Manter a funcionar escolas sem a quantidade de alunos que proporcione condições de escolaridade não é de todo aconselhável e devia ser proibido. Em tese, ninguém discorda, mas na prática só este governo, e esta ministra de educação, tiveram a coragem de enfrentar esta situação, apesar de o diagnóstico ser conhecido há muitos anos.
Razões eleitoralistas, populismo, cedências de todo o tipo a lóbies e interesses corporativos, com destaque para autarcas e professores, e, sobretudo, a manifesta falta de coragem da generalidade dos políticos, tiveram como efeito o descalabro do ensino e o agravamento do insucesso e escolar.
A degradação a que chegou a qualidade do ensino público obrigatório não se afere apenas pela ignorância dos jovens que abandonam a escola antes de o completar. O nível terceiro-mundista a que desceu o nosso ensino é ainda mais visível na pobreza escolar demonstrada pelos que o conseguem terminar.
Por isso os que invocam a desertificação do interior, tentando impedir o fecho de escolas inviáveis, são os piores inimigos desse mesmo interior, porque a ignorância é o seu maior flagelo e uma das causas da sua desertificação.
Em Riba-Côa não há Invernos amenos e, nessas terras, muito boa gente, dos sete aos onze anos, andava dez quilómetros por dia, para ir à escola. Era vê-los, pobremente vestidos, aos grupos ou isolados, fintando o frio, por veredas e estradas de macadame.
Certamente que essas crianças gostariam de ter cantinas e transportes escolares, como as de agora, mas, nesse tempo, era um luxo andar de carro e enganava-se a fome com a merenda que as mães ensanduichavam na gramática.