Já se sabia: afastado Passos Coelho da liderança do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa não resistiu a interferir na sua substituição e convidou Santana Lopes para almoçar, uma iniciativa que beneficiou este candidato a presidente do PSD, esquecendo outros. Atendendo ao cargo que ocupa, a interferência do presidente nas eleições do seu partido não lhe fica nada bem, mas a invasão das competências de outros órgãos de soberania é muito pior.
Até ontem tinha evitado comprometer-se com a estratégia da direita para atacar o governo usando os incêndios como argumento, mas finalmente deixou cair a máscara que tão bons frutos lhe tem granjeado e veio incentivar a apresentação de moções de censura no parlamento, brandindo a ameaça da dissolução da Assembleia da República.
E, no entanto, entre as ameaças não se lembrou de referir que foram ateados 522 (quinhentos e vinte e dois) fogos florestais numa única noite... Faça as contas, presidente, pois não há bombeiros que cheguem para tanto fogo.
A um presidente da República não compete mandar recados ao parlamento nem remodelar o governo. Compete-lhe nomear o primeiro-ministro designado pela Assembleia da República.
Um presidente da república que questiona o apoio do parlamento ao governo, põe em causa a constituição, o que num professor de Direito Constitucional é crime agravado.
Os fogos florestais foram uma tragédia para o país. Usá-los para criar uma crise política em favor dos partidos de direita não ajuda as vítimas e vai atrasar a necessária recuperação das áreas afectadas, das empresas e dos postos de trabalho perdidos.
Infelizmente no próximo ano vai haver mais incêndios. Basta olhar para a nossa floresta a norte do Tejo para concluir que, fatalmente, "aquilo só pode arder". Enxergue-se, presidente, o país que tem é este: desorganizado, sem recursos e sem disciplina.
Solidarizar-se com as vítimas não pressupõe romarias semanais às regiões afectadas para aparecer na televisão. Já não é comentador semanal, é presidente. Comporte-se!