"A direita já apresentou o seu caso. Durante quase um mês argumentou, exorbitou, rangeu os dentes, quase levou o Presidente da República a enveredar pelo caminho muito sensível de rejeitar uma solução com apoio maioritário no Parlamento. Ontem levou a votos a moção de rejeição, que naturalmente ficou pelo caminho pela força dos votos da esquerda, mas agora é tempo de arrepiar caminho.
A solução Costa pode não agradar a todos – e seguramente não agrada a uma fatia considerável dos portugueses –, mas a verdade é que entrámos no clube da normalidade democrática, com a formação dos governos abrangendo toda a amplitude da geografia política eleitoral, proporcionando equipas de geometria variável e acordos à la carte.
Passámos de uma democracia refém dos arranjos entre três partidos, para uma democracia de representação parlamentar aberta o que, convenhamos, significa um salto na qualidade da cultura política. Esta é, há muitos anos, a prática vigente em muitas das democracias mais avançadas da Europa, sem que tal signifique um atropelo ao Estado de Direito.
O corte abrupto com a “tradição” justificou uma reacção inicial agastada por parte da coligação, mas tanto ressentimento já cansa. A direita continua presa numa teia de vitimização que lhe tolda qualquer vislumbre de futuro, incapaz de agir ou de ter qualquer papel e influência na definição de políticas para o país."