, originais, plagiadores, provocadores, consensuais, controversos, artísticos, literários, temáticos, generalistas, simplistas, arrevesados, católicos, agnósticos, ateus, polemistas, seguidores, propagandistas, independentes, colectivos, solitários, sonhadores, intimistas, extrovertidos, tolerantes, radicais, extravagantes, irresponsáveis, comprometidos, conservadores, revolucionários…

Parecem muitos, mas os frequentadores da blogosfera são ainda uma franja muito restrita da sociedade.

Cavaco Silva - Manuel Alegre

Um frente a frente de braço dado.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Frente a frente


A partir de hoje, a campanha presidencial ganha novo interesse com os candidatos a encontrarem-se nas televisões.
Esperamos que não se limitem aos slogans de campanha que têm vindo a repetir.
Que haja debate.

Pior é impossivel

"Obviamente que quem faz o resultado dos debates não são os candidatos, mas sim os analistas e comentadores, e até as sondagens posteriores, mas mesmo isso ficará esquecido a 22 de Janeiro, quando os eleitores forem votar. Os debates são um mito, e uma liturgia, mas dali não vem nenhum milagre de multiplicação de votos."
(Luís delgado, Diario Digital)

domingo, dezembro 04, 2005

Quase


By Patrícia

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
(Mário de Sá-Carneiro)

Dos Jornais

Cavaco não quer os líderes do PSD e do CDS-PP na campanha para as presidenciais.
A direita portuguesa sempre preferiu os chefes aos partidos.

sábado, dezembro 03, 2005

Diálogos improváveis

- Porque governou mais tempo, os seus adversários consideram-no responsável pelo descalabro económico do país.
- Respeito muito os meus adversários. Está tudo na minha autobiografia.
- O senhor diz que se afastou a vida partidária mas nunca deixou de interferir no partido. Até o culpam da derrota do Dr. Nogueira.
- Dei-lhe todo o apoio. Está tudo na minha autobiografia.
– O senhor também é acusado de ter desperdiçado os fundos comunitários sem ter feito qualquer reforma estrutural.
- Fiz a reforma da Administração Pública.
- É por isso que o professor do Porto lhe chama o pai do monstro?
- Não! Está tudo na minha autobiografia.

“C’est pas beau, ça ”?

Ainda a propósito de liberalismo, o meu amigo Victor Hugo de Castro manda-nos de Paris duas amostras:
“ – Três gigantes da indústria de telecomunicações francesa (Orange, SFR e Bouygues) acabam de ser multados em 534 milhões de euros, por terem iludido o público consumidor com práticas de falsa concorrência – repartiram o mercado entre eles e combinaram as tarifas;
– no site alemão «Jobdumping.de» e no seu homólogo francês «Jobdealer.net» são propostos empregos em leilão invertido, ou seja, com um salário a partir do qual os candidatos podem começar a baixar, ganhando o que aceitar o salário mais baixo.
“C’est pas beau, ça ”?
Mundo cão!

( comentário completo ali em baixo)

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Quieta solidão




By Patrícia











No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

(Sofia de Melllo Breyner)

Um jardim à beira-mar plantado

Portugal é o pior emissor de gases!

A devassa

"Eu, por exemplo, parto do princípio, hoje como no tempo da PIDE, de que o meu telefone está sob escuta. Não porque seja suspeito de qualquer crime ou tenha qualquer lição de ética a receber da polícia ou do Ministério Público. Mas apenas porque eu, pelo meu lado, suspeito que o que era fatal que acontecesse qualquer dia está a acontecer: as escutas tornaram-se também um instrumento político nas mãos das corporações judiciais. Escutam-se não apenas os suspeitos de crimes, mas também os políticos que podem contrariar as posições e interesses dos magistrados, os jornalistas que os podem comprometer, os fazedores de opinião que os possam contradizer. Se dúvidas houvesse, o recente episódio em que escutas telefónicas feitas a dirigentes do PS e do PP, e cujo tema era a demissão do procurador-geral da República, foram feitas, prosseguidas, transcritas, arquivadas em processo (como se de crime se tratasse!), e posteriormente enviadas para publicação num jornal, são a prova cabal do uso da devassa telefónica como arma de chantagem política."
(Miguel Sousa Tavares, no Público, via Abrupto)

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Arrogância




De há uns tempos a esta parte, este vocábulo tem sido dos mais utilizados no combate político.

Contra Sócrates porque não cede às corporações, contra Cavaco Silva porque fala pouco, contra Mário Soares porque fala demais.

O seu uso abusivo revela a falta de argumentos para discutir o essencial.
A isto chama-se fulanização.